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Uso de enxaguante bucal para combater coronavírus não tem comprovação científica

Diversas substâncias podem destruir um vírus pelo contato, mas a inativação não interfere na fonte do vírus

Imagem ilustrativa da notícia Uso de enxaguante bucal para combater coronavírus não tem comprovação científica camera Reprodução

Apesar de ter sido divulgado mundialmente, o uso de bochecho com antissépticos bucais contra o coronavírus Sars-CoV-2 não possui eficácia comprovada, segundo alguns estudos que foram divulgados recentemente.

Em maio deste ano um grupo de pesquisadores de Reino Unido, Espanha e Canadá publicou um dos primeiros textos a trazerem, em uma revista científica, a hipótese do uso dos enxaguantes bucais para reduzir a transmissão do patógeno.

No artigo de revisão de literatura, publicado no periódico Function, ligado à Sociedade Fisiológica Americana (APS), os autores argumentam que, devido à concentração de substâncias como álcool, clorexidina e peróxido de hidrogênio (água oxigenada), a formulação de alguns produtos disponíveis no mercado teria o potencial de romper o envelope que envolve o vírus e, assim, destruí-lo.

Dando um passo adiante, pesquisadores da Alemanha divulgaram em julho os resultados de um experimento no qual usaram alguns enxaguantes bucais para inativar o novo coronavírus in vitro, em uma cultura de células em laboratório que imitava as secreções nasais. Os cientistas concluíram que os produtos foram, em intensidades diferentes, capazes de destruir o vírus. Os dados foram publicados na revista científica The Journal of Infectious Diseases.

Mas testes in vitro são apenas o início de uma pesquisa científica e estão entre as evidências científicas mais fracas, segundo cientistas.

Os estudos com esses produtos precisam avançar para a pesquisa clínica, feita em humanos. Uma infinidade de substâncias pode destruir um vírus pelo contato, fricção ou imersão, mas essa inativação não interfere na fonte do vírus – nossas próprias células infectadas –, de acordo com Lusiane Borges, dentista e biomédica especializada em microbiologia.

"O vírus invade as células e faz delas escravas para que produzam mais cópias deles mesmos. Em questão de segundos, podemos ter milhares de novos vírus. Um bochecho com o produto pode fazer diminuir a quantidade de vírus naquele momento, mas, quando a substância não está mais presente, as glândulas salivares infectadas voltam a despejar novos vírus na boca com a saliva secretada", explica Borges. "É como uma fábrica de vírus."

Para Karem López Ortega, dentista e professora da Faculdade de Odontologia da USP (Fousp), ainda que algum produto comprove a eficácia para eliminar os vírus da saliva de maneira mais prolongada, é improvável que ele seja capaz de evitar a progressão da doença.

"A higiene bucal pode eliminar a saliva contaminada, mas os vírus já estão no interior das células e se espalham para outras partes do corpo, como pulmão e intestino. A saliva não é a fonte, é o corpo infectado que contamina a saliva", diz Ortega.

O Sars-CoV-2 é um vírus respiratório e, segundo Ortega, ainda que ele possa infectar a boca e ser expelido na saliva, a maior afinidade do patógeno é com o pulmão.

Até o momento, não houve a publicação de nenhum estudo clínico que comprove a eficácia dos produtos para barrar a contaminação ou o avanço da doença, embora alguns cientistas concordem que uma inativação momentânea do patógeno na região da boca seja possível, o que poderia ter algum impacto para diminuir o potencial de transmissão de uma pessoa infectada.

Via de regra, a comunidade científica internacional aceita os resultados após uma publicação do tipo, pois permite que os dados sejam revisados e contestados por outros pesquisadores especialistas no assunto.

A Colgate afirma que alguns de seus produtos, como os cremes dentais que contêm zinco ou fluoreto estanoso e os enxaguantes bucais com CPC (cloreto de cetilpiridínio) na formulação, neutralizam o Sars-CoV-2. Segundo a m, os resultados foram obtidos de estudos de laboratório feitos em parceria com a Escola de Medicina Rutgers, de Nova Jersey (EUA).

Por outro lado, a Listerine, fabricante de enxaguantes bucais, afirma em sua página de internet que seus produtos não são indicados para prevenção ou tratamento contra o novo coronavírus. A empresa afirma que não foram testados para eliminar o vírus.

A brasileira Dentalclean lançou um enxaguante bucal antiviral nesta semana. De acordo com o material de divulgação da empresa, uma tecnologia usada na formulação do produto é capaz de inativar mais de 96% dos vírus na boca. Uma equipe de pesquisadores brasileiros investiga o uso do antisséptico da marca para conter o avanço da Covid-19 nos doentes e prevenir a infecção.

Segundo Paulo Sérgio da Silva Campos, professor da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), que participa dos estudos, dados preliminares de um estudo clínico randomizado e triplo-cego (quando participantes, pesquisadores e estatísticos não sabem qual é o grupo-controle e qual é o grupo-teste) realizado com 40 pacientes que foram internados com sintomas leves a moderados da Covid-19 apontam que o enxaguante ajuda a reduzir os sintomas e diminuir o tempo de hospitalização.

De acordo com o dentista, o produto poderia agir para evitar que o vírus se espalhe por partes do corpo ainda não contaminadas e que são críticas para um agravamento da doença, como é o caso do pulmão.

Os pacientes usaram o produto por quatro dias a partir do início dos sintomas, em bochechos e gargarejos de um minuto realizados cinco vezes por dia. Os resultados do estudo ainda não foram publicados em nenhuma revista científica. A Colgate também não publicou até o momento seus dados em periódicos da área.

Para a dentista e microbiologista Lusiane Borges, a divulgação precoce de dados preliminares pode gerar a falsa sensação de segurança que coloca pessoas em risco. "É o risco de banalização. A pessoa pode pensar que um bochecho vai proteger e ir para a balada que vai ficar tudo bem", diz.

Mesmo assim, a circulação de publicações nas redes sociais que dão a entender que o uso dos produtos podem ser uma solução para prevenção e tratamento da doença tem crescido significativamente nos últimos dias.

Gengivite deve ser considerada fator de risco para a Covid-19, alertam dentistas Em artigo publicado em junho na revista científica Medical Hypotheses, um grupo de pesquisadores mexicanos defende que a doença periodontal, um estado de inflamação da gengiva, que inclui a gengivite e sangramentos na região, deve ser considerada como fator de risco para o agravamento da Covid-19.

Fatores inflamatórios e comorbidades, como diabetes e obesidade, indicam um maior risco de complicações nos infectados pelo Sars-CoV-2. Assim, os cientistas afirmam que a condição da doença periodontal no paciente pode indicar quem tem chances de piora no quadro clínico.

De acordo com a dentista e microbiologista Lusiane Borges, um cuidado redobrado da higiene bucal, com uso de fio dental e escovação correta, é ainda mais importante durante a pandemia. "A doença periodontal é uma comorbidade e está associada a diversos processos inflamatórios no corpo. Controlar essa condição é como controlar o diabetes ou a obesidade e evitar maiores complicações no caso de uma infecção", afirma.

Uma das principais consequências da forma mais grave da Covid-19 é a chamada tempestade de citocinas, a liberação de substâncias inflamatórias para combater o vírus que acaba prejudicando o próprio corpo. Assim, segundo Borges, a doença periodontal poderia colaborar para a sobrecarga de inflamação no corpo.

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