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PARÁ

Quem não gosta de uma boa farinha?

Ela vai bem com açaí, com o tradicional prato brasileiro feijão com o arroz ou como acompanhamento do churrasco. Opções não faltam para saborear a farinha de mandioca, uma das iguarias mais apreciadas pelos paraenses e que responde por uma parcela relevan

Ela vai bem com açaí, com o tradicional prato brasileiro feijão com o arroz ou como acompanhamento do churrasco. Opções não faltam para saborear a farinha de mandioca, uma das iguarias mais apreciadas pelos paraenses e que responde por uma parcela relevante da economia do Pará, com uma produção que passa de três milhões de toneladas e coloca o Estado como o maior produtor
de mandioca do Brasil.

Na feira do Ver-o-Peso, em Belém, cerca 30 vendedores comercializam por dia, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), entre quatro mil e cinco mil quilos de farinha de mandioca, com uma média mensal de aproximadamente 140 mil quilos.

O produto, em sua maioria, vem das ilhas próximas de Belém, como também de Castanhal, Santa Izabel, Capitão Poço e outras cidades do Nordeste paraense, principalmente Bragança. O vendedor José Serrão, 67 anos, conhece bem a importância da farinha de mandioca para a economia local.

Há mais de cinco décadas trabalha com a comercialização do produto na feira do Ver-o-Peso. “Comecei a trabalhar nessa área aos 16 anos para ajudar a minha família. Chegávamos cedo, montávamos o nosso espaço e, no final da tarde, depois de um dia inteiro de trabalho, a gente aproveitava para tomar banho no rio”, lembra. Dessa época, o vendedor ainda mantém a rotina de acordar às 4h da manhã.

Todos esses anos de experiência tornaram o feirante um conhecedor profundo do produto. “Quando se fala em farinha grossa, a mais procurada é a farinha de Bragança, conhecida pela sua crocância, ideal para comer com carne assada e churrasco. Tem também a branca seca, que não causa aquele famoso empachamento”, ensina.

Apesar do sucesso da farinha de Bragança, o feirante explica que a campeã de vendas na sua barraca é a branca fina. “Ela é usada para fazer farofa e costuma ter uma saída maior do que as outras”, diz. O vendedor também destaca a farinha de suruí. “Ela é branca e mais fina, usada para fazer o caruru”, acrescenta.

O conhecimento ajudou José a formar uma clientela fiel e ele conseguiu encaminhar os três filhos e comprar uma casa. “Em épocas festivas, como o Círio já cheguei a ter um rendimento diário de R$ 2 mil. Mas em tempos difíceis, como aqueles de maré alta, não chega nem a R$ 200”, diz ele, que compra o produto de produtores dos municípios de Castanhal e Bragança.

Há cerca de 10 anos, o vendedor de farinha Eduardo Silva começou seu trabalho na “Feira da 25”, onde comercializa o produto. Para ele, a farinha vive uma de suas melhores épocas. “Tenho uma boa freguesia que está sempre aqui. É claro que há períodos melhores para a venda e outros nem tanto, mas, no geral, esse é um ótimo produto para a venda”, afirma.

VISITANTES

De passeio por Belém, o engenheiro Luís Haym e a cozinheira Larissa Azevedo, ambos do Rio de Janeiro, deram uma passada pelo Ver-o-Peso e saborearam a famosa farinha paraense. “Já conhecia e gosto dessa farinha mais graúda e torrada”, disse o engenheiro. “Eu prefiro a de tapioca”, comentou a cozinheira. Eles dizem ser difícil encontrar o produto fora do Pará, por isso é bom comprar no Estado e levar. “Conseguimos encontrar em uma feira de produtos nordestinos. Mas o sabor e o preço não são os mesmos”, completa a carioca.

O segurança Romário Santos, não abre mão da combinação mais famosa do produto. “Não dá para tomar açaí sem a farinha d`água, é sagrado”, brinca. O feirante Roberto Marques também não almoça sem a dupla. “Para acompanhar o açaí, tem que ter farinha e um bom peixe-frito”, diz.

A cadeia produtiva envolve, do plantio à comercialização, cerca de 300 mil pessoas no Estado. São agricultores, atravessadores e comerciantes, que juntos movimentam R$ 1 bilhão na economia local por ano.

O produtor de farinha Zeca Camutá trabalha no ramo há mais de duas décadas. Aprendeu com o pai, de quem herdou a técnica e o espaço onde produz cerca de 500 litros por mês, com mais quatro pessoas da família e alguns poucos funcionários, no município de Bragança.

Ele produz quatro tipos de farinha: a tradicional de Bragança, a lavada, a de tapioca e a farinha fina para farofa. Parte da produção, feita sob encomenda, tem como destino a próprio cidade de Bragança e a capital paraense. Para ele, apesar das tecnologias já usadas por alguns produtores, como o forno elétrico, o método tradicional de fazer a farinha continua sendo o melhor.

“Usar o forno elétrico não tem o mesmo efeito, perde muito a qualidade, por isso ainda estamos fazendo farinha como na época de meu pai”, explica.

Essa também é a opinião do produtor de farinha Railson Santos. Com 27 anos, ele conta que nasceu em meio a produção de farinha comandada pelo pai, hoje aposentado, na Vila de Tessalônica, a 23 quilômetros do município de Irituia, nordeste paraense. “Usamos ainda o forno à lenha, da mesma forma feita pelo meu pai há anos. Por aqui, todos produzem da forma tradicional, não conheço ninguém que use forno elétrico”, conta.

O trabalho de produção de farinha é executado por mais quatro membros da família e em parceria com outros produtores locais. Por mês, são 12 sacas de 60 quilos disponibilizadas para o mercado da região, da capital e para municípios como Vigia. Para ele, a forma tradicional de produção deve permanecer ainda por um bom tempo. “Não vejo como mudar isso”, diz o produtor.

Comer com moderação

Herança dos povos indígenas, a farinha de mandioca é um dos alimentos mais presentes na comida do paraense. “Mas se formos olhar pelo lado proteico, vamos observar um alimento rico em amido e carboidrato, mas pobre em vitaminas”, informa o gastroenterologista Antenor Madeira.

Ele diz ser difícil mudar o hábito do paraense de consumir o produto, mas é preciso haver moderação. “O ideal seria investir em pesquisas que ajudassem a enriquecer a farinha, tornando-a mais nutritiva, porque a forma como é consumida hoje não é adequada”, diz. A moderação, no entanto, deve ser a palavra chave. “É claro que é preciso se levar em conta questões como a quantidade consumida, se a pessoa tem ou não algum problema de gastrite ou outro problema”, pondera.

Para quem já tem doenças como a gastrite, além de uma consulta com um médico e um nutricionista, o gastro recomenda cautela. “Se já existe um problema, com certeza será recomendada a substituição da farinha de mandioca por outra, como a de aveia, por exemplo”.

A mistura mais famosa – a farinha com açaí – também deve ser olhada com cautela quando já existe algum sintoma como o empachamento ou sensação de estômago estufado.

“O açaí é rico em fibras e ferro, que por si só já costuma irritar o estômago. Quando acompanhado da farinha, que também possui uma acidez, pode provocar esse sintoma, especialmente para quem já tem gastrite, por isso é importante procurar um médico para verificar essa situação.

(Alexandra Cavalcanti/Diário do Pará)

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