Zenaldo investiu apenas R$ 0,76 por dia para cada habitante na saúde

A Prefeitura Municipal de Belém (PMB) investiu apenas R$ 261,64 em 2017 para cada habitante na área da saúde. Isso dá pouco mais de R$ 21 por mês ou R$ 0,76 por dia. Isso equivale a pouco mais que um pão careca por dia, por habitante. Com a soma do que é investido pelo Governo Federal, o total por habitante no ano passado chegou a R$ 554,92. Ou R$ 1,52 por dia.

A capital paraense aparece em 3.750º lugar no ranking dos 5.561 municípios brasileiros. Entre as capitais, Belém só conseguiu investir mais que as prefeituras de Rio Branco (Acre), Macapá (Amapá) e Salvador (Bahia). Municípios como Teresina (Piauí) e São Luís (Maranhão) estão muito à frente da capital paraense no que diz respeito à valorização da saúde do cidadão.

O valor investido pelo prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB) na área da saúde por habitante está abaixo da média nacional, que é de R$ 743,85. Em 2017 a Prefeitura Municipal de Belém recebeu do Governo Federal R$ 792.329.164.80 para aplicar na área da saúde. Desse total, a maior parte, 60,26%, foi para a assistência hospitalar e ambulatorial. A atenção básica ficou com apenas 15,74% do montante; vigilância epidemiológica com 3,38% e vigilância sanitária com 0,08%.

No Pará, o município onde mais se investe em saúde é Canaã dos Carajás, com valor por habitante de R$ 2.003,08, um dos mais altos do Brasil, colocando o município no 34º lugar do ranking. Esses e outros dados podem ser acessados por qualquer pessoa que desejar saber como a prefeitura de seu município investe o dinheiro da saúde pública no aplicativo gratuito e de fácil manuseio, denominado “Onde está o dinheiro da Saúde?”.

(Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará)

Lançado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco, o aplicativo para smartphones com sistema operacional Android mostra como estão sendo aplicados os recursos da saúde em todas as cidades brasileiras.

A precarização da saúde na capital paraense é bem conhecida da população que precisa recorrer ao sistema público. Desde o início de julho, um dos principais suportes para atendimento de emergência da população está fechado. O Pronto-Socorro Municipal do Guamá teve o atendimento de urgência e emergência interrompido para que o prédio passe por obras de reestruturação e ampliação.

A falta de capacidade para a gestão da saúde de Belém já provocou a perda de R$ 850.200,00 de recursos federais que a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) deixou de receber este ano por não ter cumprido o prazo para cadastramento de 23 Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) no município.

Enquanto isso, nas madrugadas de Belém, as filas em postos de saúde são comuns. O número baixo de fichas para consultas e a grande demanda resultam em filas que começam, às vezes, na noite anterior. Na quarta-feira (26), o DIÁRIO percorreu alguns postos de saúde da capital.

GUAMÁ

Na unidade do Guamá a fila começou por volta das 4h30. O porteiro Rubem Carvalho, 60, conta que tem buscado uma consulta com cardiologista. “São poucas fichas, então se não acordar muito cedo, a gente não consegue. Estou há uma semana tentando conseguir uma ficha para minha esposa ir no cardiologista. Já veio ela, eu e minha filha também”, diz. “O pior é que quando a gente consegue atendimento, o médico ainda falta e a gente fica se arriscando”, diz.

Já no posto de saúde da Pedreira, a fila começou às 2h da manhã com o pedreiro Arlindo Pinheiro, 41, que busca uma consulta com médico clínico. “Pra não correr o risco de não ter o atendimento, preferi chegar cedo. Arrumei esse papelão aqui pra descansar porque até 7h é muito tempo, mas a gente precisa”.

Próximo de Arlindo, o vigilante José Negrão, 43 e a doméstica Nazaré Gomes, 43, também aguardavam a vez sentados em caixotes de madeira. “É melhor esperar sentado porque em pé cansa né? Chegamos aqui umas 3h30, mas já tinha fila. São poucas fichas, mas acho que vamos conseguir. Se deixar pra vir 6h é perda de tempo. Então, tem que madrugar mesmo”, explica José.

Na entrada do posto da Sacramenta, uma placa alertava as pessoas quanto ao número de atendimentos por especialidade. Por volta das 6h30 da manhã a fila já era grande. Algumas pessoas dormiam em papelões, enquanto aguardavam a distribuição de fichas e outros procuravam se agasalhar como podiam.

Para alguns, a fila grande tinha um lado bom, como explica a doméstica Leila Lima, 54. “Hoje eu cheguei às 3h, mas já é a segunda vez que venho aqui buscando atendimento com médico clínico. Mas mais difícil ainda é para oftalmologista que tenho tentado há quase 3 meses. A fila é grande mas se não fosse, tenho até medo. Hoje enquanto esperávamos quase fomos assaltados aqui”, lamenta.

APLICATIVO - Lançado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco, o aplicativo “Onde está o dinheiro da Saúde?”, para smartphones com sistema operacional Android, mostra como estão sendo aplicados os recursos da saúde nas cidades brasileiras.

No posto da Pedreira, cansaço toma conta de quem espera pelas fichas de consultas (Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará)

Usuários vão de madrugada para a fila de posto de saúde

Na unidade de Saúde do Curió Utinga, a dona de casa Leia Munhoz, 42, chegou às 4h30 para tentar uma consulta com ginecologista. “A gente tem que chegar cedo porque, se não me engano, aqui são entregues 20 fichas. Já vim aqui 3 vezes e não consegui. Acordei cedo pensando que seria a primeira, mas sou a 5ª. A primeira chegou aqui por volta das 3h45”, ressalta Leila. A dona de casa Maria Lurdes Ferreira, 48, chegou ao mesmo posto um pouco antes, por volta das 4h para tentar uma consulta para o filho de uma amiga. "Moro perto, mas venho com medo. É difícil conseguir o pediatra. Aí tem médico que falta ou saí de licença... A gente tem que arriscar, não tem jeito", explica Lurdes.

RESPOSTAS

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) afirmou, em nota, que não há necessidade para a formação de filas durante a madrugada nas unidades municipais de saúde. Que o atendimento é feito a partir da abertura das unidades, que dispõem de pediatras, ginecologistas e clínicos generalistas.

Além das consultas médicas, diz o texto, as unidades contam com consultas de enfermagem, serviço social, psicologia, serviços de odontologia, PCCU, curativos e atendem todos os programas preconizados pelo Ministério da Saúde (Idoso, Mulher, Criança, Adolescente, Hiperdia, etc).

Afirma que o acolhimento é diário, sendo aprazadas as consultas de rotinas e os casos urgentes são encaminhados para o serviço social, para serem encaixados na agenda do dia ou referenciados conforme a complexidade, obedecendo a vaga disponível no setor.

Já a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) afirma que a Unidade de Saúde da Pedreira disponibiliza as fichas para o dia, nos turnos da manhã e tarde – e que todos os pacientes são atendidos. O atendimento em urgência é feito durante 24 horas por dia na UBS da Pedreira.

A nota também diz que a UBS tem recebido pacientes de todos os bairros e de outros municípios. Isso faz com que a demanda diária por atendimento seja superior à sua capacidade instalada.

A direção ressalta ainda que está desenvolvendo estratégias para ter uma resolutividade melhor nos atendimentos. A Sespa esclarece que os medicamentos da Atenção Básica são de responsabilidade das gestões municipais de saúde. O Estado é responsável somente pelos componentes especializados.

(Luiza Mello e Josiele Soeiro/Diário do Pará)