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Estudante cego realiza sonho e vai cursar engenharia da computação

O sonho de ingressar no curso de engenharia da computação é cultivado pelo estudante Mauro Rocha, 33 anos, desde que ele concluiu o ensino médio, em 2015, na Escola Estadual Cordeiro de Farias, em Belém. A realização do feito chegou neste ano com muito ma

O sonho de ingressar no curso de engenharia da computação é cultivado pelo estudante Mauro Rocha, 33 anos, desde que ele concluiu o ensino médio, em 2015, na Escola Estadual Cordeiro de Farias, em Belém. A realização do feito chegou neste ano com muito mais emoção do que ele poderia imaginar. O jovem iniciará o curso no próximo mês em uma universidade que é referência na área de tecnologia no país, a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para entender o tamanho da conquista alcançada por Mauro é preciso olhar um pouco para o seu passado e das pessoas que o ajudaram a chegar até o ensino superior. Mauro é cego e estudou a vida inteira em escola pública. Mesmo sendo natural de São João da Ponta, município do nordeste paraense com quase 6 mil habitantes, ele realizou todo o ensino médio em Belém, no Cordeiro de Farias. Dos professores que o acompanharam ao longo dessa fase, o que se ouve é que, desde a chegada ao colégio, Mauro sempre disse que um dia cursaria engenharia da computação.

Professora especialista em educação inclusiva e que atua no Cordeiro de Farias, Maria Lúcia Favacho foi uma das que acompanhou Mauro durante o ensino médio e conta que ele sempre demonstrou aptidão para a área da tecnologia, sobretudo a tecnologia inclusiva. “O Mauro sempre foi um aluno muito aplicado. Quando começamos os atendimentos com ele, percebemos que, apesar da limitação que ele apresenta em decorrência da deficiência visual, para ele não existem barreiras”.

A primeira tentativa de acesso ao ensino superior se deu em 2016, logo após concluir o ensino médio. Naquele momento, ele não conseguiu a nota necessária para ser aprovado. Depois disso, problemas pessoais fizeram com que Mauro precisasse retornar à cidade natal. A distância não o impediu de continuar estudando. “Eu não fiz cursinho, estudava em casa mesmo. Eu baixava apostilas, vídeo aulas e estudava”, lembra. “Eu levava aquele HD externo lotado de material para onde eu ia”.

Mobilização para realizar a matrícula

Sempre que podia viajar para Belém, Mauro aproveitava para esclarecer dúvidas com os professores do antigo colégio. Foi para um dos professores do Cordeiro de Farias, por exemplo, que ele recorreu para realizar a inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com a nota obtida no exame de 2018, ele pôde concorrer a uma das vagas oferecidas por universidades de dois Estados: Paraná e Amapá. “Pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) não estavam oferecendo vaga no Pará para o curso que eu queria”, conta.

A estratégia deu certo e Mauro foi aprovado na UFPR. “A professora que fez a minha inscrição me ligou e disse: ‘pode comemorar!”, diz. “Foi uma alegria imensa”. Antes de conseguir respirar aliviado por ter garantido a vaga, porém, Mauro passou momentos de tensão ao lado dos professores. Após juntar a documentação necessária para realizar a inscrição, o calouro e os professores que o acompanharam no Cordeiro de Farias seguiram para os Correios para despachar a papelada. A surpresa se deu quando eles descobriram que não haveria como os documentos chegarem ao Paraná dentro do prazo de inscrição da universidade.

Mauro e os professores continuaram as tentativas em busca de matricular o estudante. Como segunda tentativa, foram até o aeroporto de Belém para tentar despachar a documentação através de empresas que realizam esse serviço, porém, mais uma vez o prazo não conseguiria ser cumprido.

VIAGEM

As alternativas se esgotaram até que a saída encontrada pelo grupo foi a de comprar uma passagem de avião para que os documentos fossem levados ao município paranaense de Pato Branco, onde Mauro irá estudar. Foi nesse momento que a rede de solidariedade em prol do sonho de Mauro se ampliou. “A gente não poderia deixar uma pessoa que tem tanto potencial, perder essa chance”, lembra a professora Lúcia.

Imediatamente, ela e o também professor especialista em educação inclusiva, Augusto César Chaves, deram início a uma campanha de vaquinha virtual para custear a viagem estimada em cerca de R$2 mil. A mobilização através de um grupo mantido em um aplicativo de mensagens fez com que os professores do Cordeiro de Farias se empenhassem em ajudar, fazendo doações.

Com a passagem comprada no cartão de crédito de um dos professores, o grupo se viu em um novo impasse. Quem viajasse para fazer a inscrição chegaria no Paraná em um sábado, e o último dia de inscrição já era na segunda-feira seguinte. “Como nós só tínhamos uma chance, ficamos preocupados do Mauro enfrentar algum problema na locomoção, apesar dele ser bastante independente”, explica Lúcia.

Expectativa para fazer o curso no Paraná é grande

A missão de garantir a concretização desse sonho foi do professor Augusto Chaves, que viajou, no dia de seu aniversário, para realizar a inscrição. Augusto chegou a Chapecó, em Santa Catarina, no sábado e, no domingo, seguiu por via terrestre rumo a Pato Branco, no Paraná.

“Quando eu cheguei lá, ainda enfrentamos algumas intercorrências relacionadas a documentações, mas, por fim, deram como deferida a matrícula dele”, lembra o professor.

“Enquanto estudou aqui o próprio Mauro nos ensinou muito, então é com muita satisfação que a gente enxerga essa pouca contribuição que conseguimos dar. Já falamos para ele que fazemos questão de estar presentes
quando ele se formar”.

UFPR

Toda a história por trás dessa conquista chegou aos ouvidos dos professores da UFPR e muitos entraram em contato com Mauro para se colocar à disposição para ajudá-lo, aumentando a rede de apoio oriunda do ensino público. Uma campanha realizada por professores do Paraná conseguiu garantir as roupas de frio que o calouro precisará usar no novo local de morada, assim como o próprio local onde ele ficará nos primeiros meses.

Mauro viajará para o Paraná no próximo dia 4, quando dará início a uma nova fase na sua vida estudantil. “É o curso que eu sempre quis e vai ser um desafio porque vai ser uma mudança de tudo, de cidade, de clima, de cultura. Mesmo assim, a expectativa está a mil, ansiedade total...”.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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