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A Belém imaginária que resiste ao tempo

Na Belém dos tempos em que ainda não havia chegado sequer televisão, passeavam pelo imaginário do povo belenense as visagens e assombrações que cruzaram gerações através das histórias contadas, à noite, nas portas das casas. Diante de uma cidade tranquila

Na Belém dos tempos em que ainda não havia chegado sequer televisão, passeavam pelo imaginário do povo belenense as visagens e assombrações que cruzaram gerações através das histórias contadas, à noite, nas portas das casas. Diante de uma cidade tranquila e sem grandes programações noturnas, os casos narrados na época davam conta de fantasmas que passeavam de táxi pela cidade, perambulavam próximo a igarapés e até mesmo rezavam diante de cruzeiros. São crendices que permanecem vivas e que ajudam a contar parte dos 402 anos de história da cidade das mangueiras.

A história de Josephina Conte, a moça do táxi, é contada até hoje (Foto: Ricardo Amanajás)

Em um dos corredores principais do Cemitério de Santa Izabel, no bairro do Guamá, o nome grafado no mármore da sepultura retilínea é apenas o de Josephina Conte, jovem que morreu aos 16 anos de idade. Para muita gente, porém, o túmulo é onde repousa a famosa ‘Moça do Táxi’.

O conto diz que por volta de 22h de certa noite, em Belém, um taxista pegou uma passageira na avenida Independência que pediu para seguir até a avenida José Bonifácio, em frente ao cemitério de Santa Izabel. Ao chegar no local, a passageira pediu que, na manhã seguinte, o taxista se dirigisse ao endereço da família – anotado em um papel - para que recebesse pela corrida.

Quando chegava no dia e endereço marcado para cobrar o serviço, o taxista era informado que a moça a que ele se referia – reconhecida pelo motorista através de um retrato – já havia falecido. A passageira em questão seria Josephina Conte.

SUPERSTIÇÕES

Funcionário do cemitério já há 16 anos, o coveiro João Batista, 56 anos, já perdeu as contas de quantas vezes ouviu tal narrativa. Desde quando iniciou as atividades no local, pessoas se dirigem à sepultura em busca de mais informações sobre a ‘Moça do Táxi’ – muitos chegam a acender velas e agradecer por graças alcançadas. Para ele, porém, a crendice perpetuada por gerações não passa de superstição. “Isso é lenda mesmo. Eu nunca vi nenhuma visagem aqui no cemitério”.

Sem nunca ter visto nenhuma moça com as características de Josephina circulando pelo entorno do cemitério, o autônomo Valber Bastos, 44 anos, também não acredita na veracidade da história, mas lembra que até hoje ela é motivo de comentários. Durante os 25 anos em que trabalha com a venda de flores na entrada do cemitério, ele conta apenas um caso que o deixou intrigado. “Eu vi uma loura sair 2h do cemitério e quando ela passou da última barraca de flores, eu não a vi mais”, lembra. “Mas isso é raro. Prefiro acreditar que era alguma esposa que veio visitar um dos vendedores que trabalhavam aqui à noite”.

"Basta ir aos cemitérios da Soledade e Santa Izabel às segundas-feiras para ver como o túmulo do médico Camilo Salgado e da Josephina ficam cheios de velas”.
Walcyr Monteiro, Escritor (Foto: Ricardo Amanajás)

OUTROS CONTOS

O ESTRANHO CASO DO DR. X

Conta a história de um médico que viveu em Belém nos tempos áureos da borracha e que, em determinada noite, foi acordado por um homem que bateu a sua porta pedindo ajuda para realização de um parto. A história que segue é recheada por mistérios tanto no que diz respeito às pessoas a quem ajudou, quanto ao local para onde foi levado com vendas nos olhos – um quarto luxuoso decorado no estilo do século XVII.

