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FOTOGRAFIA

Paraense recebe prêmio nacional do Instituto Moreira Sales

BQueer começou a performar como drag e “se montar” junto com amigas artistas, atores, atrizes, artistas visuais e carnavalescos na festa “Noite Suja”, antes de se mudar para o Rio de Janeiro.

Imagem ilustrativa da notícia Paraense recebe prêmio nacional do Instituto Moreira Sales camera Santa Ceia das Themônias, na versão de Bqueer: performance das drags do coletivo paraense é tema da pesquisa fotográfica que artista vai desenvolver com a Bolsa ZUM/IMS | Lucas Paixão/Divulgação

Artista visual e performer paraense, Rafael BQueer está entre os ganhadores da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS, junto com a artista paulista Val Souza. Nesta oitava edição, concorriam 500 projetos de todas as partes do país, das mais variadas vertentes, sem restrição de tema, perfil ou suporte. Cada selecionado receberá uma bolsa no valor de R$ 65 mil e terá oito meses para desenvolver o trabalho. O resultado final dos projetos fará parte da Coleção de Fotografia Contemporânea do Instituto Moreira Salles.

Sobre os vencedores, os projetos “Themônias”, de Rafael BQueer, e “Infinito particular ou reprisando e atualizando Vênus”, de Val Souza, o coordenador da Bolsa de Fotografia e da área de Fotografia Contemporânea do IMS, Thyago Nogueira, comenta que ambos contribuem para expandir o repertório de imagens da instituição, “usando a arte para ampliar nossa experiência do mundo e dar visibilidade a grupos socialmente discriminados”.

BQueer mostrou-se muito feliz em ter seu projeto selecionado. “Esse prêmio é superimportante, considerado um dos mais importantes do estado de São Paulo e, consequentemente, do Brasil; e acho que financeiramente é a maior premiação do Brasil. É muito importante que esse prêmio venha para um projeto que será realizado no estado do Pará, na região Norte”.

Como artista de Belém, Bqueer sempre defende que se possa problematizar e ao mesmo tempo dar visibilidade política, social e subjetiva para a arte contemporânea paraense - “uma arte contemporânea recente, feita por pessoas pretas, indígenas, quilombolas; por pessoas da periferia, por artistas LGBTs e corpos dissidentes que, cada vez mais, adentram espaços das artes visuais e espaços da arte contemporânea”, considera.

THEMÔNIAS

Em 2014 e 2015, BQueer começou a performar como drag e “se montar” junto com amigas artistas, atores, atrizes, artistas visuais e carnavalescos na festa “Noite Suja”, antes de se mudar para o Rio de Janeiro. “Todo início da minha experiência LGBTQIA+, drag, se dá com a festa ‘Noite Suja’ e, posteriormente, essas vivências vão se transformar no que a gente chama hoje de coletivo das Themônias”, relembra.

O coletivo em questão reúne artistas LGBTQIA+ que pensam arte, cultura e ativismo, a partir de performances e de ações coletivas. Agrega artistas de todas as áreas (teatro, dança, música...) de Belém, assim como acadêmicos e pessoas da periferia. “O coletivo tem hoje cerca de 150 pessoas e, dentro do que eu pesquiso, na cena LGBTQIA+ drag do Brasil, Belém, sem dúvida, tem hoje um dos coletivos mais expressivos e com maior visibilidade”, diz.

O projeto com o qual Rafael BQueer ganhou o prêmio se propõe a investigar, documentar essa cena e apresentar como resultado um registro em vídeo e foto da performatividade Themônia na Amazônia. “Esse prêmio busca uma diversidade, uma descentralização das narrativas e um lugar político ao apoiar um trabalho a partir da perspectiva de uma artista bixa preta do Pará, Themônia e drag, que sou eu”.

REGISTRO

As fotografias e vídeo de BQueer terão como tema central a própria atuação do coletivo Themônias no Pará, que, em seu cerne já traz artistas importantes, como Flores Astrais, Gigi Híbrida, Tristan Soledad e Sarita Themônia. “São artistas e amigas da universidade e de outros lugares descentralizados da cidade, pautando a importância da união como luta da comunidade LGBTQIA+ em Belém e também como resistência artística, numa cidade em que ainda enfrentamos um descaso econômico com a Cultura”, aponta BQueer, que destaca que a diversidade e a luta política por direitos para artistas e narrativas afro-brasileiras e com questões de gênero e sexualidade sempre estão presentes em sua obra.

A própria atuação enquanto drag Themônia, que faz como Uhura Bqueer, diz, é sobre pautar dentro da noite, da cena LGBTQIA+, das performances, discussões políticas da afro-brasilidade, sobre periferia, musicalidade queer e paraense.

“Depois, sobre atuar no Sudeste com narrativas visuais que dialogam com as aparelhagens de tecnobrega, com o trabalho de Gaby Amarantos, com toda essa estética da periferia de Belém, que é extremamente política e que fala de uma Amazônia que ainda é pouco mostrada”, afirma.

ANO PRODUTIVO

Para BQueer, o ano de 2020 foi de mudanças no caminho, mas bastante produtivo, mesmo durante a pandemia. Em março, veio a Belém, fazer uma residência artística com o artista visual Alexandre Siqueira, como resultado do prêmio Foco Arte-Rio 2019. Com o início da quarentena, recolheu-se com os pais em Ananindeua.

“Essa reaproximação com a cidade e com a minha família me fez rever os meus objetivos e estratégias artísticas para 2021. Escrevi o roteiro desse documentário sobre as atuações das Themônias, desse coletivo político LGBTQIA+ em Belém. E desejo aplicá-lo em editais que pudessem me dar suporte para essa realização, levando em consideração que o trabalho do cinema e do audiovisual são bastante caros”, conta.

O prêmio da revista Zum/IMS, extremamente concorrido, vem como uma resposta para BQueer, “de que o que a gente está produzindo é de grande relevância hoje, não apenas para esse circuito de arte que durante muito tempo foi invisibilizado, das narrativas pretas e LGBTs. Esse momento de quarentena em Ananindeua me fez pensar a importância de continuar transgredindo as visões sociais, culturais, dentro da região Norte do Brasil”.

Esse projeto vem para o próximo ano, segundo Bqueer, como forma de potencializar essas narrativas na arte contemporânea. “Levar o trabalho coletivo que minhas amigas e irmãs Themoníacas fazem em Belém e do qual também me sinto parte, é sobre expandir oportunidades e pensar estratégias de coletivizar os acessos nas artes visuais, que ainda hoje, no Brasil, são um meio muito elitista. Pensar estratégias narrativas dissidentes e periféricas faz parte da minha estratégia enquanto bixa preta, enquanto artista paraense atuando entre Belém do Pará e o Sudeste do Brasil”, finaliza BQueer.

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