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Especialista diz que é importante entender contexto histórico e social do dialeto LGBT

A questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) desse ano trouxe um exemplo de frase em pajubá, o dialeto comumente usado pela comunidade LGBT. Isso despertou a curiosidade de muita gente sobre essa forma de falar tão peculiar e que, para alguns, chega

A questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) desse ano trouxe um exemplo de frase em pajubá, o dialeto comumente usado pela comunidade LGBT. Isso despertou a curiosidade de muita gente sobre essa forma de falar tão peculiar e que, para alguns, chega a ser motivo de risadas.

“Uma tendência das sociedades é, de maneira geral, prestigiar a forma considerada culta do idioma, aquela propagada pela escola. De modo que as diferentes formas acabam por receber um estigma”, explica Regina Cruz, professora do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará (UFPA). De acordo com a docente, o uso do pajubá ou bajubá começa ainda na época da ditadura militar, quando os grupos de homossexuais, em um instinto de autoproteção, criam um código de comunicação secreto - tal e qual existem nos Estados Unidos em comunidades essencialmente afroamericanas.

“A intenção é mesmo de que seja algo para ser entendido só entre eles, mas a estrutura e a sintaxe é toda do Português, por isso é um dialeto”, esmiúça Regina. A inspiração vem do Iorubá, uma língua africana que tem como uma das características o desvozeamento das consoantes sonoras - como a troca do V pelo F, por exemplo, como é comum no pajubá.
Ela defende que todas as variações linguísticas merecem, além do respeito, ser constantemente estudadas, e que os estigmas devem ser combatidos. “As pessoas riem do pajubá como riem das falas do interior, isso é preconceito linguístico. Todas as formas de comunicação são legítimas e merecem ser respeitadas”, avalia. “Diversidade linguística e competência comunicativa são itens que têm que ser estudados. O que vemos acontecer é o preconceito que se tem por determinado grupo, porque na linguagem mesmo, nada justifica”, critica a pesquisadora.

CARACTERÍSTICAS

Já a professora Gilcélia Mendes, mestra em Letras também pela UFPA e docente das disciplinas Linguística e Língua Portuguesa, Conteúdo na Faci | Wyden, afirma que é importante considerar que as diversidades sociais, regionais, culturais e históricas promovem a diversidade linguística da sociedade. “Embora sejamos todos falantes da Língua Portuguesa, precisamos estar conscientes dessa diversidade linguística”, reitera. Ela diz que isso é caracterizado pelos falares (dialetos), seja em relação aos regionalismos (chamados de variação diatópica), seja em relação às variações contextuais sociais e históricas. “Neste sentido, o pajubá, como todos os dialetos, embasa-se na linguagem de determinado grupo que, identitariamente, possui características afins”, reforça.

Uma análise interessante que ela faz é de que quanto maior o desconhecimento sobre as realidades linguísticas, maior também é o preconceito linguístico. “O escritor Marcos Bagno afirma que, como não há uma problematização ou mesmo políticas públicas em relação ao preconceito linguístico na mesma proporção de outros tipos de preconceito, como o racial ou o de gênero, por exemplo, acaba-se muitas vezes, aumentando esse preconceito”, diz. “As inúmeras declarações acerca da questão do Enem é um grande exemplo disso”, lamenta Gilcélia.

(carol Menezes/Diário do Pará)

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