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Adolescência até os 24 anos? O que pensam jovens, pais e especialista

Em meio à correria para dar conta dos trabalhos finais do curso de graduação e de possíveis estágios, a volta para casa é marcada pela ‘comodidade’ de encontrar toda a estrutura necessária: alimentação, conforto, afeto. Diante do suporte oferecido, a saíd

Em meio à correria para dar conta dos trabalhos finais do curso de graduação e de possíveis estágios, a volta para casa é marcada pela ‘comodidade’ de encontrar toda a estrutura necessária: alimentação, conforto, afeto. Diante do suporte oferecido, a saída da casa dos pais é cada vez mais adiada pelos jovens em geral. Considerando essa realidade, um estudo australiano já sugere a extensão da adolescência até os 24 anos de idade.

A pesquisa publicada na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health levou em consideração diferentes aspectos para sugerir o prolongamento da adolescência entre os jovens desta geração. Em vez de encerrar aos 19 anos, como preconiza atualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pesquisa australiana sugere que a fase da adolescência siga dos 10 até os 24 anos.

Os argumentos utilizados pela pesquisa vão desde questões comportamentais e psicológicas, até as condições da sociedade atual. A situação econômica vigente e a própria influência dos pais para que os filhos permaneçam em casa por mais tempo são consideradas, apesar de não serem encaradas como determinantes.

Com 20 anos de idade e em processo de preparação do trabalho de conclusão do curso de graduação em publicidade e propaganda, o universitário Antônio Pantoja não vê necessidade de sair da casa da mãe, por enquanto. Ele conta que a estrutura oferecida já lhe possibilita se dedicar de forma mais intensa à preparação para a vida profissional.

“Até um tempo atrás a minha rotina era de aulas na faculdade e estágio. Agora, que estou no último semestre do curso, a rotina é mais voltada para a produção do meu TCC”, considera. “Eu preferi não fazer mais estágio nesse último semestre justamente para ter mais tempo para o TCC”.

DIA PUXADO

A rotina de Antônio inicia bem cedo, quando sai de casa para se dirigir à faculdade. No horário do almoço, ele retorna para fazer a refeição em casa e volta para a universidade, onde realiza as gravações do documentário que integrará o trabalho final da graduação. Caso morasse sozinho, ele acredita que até seria possível manter a rotina. Porém, não tem dúvidas de que seria bem mais complicado. “Essa estrutura ajuda bastante mesmo. Seria possível se eu estivesse morando sozinho, mas seria um obstáculo a mais. Eu tenho amigos que estão nessa condição, mas acaba que a rotina deles tem de ser mais corrida”.

Antônio tem 20 anos e, por enquanto, não pensa em sair da "asa" da mãe, onde tem uma boa estrutura para conduzir seus estudos. (Foto: divulgação)

Quando o futuro é projetado, Antônio considera a possibilidade de sair de casa após a conclusão da graduação apenas se for para morar em outro Estado. “Só se for para mudar de cidade para fazer uma pós-graduação. Ficando em Belém, eu não vejo necessidade ainda.”

O universitário acredita que a prática é uma característica própria de sua geração. Ele também aponta a questão afetiva e a boa relação com a família como outro fator que elimina a sensação de urgência em ir morar sozinho. “Na época dos nossos pais, havia uma mentalidade de logo procurar formar uma família e, na minha geração, já é diferente. Hoje se pensa muito mais no bem-estar próprio, e não em fazer uma coisa só porque a sociedade espera”, avalia. “A preferência delas (mãe a avó) é que eu continue em casa também. Até a possibilidade de eu mudar de cidade não é uma ideia que elas gostam muito.”

Quando questionado sobre a proposta de extensão da adolescência até os 24 anos de idade, Antônio não concorda muito com o termo escolhido para a sua geração. “Adolescência em si acho que é meio absurdo. Eu usaria outra terminologia. Não considero que com 20 anos a pessoa seja um adulto pleno ainda, mas também não é um adolescente”, diz.

