O Dia Nacional do Patrimônio Histórico é comemorado nesta segunda-feira (17). A data foi escolhida como homenagem ao jornalista e historiador mineiro Rodrigo Melo Franco de Andrade, primeiro presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em Belém, existem cerca de 5 mil imóveis tombados em Belém (e outros 500 com interesse de preservação), incluindo casarões, conjuntos paisagísticos e urbanísticos, entre outros, que ajudam a contar uma parte importante da história da cidade, seu povo e seus costumes.
Em uma visita por esses espaços é possível perceber, nos detalhes, construções ricas em afeto, memórias e história, contrastando, na maioria das vezes, com o estado de abandonado, descaso e a falta de manutenção ao longo dos anos desses locais. Essa situação se reflete não apenas no bairro da Cidade Velha, onde está a maior parte da área tombada, mas em praticamente todo o acervo arquitetônico, cultural, histórico e artístico da capital paraense.
Um exemplo disso, é a situação em que se encontra o antigo Convento dos Mercedários, considerada uma das edificações mais importantes da cidade do século XVIII, onde estão o antigo prédio da Alfandega e a Igreja das Mercês. Sem reformas e reparos há décadas, o local se encontra em uma situação bem complicada. Existem rachaduras visíveis em várias partes da construção, a vegetação vem tomando conta do telhado e a pintura está totalmente descascada, entre outros problemas graves. Cedido à Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2018, o local ainda espera por melhorias que ajudem a preservar uma parte tão importante da história da cidade.
Gerente administrativa de uma livraria e loja de artigos religiosos que funciona na parte lateral da Igreja das Mercês, na Rua Frutuoso Guimarães, Elizangela Santos ainda tem esperança de que as coisas mudem por lá. “Depois que a UFPA assumiu, começaram a falar em uma reforma que deve ocorrer entre 2021 e 2022. Espero que isso realmente aconteça, porque é muito triste ver um prédio como esse nessa situação de abandono”, diz ela, que trabalha no local há mais de duas décadas e garante que durante todo esse tempo nunca viu uma reforma de fato na construção.
Em situação difícil também está o centenário Coreto Central da Praça Batista Campos. A deterioração é visível em todo o espaço. O forro está caindo aos pedaços colocando em risco, inclusive quem frequenta o local. Há ainda pichações nas bases art noveau que sustentam o equipamento. A parte superior externa está coberta com mato e plantas além de corroída por ferrugem. Nem mesmo o piso escapa do abandono e já é possível ver algumas partes onde as peças de importância histórica e alto valor estético, foram arrancadas ou estão quebradas.
Mas é impossível não se encantar com a história paraense, também. Esse é o caso, por exemplo, do Theatro da Paz. Fundado em 15 de fevereiro de 1878, durante o período áureo do Ciclo da Borracha, quando ocorreu um grande crescimento econômico na região amazônica, ainda hoje é um dos patrimônios mais admirados por moradores e por quem visita à cidade. Localizado no centro da capital, se mantém imponente rodeado pela Praça da República.
Aos 32 anos e moradora de Belém, a administradora Elza Moreira aproveitou o último feriado (15 de agosto) para adentrar o espaço pela primeira vez, juntamente com a filha Ana Paula, de 5 anos. “Embora esse lugar faça parte da minha infância, porque meus pais costumavam me trazer bastante para essa praça quando eu era pequena e eu podia ficar admirando o teatro, nunca tinha entrado”, contou. “Sem dúvida é um dos lugares mais bonitos de Belém, assim como as igrejas e tantas outras construções que guardam a história da cidade”, disse.]
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COLETIVO
O historiador e professor Michel Pinho é um ferrenho defensor do patrimônio histórico da cidade e, tem feito a promoção de passeios monitorados pela cidade, que buscam conta um pouco da história desses lugares, para através do conhecimento, as pessoas possam se apropriar também e ajudar na conservação. “É muito importante que todos possam compreender que o trabalho de preservação deve ser coletivo, tanto do poder público, quanto da população em geral”, afirma.
Ele destaca ser fundamental conhecer para poder preservar. “Para celebrar verdadeiramente o Dia do Patrimônio Histórico é o importante conhecer e saber a importância dele para a cultura e para a identidade coletiva de uma população, por isso é essencial existir a educação patrimonial”, ressalta.
O professor lembra ainda que a capital vem perdendo intensamente nos últimos anos parte da sua riqueza histórica. “Já fomos a primeira cidade em número de casarios históricos, mas fomos perdendo com o tempo. Infelizmente, a Prefeitura recebeu verba para a preservação e conservação desse patrimônio, mas ela vem sendo gasto em obras eleitoreiras de fim de mandato”, denuncia.
Apesar do cenário difícil, o historiador se diz otimista. “Tenho percebido que as pessoas estão sim mais preocupadas com a questão da preservação do patrimônio da cidade e vêm manifestando isso, inclusive pelas redes sociais e posso dizer que ainda espero ver Belém transformada em uma cidade melhor”, finaliza.
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