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DE PÉ E DE FÉ

Admirador de Fidel e Che, Maradona morreu convicto com a esquerda

Maradona construiu uma rede de relações com importantes figuras políticas da América do Sul

Imagem ilustrativa da notícia Admirador
de Fidel e Che, Maradona morreu convicto com a esquerda camera Reprodução

Diego Armando Maradona tinha na perna esquerda uma tatuagem do ditador Fidel Castro. No braço direito, o rosto de Che Guevara, que ao lado de Fidel liderou a Revolução Cubana em 1959.

Mais do que marcas na pele, eram símbolos dos ideais que o ídolo argentino carregou até morrer, nesta quarta-feira (25), aos 60 anos de idade. Ele teve uma parada cardiorrespiratória enquanto se recuperava de cirurgia para tirar um hematoma da cabeça.

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"Sou completamente esquerdista: de pé, de fé e de cérebro", disse Maradona na década de 1990, depois de ter curiosamente apoiado a candidatura de Carlos Menem, um político populista e neoliberal, à presidência do país.

Menem, inclusive, foi convidado pelo jogador para a sua cerimônia de casamento com Claudia Villafañe, sua primeira esposa e mãe das filhas Dalma e Giannina.

Era uma ação calculada. O campeão do mundo participou de uma campanha anti-drogas, quando já se sabia que ele tinha problemas com ela, em uma tentativa de limpar em parte a sua imagem pública na época.

Apesar de apoiar o candidato, Maradona pontuou: "Sou peronista, não menemista."

A controvérsia entre sua crença, forjada principalmente pela origem popular no bairro de Villa Fiorito, e o empréstimo de sua imagem a diferentes figuras políticas da Argentina, foi um traço da montanha-russa que marcou a carreira de Diego Maradona como jogador de futebol.

Um aspecto de sua personalidade que se dissipou com a aposentadoria dos gramados, quando passou a adotar posições mais contundentes de apoio a políticos de esquerda.

Em 1979, logo após a seleção juvenil conquistar o Mundial da categoria, no Japão, a produção de uma rádio colocou o camisa 10, grande nome da campanha vitoriosa dos sul-americanos no torneio, em contato telefônico com o ditador Jorge Rafael Videla.

O general comandava a ditadura militar, que durou de 1976 e 1983 e prendeu e matou adversários políticos.

O regime surfou no sucesso da equipe nacional na Copa do Mundo disputada na Argentina, em 1978, da qual Maradona foi cortado de última hora pelo técnico César Luis Menotti.

Na conversa com o atleta, Videla agradeceu a ele, em nome do povo argentino, pela demonstração de bom futebol do time juvenil em campos japoneses e pelo "triunfo de uma juventude que quer olhar o futuro com amor, com esperança e com fé".

Um jovem Maradona, recém-coroado campeão e ainda no campo do estádio de Tóquio, se disse orgulhoso de receber a mensagem do presidente. "Penso que este triunfo é para você e para todos os argentinos", afirmou o jogador, então com 18 anos.

Foi, possivelmente, sua única ação política relevante não calculada com a maturidade do ídolo que sabe o seu tamanho. O contrário da proximidade com Carlos Menem já no fim de sua carreira futebolística.

O disparador político de Maradona foi Jorge Valdano, seu companheiro na Copa do Mundo de 1986. Até então, o camisa 10 da seleção se posicionava pouco.

"Eu jogo futebol. De política, não sei nada", respondeu aos jornalistas aos ser questionado sobre a relação entre Inglaterra e Argentina antes do jogo das duas seleções na Copa de 1986. Os argentinos ganharam a partida quatro anos após terem sido humilhados pelo exército do rival em guerra nas Malvinas.

Após o título mundial, Diego passou a se mostrar mais à vontade na expressão de suas ideias, como mostra o livro "Diego Dijo" (Diego disse, em espanhol), de Andrés Burgo e Marcelo Gantman, com as "melhores 1.000 frases do camisa 10 em toda a sua carreira" -a grande maioria delas, pós-Mundial do México.

Aposentado, Diego Maradona se entregou aos líderes de esquerda e à volta do peronismo ao poder na Argentina.

No início dos anos 2000, o argentino foi a Cuba seguidas vezes para tratamentos de desintoxicação. Na ilha, extreitou sua relação com Fidel Castro. O presidente cubano foi um dos convidados de Maradona quando este, visivelmente mais magro após um período de recuperação, apresentava o programa "La Noche del Diez".

"Tenho o orgulho de ser amigo de Fidel, que é o maior da história vigente. Não sou comunista, sou fidelista até a morte", afirmou o ex-jogador, já aposentado, sobre Castro.

Além de Fidel e da admiração por Che Guevara, Maradona construiu uma rede de relações com importantes figuras políticas da América do Sul. Defendeu, por exemplo, o venezuelano Hugo Chávez, que o levou à Venezuela para participar da abertura da Copa América de 2007, disputada no país. Também apoiou Nicolás Maduro como sucessor do chavismo.

Maduro, inclusive, consta ao lado de Fidel Castro na dedicatória de uma autobiografia do argentino, publicada em 2016 e focada no título mundial conquistado no México.

Aparecem junto deles na obra outros 47 nomes, entre eles o de Raúl Castro, irmão de Fidel, mensagens "à memória de Chávez e à memória de Che", além de figuras como o xeque Mohamed bin Rashid Al Maktum, primeiro ministro dos Emirados Árabes Unidos, e "a todos os xeques que me brindaram seu apoio".

Anti-imperialista e crítico dos Estados Unidos, acenou positivamente ao governo de Barack Obama. Por George W. Bush, porém, não nutria nenhuma simpatia. "Bush é um assassino. Prefiro ser amigo de Fidel Castro", disse em 2003.

No Brasil, sentia carinho e respeito pelo ex-presidente Lula, e comemorou a soltura do petista da prisão em 2019.

"Hoje se fez justiça", publicou o argentino no Instagram em 8 de novembro do ano passado, acompanhado de uma foto na qual está abraçado a Lula.

Peronista, foi defensor dos governos de Nestor e Cristina Kirchner, que governaram o país de 2003 a 2015 e devolveram o peronismo ao poder. Depois, fez oposição a Mauricio Macri, seu desafeto dos tempos em que o político era presidente do Boca Juniors (ARG).

Em dezembro do ano passado, Maradona foi à Casa Rosada visitar Alberto Fernández, sucessor de Macri na presidência e cuja vice é Cristina. O ex-camisa 10 da seleção argentina foi até a sacada do palácio, acenou para os pedestres na Praça de Maio e, com uma réplica da taça de campeão do mundo de 1986, gritou que "eles [os macristas] não voltam mais!".

Diego Armando Maradona se despediu nesta quarta-feira, 25 de novembro, mesmo dia da morte de Fidel Castro (em 2016). Um último gesto, ainda que indireto, às posições que defendeu até a morte.

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