O IGARAPÉ DAS ALMAS

O chamado “igarapé das almas” ficava onde hoje se encontra o canal da avenida Visconde de Souza Franco. Muitas das histórias de visagens contadas antigamente em Belém têm o local como cenário. O igarapé recebeu este nome depois que pessoas relataram ter visto fantasmas de cabanos – pessoas que lutaram durante a Cabanagem – que procuravam pelas armas que teriam escondido no local ainda em vida.

Na história “A Porca do Reduto”, também era para o igarapé que corria uma porca que surgia e sumia misteriosamente depois de circular pelo bairro.

NOIVADO SOBRENATURAL

Conta a história de um rapaz que, durante uma noite de tempestade, conhece uma moça e a pede em noivado. O homem descobre, porém, que a moça em questão já havia morrido: ele encontrou a aliança dada à mulher diante da lápide que indicava a data da morte em 1918.

Fonte: Visagens e Assombrações de Belém – Walcyr Monteiro.

PARA ENTENDER

As histórias narradas no livro ‘Visagens e Assombrações de Belém’ foram coletadas por Walcyr Monteiro entre os anos de 1969 e 1972

Cruzeiro, no Telégrafo, local onde apareceria um padre sem cabeça (Foto: Wagner Santana)

Livro com histórias de visagens da capital paraense faz sucesso até hoje

Em outro bairro de Belém, desta vez no Telégrafo, a noite também costuma guardar histórias de fantasmas. No final da rua Curuçá, um cruzeiro é o ponto-chave para uma famosa aparição, a do “Padre Sem Cabeça”.

Morador das proximidades da Praça do Cruzeiro há 40 anos, o autônomo Roberto Carlos Correia, 55 anos, conta a história repetida desde a sua época de infância. “O que dizem é que um dos moradores mais antigos daqui, o Zé Bezerra, chegava do trabalho sempre tarde da noite e um dia ele viu um padre só com a batina rezando em frente à cruz”, explica. “Quando ele chegou perto viu que o tal padre não tinha cabeça”.

Desde então, outras pessoas disseram também ter visto o fantasma. Apesar de considerar que a história era contada pelos pais com o objetivo de amedrontar as crianças a fim de que não ficassem na rua à noite, Roberto Carlos não descarta totalmente a possibilidade de a história ser verdadeira. “Como foi um morador antigo que contou, a gente acredita, né?”, sorri.

Encarando a história com bom humor, o também morador do bairro, o técnico em contabilidade Oswaldo Rodrigues Filho, 66 anos, lembra com saudade da época em que era possível sentar na porta de casa para ouvir tais narrativas. “Hoje em dia essas histórias estão se perdendo, infelizmente. Naquela época é que era bom porque a gente podia contar esses casos e ficar imaginando”.

REGISTRO

Preocupado justamente em não deixar histórias tão ricas se perderem no tempo, o escritor Walcyr Monteiro, hoje com 77 anos, registrou-as pela primeira vez, ainda em 1972, em publicações individuais no extinto jornal “A Província do Pará”. A repercussão dos contos foi tão grande que as 25 histórias foram reunidas no livro “Visagens e Assombrações de Belém”, com primeira edição lançada em 1986.

Passados 32 anos o livro já se encontra na terceira tiragem da 7ª edição e até hoje atiça a curiosidade das várias gerações de moradores de Belém. Para Walcyr, os casos de visagens e assombrações que circulam por diferentes bairros da cidade continuam vivos no imaginário da população. “Basta ir aos cemitérios da Soledade e Santa Izabel às segundas-feiras para ver como o túmulo do médico Camilo Salgado e da Josephina ficam cheios de velas”.

Walcyr faz questão de ressaltar que nenhuma das histórias contidas no livro foi inventada por ele. Cada uma delas era contada pela própria população da cidade. Dentre as publicadas, ele destaca “O Estranho Caso do Dr. X” como a mais antiga, tendo se passado, segundo a lenda, ainda no início do século XX.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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