O presidente Jair Bolsonaro decidiu convidar uma
representante indígena para compor a comitiva que o acompanhará em Nova York
para a abertura da Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (24).
Ysani Kalapalo, moradora de aldeia no Parque Indígena do Xingu,
é pró-Bolsonaro e defende o discurso do governo de que há notícias falsas sobre
a abrangência do desmatamento e queimada na Amazônia. Ainda não se sabe se ela
aceitará o convite.
Em meio à crise da floresta -com repercussão internacional-
o presidente faz um movimento alegórico para tentar refutar a ideia de que
conduz uma política negligente em relação ao meio ambiente, prejudicando a
floresta e a população da região, inclusive indígenas.
Durante a cúpula da ONU, uma das principais organizações
multilaterais do mundo, líderes, empresários e investidores estarão com olhos
voltados para a maneira como o Brasil conduz a crise, agravada com o aumento de
queimadas e desmatamento da floresta.
O governo Bolsonaro minimiza o tamanho dos incêndios, afirma
que eles estão na média dos últimos 20 anos e insiste no discurso de que o
desenvolvimento sustentável não exclui as atividades econômicas que poderiam,
na avaliação do Planalto, ajudar a população local.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
porém, mostram que o desmatamento na Amazônia aumentou 222% em agosto deste ano
em comparação com o mesmo período em 2018. Os índices são corroborados pela
Nasa, a agência espacial americana.
Bolsonaro tem tomado diversas medidas de flexibilização e
afrouxamento de mecanismos de fiscalização ambiental.
Convidar uma indígena para integrar a comitiva presidencial
aos EUA é mais um movimento do governo para tentar acalmar os ânimos fora do
país.
Nesta semana, por exemplo, o ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, viajou a Washington para reunião com investidores e entrevistas
a veículos da imprensa estrangeira.
Sua mensagem foi que é possível desenvolver a região de
maneira sustentável com atividade econômica.
O ministro minimizou ainda as notícias de que fundos de
investimento têm cobrado ações do governo brasileiro sobre a preservação da
floresta e disse que vários outros deles apoiam Bolsonaro.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, 230 fundos de
investimento -que juntos administram cerca de US$ 16 trilhões (R$ 65 trilhões)-
pediram ao Brasil que adote medidas eficazes para proteger a região da
floresta.
As queimadas têm atrasado ainda mais a aposta dos donos do
dinheiro no país.
Analistas afirmam que, nas últimas semanas, dúvidas sobre as
queimadas e o desmatamento na floresta -com repercussão internacional- estavam
presentes em pelo menos 70% das conversas com investidores nos EUA e na Europa.
Além da índia e de Salles, que segue para Nova York no
sábado (21), estarão na comitiva do presidente seu filho, Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP), o chanceler Ernesto Araújo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, o presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho
Trad (PSD-MS), o assessor para assuntos internacionais da Presidência, Filipe
Martins, o porta-voz e o chefe da Secretaria de Comunicação do Planalto.
Bolsonaro chega aos EUA na segunda-feira (23), um dia antes
de seu discurso de abertura da Assembleia Geral.
Ainda em recuperação da cirurgia que corrigiu uma hérnia
decorrente da facada que levou no ano passado, o presidente terá uma agenda
reduzida e deve acompanhar a primeira-dama, Michelle, em um compromisso ligado
à área social. Ele deve se encontrar com Donald Trump para jantar enquanto
estiver em Nova York, até quarta-feira
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