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Articulação entre secretarias deve ajudar no combate ao crime, diz secretário de Segurança

Ao 9º dia de atuação à frente da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup), o delegado licenciado da Polícia Federal (PF) Uálame Machado teve o primeiro indício de que o planejamento finalizado com sua equipe praticamente às vésperas da virada de

Ao 9º dia de atuação à frente da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup), o delegado licenciado da Polícia Federal (PF) Uálame Machado teve o primeiro indício de que o planejamento finalizado com sua equipe praticamente às vésperas da virada de ano está indo pelo caminho certo. Em relação ao mesmo período de 2018, o Sistema registrou 38% menos homicídios e 43% menos roubos. “Foram 80 mortes contra 130. Foram 1.280 menos roubos. Ainda é muito, tudo ainda é muito, mas já é um sinal de que o plano de ações foi bem pensado”.

Uálame está certo de que não será possível fazer nada dessa vez sem uma forte integração - seja dentre os órgãos da Segup, seja com os demais entes da administração direta e indireta, seja com a própria sociedade. Confira a entrevista:

O tráfico de drogas é um dos motores mais possantes da criminalidade. A PF é fortemente combativa nesse sentido. A Segup tem como lidar com essa questão de forma mais eficaz do que lidava?
Já tínhamos uma parceria muito boa entre Polícia Federal, de onde eu sou, e Segup, mas a nossa ideia agora é que a gente incremente ainda mais isso. Tanto a PF tem um policiamento marítimo quanto o Estado tem o Grupamento Fluvial. A gente já conversava sobre isso há um tempo, mas não saía do papel, sobre integrar ambas. A PF vai para dentro do GFlu na área que está desocupada, que era da Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal (Siac), estamos fazendo uma vistoria para avaliar a viabilidade disso. Temos a Base Candiru, em Óbidos, na parte mais estreita do rio Amazonas, que é praticamente a principal porta de entrada de drogas no Estado, tudo vindo de Letícia, Tabatinga, Colômbia, pela fronteira do Amazonas com o Pará. Nós estamos lá, a Polícia Federal está lá, e a ideia é, como Secretaria de Segurança, implementar isso. Temos ainda o apoio da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa), e da Receita Federal, que já eram parceiras, porque o Estado perde muita renda por não estar nesta base flutuante, já que logo ali está a Zona Franca de Manaus, e aí passa muita coisa, madeira, de tudo. Muita coisa acaba deixando de ser tributada por isso.

É pensamento de muitos de que só cerca de 10% dos assassinatos são solucionados no Estado. Como sua gestão vai lidar com essa situação no sentido de dar uma resposta?
Há uma conta a ser paga. A forma de investigar é que vai mudar. Se a gente analisar os números atuais, vamos ver que boa parte decorrem das mortes em série. De 20 homicídios, 8, 9 ocorreram de uma vez só em alguma ação. A nossa ideia principal, além da intensificação do policiamento, que nós já estamos fazendo, e da oferta de serviços para a população, de maneira a promover Educação, Saúde em conjunto com a Segurança, é o combate específico às organizações criminosas. Se em bairro x há muitos homicídios, é provável que haja a ação de algum grupo organizado que precisa ser combatido. A gente imagina que, desmantelando essas facções, deve diminuir e muito o número de assassinatos. Sem falar que, toda vez que há uma situação de homicídios em série, do outro lado um outro grupo vem e “responde”.

