Zenaldo culpa o povo por alagamentos

Enquanto o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, apronta as malas para passar oito dias na Europa, a população começa a semana com o trabalho de secar suas casas alagadas e atravessar ruas cheias de água da chuva que, em certos pontos da cidade, demoram dias para desafogar. As enchentes foram causadas pelo forte aguaceiro que desabou sobre a capital na noite da última segunda (5), interditando vias, invadindo residências e congestionando o trânsito por horas.

Em nota, a Prefeitura de Belém informou que atua na retirada de lixo descartado de forma criminosa nos canais e que causa obstrução e alagamentos. Comunicou também que foi identificado que nos bairros centrais o lixo descartado na via pública obstruiu bueiros e causou alagamentos e que equipes da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) atuam na limpeza desses locais.

No bairro do Marco, diversos foram os pontos que sofreram com as torrentes, sendo um deles o trecho da passagem Hortinha, entre as travessas Mauriti e Barão do Triunfo, onde o nível da água obrigava ciclistas e motoqueiros a usar a calçada. “Agora já baixou, mas ontem a água estava cobrindo até mesmo as calçadas, era impossível sair de casa”, denuncia o atendente Jairton Filho, 21, que mora na via alagada. Segundo ele, a rua só deve voltar ao normal hoje, mas desde que não chova mais. “Às vezes, sou obrigado a faltar ao trabalho por causa do alagamento. Como a rua fica interditada, os ônibus não passam e fico sem ter como sair”.

No bairro do Marco, no trecho da passagem Hortinha, a água estava quase na altura da calçada. (Foto: Ney Marcondes/Diário do Pará)

Na Terra Firme não é diferente. A loja de autopeças de Odineia da Silva, 47, foi invadida pela enchente que tomou a avenida Celso Malcher e fez com que ela e seus funcionários tivessem de correr para levantar as mercadorias, a fim de salvar seus produtos. “Já perdi muito material por causa da chuva. Tenho várias peças que ficaram enferrujadas por causa disso e não pude mais vender”, contou.

Seu estabelecimento fica quase na esquina da avenida com a passagem São Pedro, via que permanecia embaixo d’água até ontem e que ainda levaria mais um ou dois dias para secar, segundo a garçonete Ângela Miranda, 33, que há cinco anos mora na passagem. “Sempre foi assim, mas tem piorado nos últimos anos”, revelou.

Segundo as moradoras, a situação piorou no bairro depois do asfaltamento da avenida e de uma construção que tem entupido os bueiros. “Antes enchia, mas secava logo e não entrava água aqui”, disse Odineia.

Até um carroceiro teve dificuldades para passar pela via alagada. (Foto: Ney Marcondes/Diário do Pará)

Sobre o prefeito da cidade, as duas concordam: não faz nada. A comerciante afirma que a prefeitura só aparece algumas vezes para desentupir o bueiro, o que não adianta muito. “Eles fizeram esse asfaltamento de qualquer jeito e deixando a água sem ter para onde escorrer. Agora a gente que tem de lidar com as consequências”, reclamou da Silva. Já Miranda conta nunca ter visto o poder público por lá. “Só aparece em outubro, quando precisa de voto. Eu mesma já estou desiludida”, lamentou.

Questionadas sobre a viagem à Europa do governante, ambas reagiram com impaciência. “Eu acho um absurdo, e isso ainda é com dinheiro nosso!”, critica a proprietária da loja de autopeças. Miranda disse que perdeu as esperanças na classe política por causa disso. “Votei nulo da última vez porque não tinha ninguém em quem eu acreditasse. Agora continua a mesma coisa”, reclamou.

PROMESSAS

Sobre os problemas de alagamentos na área, a equipe de engenharia esclarece que somente serão minimizados com o avanço das obras de macrodrenagem que preveem a construção de um canal de descarga e de um sistema de comportas para controle de marés. Para essas obras, já há projetos elaborados e a Prefeitura de Belém busca recursos para a execução.

(Arthur Medeiros/Diário do Pará)