Família comemora Dia das Mães com tradição inusitada em cemitério

De que forma você encara a morte? Se para alguns ela é vista majoritariamente como dor ou esquecimento, para outros é o momento oportuno de reforçar laços e manter a força da própria família.

A família Barreto, por exemplo, abraçou dessa forma a partida de dona ‘Cecé’, falecida há seis anos, vítima de câncer. Considerada o pilar da família, Irair Gomes Soares Barreto deixou seis filhos e oito netos (o nono veio depois) aos 59 anos, no dia oito de outubro de 2012.

“Todo início de ano ela fazia uma bateria de exames, sempre antes do carnaval porque ela adorava pular carnaval. Mas naquele ano, em que ela se preparava para fazer uma bariátrica, o médico pediu exames mais específicos e foi em junho que ela descobriu que tinha câncer no ovário”, conta uma das filhas, Helane Soares Barreto, de 29 anos.

À época em que descobriu, a doença já estava avançada. Ela seguiu com o tratamento, mas em setembro já estava sem forças para continuar. No final do mês ela precisou ser internada com urgência e foi no início de outubro, após entrar em coma pela manhã, que a família recebeu a triste notícia horas depois.

Irair Gomes (dona Cecé) em vida (Foto: Arquivo Pessoal)

LUTO

“Com a morte dela todos nós ficamos sem chão. Todas as festas que nós fazíamos era na casa dela, até os encontros da família aos finais de semana; todo mundo ia pra lá”.

No segundo domingo de outubro, o Círio de Nazaré, a família foi ao cemitério onde dona Cecé foi enterrada, em Marituba. A naturalidade do encontro naquele dia deixou claro que a família não iria esquecê-la com facilidade.

Naquele momento nasceu a tradição: no círio, natal, dia das mães e no aniversário dela a família decidiu encontrar Irair e deixá-la “a par” de tudo o que acontecia com os netos, os filhos e o marido.

“Todos os filhos escolheram essa data e os nossos encontros no cemitério aconteceram normalmente. Não íamos conseguir apenas enterrá-la e nunca mais voltar. Alguns encaram a morte como uma coisa triste, mas sentar aqui ao lado dela e contar tudo o que tem acontecido foi como a gente encarou a partida”, conta Helane.

TRADIÇÃO

O mais curioso dessa história é que, ao longo desses seis anos, há somente uma única foto da família reunida. Foi justamente na manhã de sábado, 12, em uma clima nublado e com roupas alegres, totalmente contrastando com um cenário apático, que os Barreto decidiram eternizar esse pequeno momento da tradição.

Moradora do jurunas, Helane, as irmãs e o pai saíram cedo porque a viagem seria longa. Chegaram no local por volta das sete e permanecerem até às dez. Não sentiram o tempo passar. “A gente só sentiu que estava tarde porque o sol nos expulsou, tava muito quente”, diz Helane.

A ideia da foto foi de uma das filhas, Keila, que convenceu a turma a eternizar esse pequeno momento porque a serenidade e o clima não davam espaço para a morbidez.

“A ideia de fazer a foto foi da minha irmã, Keila. A princípio tivemos medo que ficasse mórbido demais, mas a Keila disse que era um dia bonito e estávamos com roupas alegres”.

Seis filhos reunidos com o patriarca, Raimundo (Foto: Arquivo Pessoal)

"ATÉ DEPOIS"

O encontro chegou ao fim, mas a próxima visita já está agendada. E, se pintar alguma novidade, certamente vão correr até dona Cecé para contar. Além do mais, onde quer que ela esteja, certamente deve estar orgulhosa da família que ficou.

“Não basta apenas trocar as flores dos vasos, precisávamos colocar a conversa em dia. Sabemos que ela não está lá e até dói quando dizem que ‘é só um espaço vazio’, mas tentamos não ligar para isso porque são os encontros que mantém todos nós unidos”.

(DOL)