Esta semana houve a troca do comando de uma corporação que constantemente reclama da falta de valorização, ao mesmo tempo em que a população se queixa da falta de preparo de seus agentes. Como a Segup irá orientar essa nova gestão do comando geral da PM no sentido de, simultaneamente, focar nessas duas situações?
A primeira coisa que estamos fazendo é aproximar, trazer a população para perto de nós. Na primeira semana, nós já fizemos duas ações nesse sentido. No dia 8, tivemos uma reunião com mais de 150 lideranças comunitárias, lotou tudo aqui. Achávamos que eram apenas 50, vieram 100 a mais. Vieram inclusive de outras cidades, como Barcarena, Curuçá, Bragança, demonstrando que eles também querem esse diálogo, assim como nós. Essa intensificação de ações que fizemos nos bairros desde 2 de janeiro, fortalecendo o efetivo, além do policiamento, mas também fizemos, por exemplo, no bairro da Terra Firme, oferecimento de serviços como emissão de carteira de identidade, de trabalho. A população às vezes vê a polícia como repressora, né, mas a Polícia Militar levou nessa ocasião médicos e odontólogos da corporação. Poderíamos ter feito uma parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), com a Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesma), mas tivemos essa ideia de a PM mostrar que, assim como reprime, também cuida da população. Os bombeiros militares levaram a banda, a Guarda Municipal levou o Anjos da Guarda, que é um grupo de coral. Se eu tiver de destacar o nosso maior projeto no momento, eu vou falar do Territórios de Paz, que consiste nas polícias entrando permanentemente em bairros onde os índices de criminalidade são críticos para permitir, por exemplo, que os Correios consigam chegar àquelas ruas onde nunca mais entraram por medo de assaltos. Que as escolas abram aos sábados para que, em parceria, ou com a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), ou com a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel), promovam torneios de futebol, gincanas, enfim. Se a quadra de esportes precisar de conserto, a gente garante a segurança para que a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) mande alguém para consertar. Que os postos de Saúde que estão fechados porque médicos têm medo de ir trabalhar possam funcionar, porque a gente vai estar lá garantindo a segurança. Nosso mote é esse, e garantir que a população sinta o que está sendo feito. Se você perguntar hoje se a população está sentindo alguma diferença, vai ouvir que não, mas as diminuições já estão ocorrendo. Nos primeiros 9 dias do ano caiu em 38% o número de homicídios e 43% o número de roubos, em comparação ao mesmo período do ano passado. Não é só reduzir numericamente, é realizar ações que façam com que as pessoas entendam o que está ocorrendo. Quando a pessoa vê o carteiro voltar à sua rua depois de não sei quanto tempo sem ir, ela se sente mais segura, sente uma tranquilidade para fazer as coisas que fazia antes. Uma coisa é a gente dar a ordem para as equipes irem para lá fazer uma ação ostensiva ou uma ação social, outra coisa é mostrar para a população que ela faz parte disso.

O combate a atuação das milícias chega a ser um tabu por conta das constantes descobertas de alguns agentes da segurança pública envolvidos. Como fica a Segup nesse meio de campo?
A primeira coisa é não tapar o sol com a peneira. Admitir que existem grupos que praticam homicídios em série, e que alguns desses grupos contam com membros ou que já foram expulsos da corporação, como é o caso da maioria; ou que foram reformados ou estão na reserva, e há ainda os que estão na ativa, isso existe mesmo. A população jamais vai confiar na Segup se negarmos uma coisa que é real. Não podemos pregar o terror e dizer que não tem controle, porque tem. Nós estamos avançados no trabalho de identificação desses grupos, a Siac já iniciou esse levantamento, separando por localidade, qual grupo atua onde, para que a gente possa, de forma sistemática, combater. Não adianta instaurar 9 inquéritos para 9 mortes em série no Tapanã, por exemplo. Foi um grupo que fez, então é ir atrás, identificar, e esclarecer de uma vez os 9 assassinatos, e evitar que novos crimes sejam cometidos por esse grupo. Para isso, as corregedorias precisam estar muito bem amparadas e fortificadas, para garantir e dar certeza aos agentes que, se fizerem algo errado, serão punidos. Na quinta (10), tive uma reunião no Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA), visitei o Ministério Público Militar, e nossa ideia é encarar, investigar. O problema existe. Dá para ser de uma vez? Não, claro que não. Não é só um grupo ou só um local afetado. Não somos mágicos. Mas vamos mostrar que algo está sendo feito, seja na ocupação, levando serviços à comunidade, quanto no combate, na admissão do que está ocorrendo.

