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SAUDADE

Ney Marcondes deixou legado de imagens criadas com olhar sensível e atento

O fotografo foi prematuramente, mas deixou centenas de imagens que demonstram seu profissionalismos e sensibilidade com a câmera .

Imagem ilustrativa da notícia Ney Marcondes deixou legado de imagens criadas com olhar sensível e atento camera Imagem registrada às margens da BR-316, que deu a Ney Marcondes o primeiro lugar no concurso internacional “Olhares Inspiradores”, da Canon. | Ney Marcondes

Uma das histórias favoritas de Ney Marcondes era como ele começou a carreira na fotografia fazendo fotolitos para capas de LPs, lá na década de 1980, em São Paulo. Essa conversa puxada no ritmo do sotaque de quem nasceu no interior paulista - na cidade de São Bernardo do Campo, para ser mais precisa - podia tomar dois rumos. O primeiro era o da música, e seus cantores favoritos, que desde aquele tempo, vinham da MPB . Ou podia enveredar pela boa e velha fotografia, dos potinhos de filme e laboratórios escuros.

“Eu aprendi muito com ele, muito mesmo, não só a fotografar, como outras técnicas que ninguém usa mais”, diz o fotojornalista Mauro Ângelo, que foi amigo de Ney e colega de trabalho no DIÁRIO, além de ser “a pessoa que mais perturbava ele na redação”, admite, já contando algumas peripécias, mas também sobre a admiração que foi construída a cada conversa com o amigo, falecido no último domingo, 22, aos 55 anos, em decorrência de um câncer.

No trabalho de Ney, o olhar jornalístico e o senso artístico sempre estiveram entrelaçados.
📷 No trabalho de Ney, o olhar jornalístico e o senso artístico sempre estiveram entrelaçados. |Ney Marcondes

“O Ney era o chamado ‘fotógrafo completo’. Uma vez um médico me disse que o bom fotógrafo era aquele que fotografava, revelava seu filme e copiava suas fotos. E penso nele assim. Pelo tempo que me sentava na [sala da] Fotografia, ficava conversando com ele, a maior parte era sobre fotografia, mas não a da ‘era digital’. Ele falava muito da fotografia analógica, muitas coisas que eu não tinha conhecimento, mesmo eu também tendo sido um laboratorista, mas ele tinha”, relembra Mauro.

Esse conhecimento técnico, aprendido em São Paulo, quando trabalhou como laboratorista fotográfico e já como fotojornalista alguns anos depois, não se converteu apenas em elogios, mas também em premiações - com destaque para o 1º lugar do concurso “Olhares Inspiradores”, da Canon. Era claramente um dos prêmios que mais o emocionava. “Conseguir ficar em primeiro lugar [neste concurso] é uma sensação, não diria de orgulho, mas de alcançar o objetivo da fotografia, do olhar e do que o equipamento pode proporcionar”, declarou Ney à época. No júri estavam profissionais como Araquém Alcântara, um dos fotógrafos de natureza mais reconhecidos no mundo.

Da série “Benditas”, que abordava a vida doméstica das mulheres e crianças às margens do rio Guamá, finalista do 24° Concurso Latino-Americano de Fotografia Documental “Os Trabalhos e os Dias”.
📷 Da série “Benditas”, que abordava a vida doméstica das mulheres e crianças às margens do rio Guamá, finalista do 24° Concurso Latino-Americano de Fotografia Documental “Os Trabalhos e os Dias”. |Ney Marcondes

A imagem premiada é um exemplo do conjunto de olhar e técnica apurada que Ney tinha: uma árvore solitária, destacada em meio a uma forte neblina, causando a ilusão de estar refletida sobre águas tranquilas. À época, Ney contou que estava com a equipe de reportagem do DIÁRIO, passando na BR-316, na altura de Castanhal, uma área com muitas fazendas, algumas com uma queda no terreno: “Essa árvore ficou isolada na neblina em um pasto. Eu olho pra essa foto e lembro que foi uma questão de segundos até a névoa subir e a árvore desaparecer”.

Fotojornalismo afinado

“O Ney Marcondes era um ótimo fotojornalista, tanto para o jornalismo propriamente, entendendo e ajudando a aprofundar as reportagens, quanto para as imagens, fazendo com que a fotografia dele alcançasse outros níveis que vão além de informar. Por conta disso teve reconhecimento com diversas premiações e exposições”, diz Alberto Bitar, editor de fotografia do DIÁRIO. Ele puxa na memória que foi parte do júri que premiou Ney em um concurso de fotografia de Castanhal (onde o fotógrafo morava), ainda na segunda metade da década de 2000.

E muito outros jurados e curadores foram conquistados ao longo dos anos. Com “Benditas”, uma série mostrando as mulheres que lavam suas roupas, cozinham e cuidam de suas crianças no Rio Guamá, ele se tornou um dos finalistas do 24° Concurso Latino-Americano de Fotografia Documental “Os Trabalhos e os Dias”, participando de uma exposição em Medellín, na Colômbia. Já o registro da família de um menino vestido de marinheiro, sendo levado na canoa, por seus pais, a acompanhar o Círio de Caraparu, em Santa Izabel, figurou entre “As 100 Melhores Fotos de 2015”,do site russo “35photo”.

Registros do Círio de Caraparu, em Santa Izabel. Essa imagem ficou entre as 100 melhores fotos de 2015, do site russo 35photo.
📷 Registros do Círio de Caraparu, em Santa Izabel. Essa imagem ficou entre as 100 melhores fotos de 2015, do site russo 35photo. |Ney Marcondes
Registros do Círio de Caraparu, em Santa Izabel.
📷 Registros do Círio de Caraparu, em Santa Izabel. |Ney Marcondes

GENEROSIDADE

Para Octávio Cardoso, editor de fotografia do DIÁRIO, Ney não só era um bom fotógrafo, mas tinha paixão por aquilo que fazia e gostava de dividir isso com os colegas. “Além de ele ser muito bom, competente, gostava do que fazia, atuava com interesse, discutia as pautas, e ele também tinha uma generosidade muito grande. Era quem eu sempre via se dispondo a dar uma dica, a ensinar, falar de uma novidade técnica, de um equipamento novo, era um cara que dividia seu conhecimento com muita generosidade. Era um cara muito companheiro”, destaca.

Em todo o trabalho, o olhar fotojornalístico e senso artístico estavam entrelaçados. Do período que começou a trabalhar no DIÁRIO, Alberto Bitar tem a nítida memória de uma das primeiras fotografias que escolheu para a capa do jornal, “uma árvore havia caído em decorrência de uma forte chuva em frente a uma venda de verduras e o proprietário olhava o estrago com tristeza”, descreve a imagem capturada por Ney e que posteriormente integrou uma exposição. “Sentimento era o diferencial no trabalho dele”, conclui o editor.

Enquanto Mauro Ângelo nos lembra: “Algo que sempre vai estar na fotografia, mesmo depois que a gente parte, é o olhar que ficou registrado. Ele tinha um olhar artístico, sabia fazer o que as pessoas dizem que é a fotografia:desenhar com a luz”.

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