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PARÁ

Um papo sobre aceitação, resistência e empoderamento negro

Uma adolescência inteira alisando os cabelos e tentando se “embranquecer” para ser aceita na sociedade. Sarah Arcângela, fotógrafa e cabelereira, passou 17 dos 24 anos querendo ser quem não era. A aceitação veio com o tempo, quando conheceu o Centro de De

Uma adolescência inteira alisando os cabelos e tentando se “embranquecer” para ser aceita na sociedade. Sarah Arcângela, fotógrafa e cabelereira, passou 17 dos 24 anos querendo ser quem não era. A aceitação veio com o tempo, quando conheceu o Centro de Defesa e Estudo do Negro no Pará (CEDENPA). Lá, diante de jovens negros, com a mesma realidade e que lidam com o preconceito e racismo diariamente, Sarah percebeu que ela tinha uma longa jornada de luta pela frente.

Não muito longe de Sarah, a carioca, que mora em Belém há 7 anos, Anastácia, afirma que se empoderou e se aceitou como negra aos 15 anos. Nesse pouco tempo, ela já coleciona momentos que jamais esquecerá. “Me aceitei enquanto preta e me empoderei disso somente com 15 anos de idade. Desde então, percebia a desigualdade racial que enfrentava diariamente”, comenta.

Discriminação racial que também era enfrentada por Diego Guimarães, de 25 anos. O jovem lidou com anos de autonegação da cor. Porém, comenta, a sociedade nunca o fez esquecer os traços negroides que carregava.

“Foram anos de embranquecimento e auto ódio. Mas a sociedade nunca me fez esquecer que sou preto através de vários episódios de racismo”, afirma o jovem barbeiro.

Relatos recheados de preconceitos que fazem parte de um cotidiano em que o racismo é presente e naturalizado. Dia 21 de março é o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, e o DOL convidou jovens, negros, ativistas, para conversar sobre o assunto e compartilhar experiências de quem sempre se viu calado pelo preconceito, mas que um belo dia resolveu mudar e ser a voz que precisava ecoar.

Assim como Sarah, Diego e Anastácia, a empreendedora Beatriz de Paula, de 27 anos, e o militante do movimento negro, Richard Paiva, 21, também já “sentiram na pele” o peso de uma sociedade racista.

Porém, para esses cinco jovens, a raça é motivo de orgulho. Se reconhecem enquanto sujeitos social, políticos e autores da própria história. E são capazes de lutar por direitos que não são somente seus, mas de um grupo todo.

Para eles, a aceitação precisa ser individual, e que precisa chegar no tempo de cada um, mesmo que com motivações diferentes. Embora a luta seja coletiva, em prol dos “nossos”, como faz questão de ressaltar Diego.

“A minha imagem milita por mim antes mesmo que eu abra a boca, meu corpo fala e o meu empoderamento também”, dispara Sarah.

“Comecei a empoderar-me enquanto mulher negra quando decidi passar pelo processo de transição capilar, em 2012. Ainda que tenha sido um processo iniciado tardiamente, desde o começo conheci pessoas maravilhosas, que contribuíram muito com a minha autoestima”, relata Beatriz, carinhosamente chamada de Bia.

Assim como Bia, o militante Richard não esconde o orgulho que sente da mãe e de todo ensinamento trazido de berço. “Aos 18 anos iniciei minha luta no combate ao racismo. Sempre me vi como um garoto negro, até porque a sociedade sempre pontuava isso por eu ser retinto, e em meio a todo o racismo sofrido, as palavras que me confortavam eram a de minha mãe, mulher negra, mãe solteira que sempre me mostrou que ser negro não era algo ruim”, diz.

Os jovens lutam para que o racismo seja sempre denunciado. Além disso, lutam para estimular a auto aceitação, elevar a autoestima e defender a valorização da estética negra. É, um desafio importante para um país que tem dados alarmantes para a população negra.

Segundo o relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens, todo ano, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados. São 63 por dia. Um a cada 23 minutos.

Sarah, Diego, Anastácia, Diego, Richard e a Beatriz são apenas cinco jovens que, a partir de vivências doloridas no passado, se reconhecem e se orgulham no presente.

Embora o empoderamento estético tenha sido a porta de entrada para muitos, esses cinco jovens mostram que o verdadeiro empoderamento é defender os seus iguais que estão em situação de opressão, combater e denunciar o racismo, é inspirar e mostrar que as características físicas não devem ser uma limitação para chegar onde se almeja e que podem sim ocupar qualquer espaço. Basta que a sociedade possa enxergar e respeitar a beleza que existe na diversidade das cores de pele, tipos de cabelo e formas do corpo.

Que esse dia 21 seja apenas uma lembrança para uma prática que precisa prevalecer todos os dias.

(Monique Costa/DOL)

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