Provavelmente então a Inteligência deve desempenhar um protagonismo nunca antes dado ao setor...
A equipe de Inteligência foi escolhida a dedo, trouxe quem eu pude da própria PF para colocar na Siac. Não vou dizer que antes a Siac não agia, mas as estratégias não eram bem executadas. Um exemplo: os bairros que definimos para atuar a partir de 2 de janeiro foram escolhidos exclusivamente com base nos dados estatísticos e de Inteligência. E quando falo em Inteligência, incluo todo mundo: PM, Polícia Civil, Superintendência do Sistema Prisional (Susipe), Departamento de Trânsito do Estado (Detran), etc. Fizemos um estudo detalhado e, no dia 31 de dezembro, tivemos uma reunião na qual definimos intensificar as ações em 4 bairros de Belém: Terra Firme, Guamá, Cabanagem e Bengui. A prova de que estávamos certos é que em nosso primeiro dia houve problemas na Cabanagem, e estava no nosso radar, já tínhamos equipe para fortalecer aquela área. Se não houvesse planejamento, se fôssemos levar em consideração somente, por exemplo, o número absoluto de homicídios, a Cabanagem não estaria coberta e teríamos de refazer todo o plano de ação. O Guamá é o bairro mais populoso, e onde há mais assassinatos, é uma questão de proporcionalidade. Mas em uma segunda análise, do número de homicídios por 100 mil ou 10 mil habitantes, o bairro do Bengui aparecerá como o mais perigoso para a Inteligência. Por causa dessas análises feitas observando mais de um cenário é que chegamos à conclusão sobre onde atuar de forma imediata. São dois bairros pelos números absolutos e dois pela proporção, e está dando certo. Em que pese as cinco mortes que houve na Cabanagem no nosso primeiro dia, de lá para cá tivemos uma redução, como já disse, de 38% no número de mortes até dia 9. De 1º a 9 de janeiro de 2018 morreram 130 pessoas, agora estamos com 80. É muito, sim, ainda é muito. Mas são 50 vidas salvas. Em relação aos roubos, foram 1.280 a menos em relação a esse mesmo período do ano passado. Acredito que estejamos no caminho certo, mas ainda não é o que a gente quer. Por isso a importância do reforço com a Força Nacional. Hoje estamos em 4 bairros, conseguimos ficar por uma semana, mas depois o efetivo está sugado, precisa de folga. A Força Nacional deve dar um maior apoio para que possamos ficar por meses nessas áreas. Afinal a reforma de uma escola demora, um posto de Saúde para voltar a funcionar demora também.

Sobre a união com as guardas municipais, o que já está sendo feito?
Nessa reunião com as lideranças comunitárias no dia 8 contamos com a presença de algumas guardas municipais. No dia 17 a gente vai reunir com as demais, são 31 no total em atuação em todo o Estado. Algumas virão de longe, de Almeirim, que fica a 3, 4 dias de barco. Além deles, vamos receber também alguns secretários municipais de Segurança Pública. E vamos dizer: a parceria com a sociedade inclui vocês também. A Segup já vinha fazendo, é preciso reconhecer, algumas parcerias específicas, cedendo motocicletas, viaturas. Há um processo em andamento que iremos retomar para a obtenção de coletes para os agentes das guardas municipais. Vamos contar com a parceria e também ajudar a estruturar essas equipes, porque representam um auxílio muito grande nos municípios.

Há ainda o problema da atuação de quadrilhas de roubos a bancos. A Inteligência aqui também é a protagonista nesse combate?
Nosso secretário de Inteligência, não por acaso, foi chefe da Divisão de Homicídios, chefe da Delegacia de Combate a Roubos de Bancos, chefe da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), André Costa. Ele recebeu reforço dentro da estrutura funcional da Segurança Pública, que foi inteiramente escolhida de forma técnica. Tentamos trazer os melhores. Eu quase esvazio a PF, mas trouxe quem pude! (risos) A nossa ideia é agir dessa forma. O delegado André já remontou uma rede de intercâmbio com os próprios bancos, já que cada unidade tem o núcleo que cuida da segurança bancária, para que haja troca de informações. Tenho reunião marcada com o Sindicato dos Bancários para tratar sobre isso. Conseguimos diminuir muito o número desse tipo de ocorrência em uma época, mas a modalidade mudou. Antes era o “sapatinho”, que envolvia o gerente da agência, mas aí veio o “novo cangaço”, que é essa tática de explodir o local. Existe um crime organizado por trás disso, são pessoas que não ostentam, são discretas, não aparecem, são bem estruturados. A gente prende e eles não admitem o crime de jeito nenhum. Completamente diferente do tráfico, em que os criminosos gostam de se expor. Tem de ser então um trabalho bem organizado e muitos atuam no interior, no Sul do Pará. O combate aos ratos d’água segue a mesma lógica e eu, como marajoara, quero que esse trabalho seja feito, sei o que é perder parentes nesses crimes. São vários focos: ratos, milícias, assalto a bancos e, de um modo geral, redução da criminalidade.

Como a Segup pretende se integrar a outras secretarias para promover não só a ostensividade, mas a prevenção de crimes?
A recém-criada Secretaria de Cidadania tem a função específica de articular. Vai funcionar assim: estaremos na Terra Firme ocupando até que as coisas melhorem. A Seduc, se tiver que reformar uma escola, será lá. A Sespa, se tiver que reformar posto, será lá. Asfaltamento também será lá. É o que chamamos de transversalidade. A Segup entra primeiro para garantir que os outros possam vir. Até nossas reuniões devem ser feitas em conjunto. Não adianta uma secretaria em cada ponto, é preciso agir de forma conjunta.

(Carol Menezes/Diário do Pará)

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