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OPINIÃO

Gerson Nogueira: o esporte como canal da intolerância

A situação protagonizada pelo jogador de vôlei Wallace mostra o quanto a intolerância tomou conta do país, sobretudo a partir de 2018

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Imagem ilustrativa da notícia Gerson Nogueira: o esporte como canal da intolerância camera O jogador foi autor de grande polêmica nos últimos dias | Marina Ziehe/COB

Justiça apenas pela metade

A espera finalmente terminou. Depois da inesperada suspensão, por força de liminar, a bola vai rolar no Parazão 2023, duas semanas depois da data prevista. Prejuízos diversos afetaram os envolvidos na disputa, principalmente quanto à logística das equipes e despesas das partidas adiadas. A Federação Paraense de Futebol estima em R$ 150 mil o tamanho do prejuízo gerado pela canetada de Otávio Noronha, presidente da corte máxima da justiça desportiva.

Por tudo isso, a sessão do pleno do STJD realizada ontem, no Rio de Janeiro, foi acompanhada com a expectativa e o frisson de um jogo decisivo. O desfecho acabou satisfazendo a quase todos.

O Paragominas, rebaixado em campo no campeonato do ano passado, viu seus esforços plenamente recompensados. Entra na disputa e deixa de fora o Bragantino, punido por ter escalado em 2022 um jogador (Hatos) que estava suspenso por cinco jogos.

Para poupar o leitor/torcedor, não entrarei aqui nas minúcias do alentado processo, que envolve, além do Paragominas, mais quatro clubes direta ou indiretamente interessados – Águia, Bragantino, Amazônia e Castanhal.

O parecer do relator, Jorge Ivo Amaral, foi acompanhado pela maioria dos ministros, embora a decisão tenha sido por contagem apertada. De toda sorte, o STJD mostrou-se preocupado em não prolongar a paralisia do campeonato, sensível aos danos decorrentes disso.

Como a situação do Bragantino será analisada e definida posteriormente, o Parazão começa com 11 participantes. A tabela deixará em aberto os jogos do representante de Bragança, que pode voltar ou não à disputa. São aspectos da atividade tribunalesca, com seus prazos e filigranas, que colidem com a necessidade lógica que o mundo do esporte impõe.

Do mesmo jeito que gerou espanto a decisão monocrática de Otávio Noronha, anunciada na véspera da abertura do campeonato, é justo questionar as razões de tanta demora em solucionar um caso que envolve basicamente o não cumprimento de suspensões disciplinares.

O ideal seria que o STJD fosse mais ágil em decidir a situação do Bragantino, a fim de não gerar insegurança em relação à disputa. Espera-se que, pelo menos, o novo julgamento aconteça na próxima semana, a fim de evitar a superposição de datas e mais prejuízos aos demais clubes.

Em resumo, a justiça pode ter sido feita ontem, mas apenas pela metade, deixando um rastro perigoso de incerteza no ar. Até porque o Bragantino defende-se citando a prescrição do período que a FPF ou o TJD deveria informar sobre a punição ao jogador. A história pode ir longe ainda.

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Intervenção no TJD tem o objetivo de dar exemplo

Os termos surpreendentemente agressivos e rudes da comunicação do presidente do STJD, Otávio Noronha, no dia 19 de janeiro, sobre a suspensão do Campeonato Paraense, anteciparam a intenção de aplicar uma punição rigorosa ao TJD-PA.

Com motivos ou não, Noronha atribuiu ao tribunal paraense a responsabilidade pelos problemas que enrolaram o caso Paragominas e resultaram na paralisação do campeonato. Ontem, o relator Jorge Ivo Amaral complementou a reprimenda, com acusações diretas à corte.

A votação unânime do Pleno pela intervenção apenas confirmou a intenção do STJD de dar ao caso ares de exemplo nacional. E assim foi feito.

Esporte como canal da intolerância: é o que temos aqui

O episódio de apologia à violência protagonizado por Wallace, um dos principais jogadores de vôlei do país, que até há pouco tempo era titular da seleção brasileira, dá bem a medida do quanto a cultura do ódio e da brutalidade foi impregnada a ferro e fogo na alma de parcelas da população brasileira desde 2018.

Não significa que ódio e intolerância não fizessem parte do cardápio de atitudes do dito cidadão de bem no Brasil desde muito antes. Nada disso. Sempre convivemos com a falsa cordialidade como algo natural a todos neste lindo e indolente país tropical. Não é bem assim.

Ao investigar as raízes da formação do povo brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda já ensinava que a tal cordialidade, exaltada por muitos antes dele, nada tem a ver com polidez e civilidade, muito pelo contrário.

Wallace é apenas mais um arauto do fascismo doentio, defensor da agressão a instituições e de uso da violência sempre que há falta de argumentos. Foi gente assim que vandalizou as sedes dos Três Poderes no mais virulento ataque às instituições democráticas brasileiras.

Gente como Wallace – e seus amigos Maurício e Ana Paula, atletas do vôlei também – vê em Lula a encarnação do oposto político, e por isso merece ser execrado, calado e exterminado. É a expressão clara do horror ao diferente, tão defendido por Bolsonaro nos últimos quatro anos.

Lula representa princípios democráticos, valores de convivência e intenções inclusivas que Wallace, um atleta de origem humilde, provavelmente nunca vai entender. Curiosamente, ele é um dos maiores beneficiários do Bolsa Atleta, programa criado justamente pelo petista. Em 10 anos de carreira, Wallace recebeu R$ 308 mil de ajuda.

Nada disso lhe importa ou comove. O que interessa a pessoas que pensam como Wallace é a destruição do outro que desagrada, que contraria os planos lunáticos de um país encharcado de fundamentalismo religioso, conservadorismo de costumes e ausência de ideias.

Tudo isso embalado numa contradição óbvia: os que mais apregoam o respeito à família e a religião são justamente os que mais pegam em armas para resolver as diferenças e aniquilar o debate. Dar um tiro na cara do presidente, como sugeriu Wallace, é o máximo de proposta que essa gente tem para o Brasil. Tristemente trágico.

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