JOVEM MANTÉM ROTINA VOLTADA AOS ESTUDOS

José Ribamar não vê problemas em ter a filha Ana Beatriz por perto, mas quer que ela, com o tempo, amadureça FOTO: OCTAVIO CARDOSO

Na idade limite em que, atualmente, a adolescência é considerada, a estudante Ana Beatriz Almeida, 19 anos, também mantém uma rotina voltada para os estudos. Ela conta que se prepara para prestar vestibular para o curso de medicina e encontra na casa dos pais a estrutura necessária para a dedicação que a preparação exige. “Eu até pensei em trabalhar e estudar, mas os meus pais preferiram que eu mantivesse o foco nos estudos para alcançar meu objetivo.”

Como o estágio para o curso de medicina é obrigatório, é mais difícil de ser remunerado. Por causa disso, Ana conta que pretende continuar morando com os pais durante os anos de faculdade. A ideia de sair de casa é pensada após a conclusão da graduação. “Depois de formada, eu pretendo sair, até pela possibilidade de fazer residência em outro Estado.”

Avaliando com naturalidade o fato dos jovens, hoje, morarem por mais tempo na casa dos pais, o engenheiro florestal e pai de Ana Beatriz, José Ribamar Júnior, 52 anos, considera dois principais fatores para este cenário. “O primeiro é a falta de oportunidade. Às vezes, o jovem já ingressou no mercado, mas ainda não tem condições de se manter”, aponta. “A outra é a zona de conforto. Na casa dos pais, é possível usufruir de um conforto que nem sempre é possível conquistar sozinho logo que se forma”.

Apesar de considerar que, em alguns casos, falta um pouco de maturidade aos jovens de hoje, Ribamar não vê nenhum problema no fato de os filhos morarem por mais tempo com os pais. O que ele considera é que tal condição não precisa ser obrigatoriamente vinculada a um amadurecimento tardio. “O problema estaria em perder a perspectiva de buscar a própria independência. É importante passar por algumas situações na vida até porque isso acaba amadurecendo a pessoa.”

O engenheiro comenta que a irmã de Ana Beatriz, a Ana Gabriela, de 24 anos, não mora mais com a família porque se mudou para São Paulo em decorrência de uma oportunidade de emprego. Mesmo que prezem pelo desenvolvimento e amadurecimento das filhas, ele conta que a saída da prole de casa também causa efeito nos pais. “A nossa família é relativamente pequena. Então, quando a Ana Gabriela saiu, sentimos. Nós já ficamos pensando como vai ser quando a Ana Beatriz sair também.”

RELAÇÃO FAMILIAR ESTARIA POR TRÁS DO "PROLONGAMENTO"

Quando se trata do prolongamento da condição de adolescente pelos jovens, a psicóloga mestre em psicologia clínica e social, Niamey Granhen, considera que não é possível determinar um único fator que o explique. Ela considera que a conjuntura familiar, histórica, social e a própria forma como os jovens podem ser constituídos psicologicamente exercem influência sobre essa realidade.

Para quem considera apenas a questão financeira, a psicóloga aponta que não é possível analisar a situação de forma simplista. Para ela, é preciso “considerar os múltiplos fatores envolvidos bem como a própria singularidade das pessoas, mas a dinâmica das relações familiares e sociais tem sido determinantes nesse alargamento da condição adolescente”.

Considerando que é na família que “o ser humano se constitui nos aspectos orgânicos, cognitivos, emocionais e sociais”, Niamey também percebe uma influência dos pais ou responsáveis neste processo. “Temos observado que a família hoje tem desenvolvido jovens mais dependentes e que demoram para amadurecer pois são mais protegidos e gratificados desde a infância, estando menos preparados para lidar com frustrações e com as próprias demandas do mundo adulto.”

A psicóloga alerta para uma consequência possível quando se mantém uma fixação em alguma fase do desenvolvimento. “O problema não é alargar a faixa de idade para a permanência ou saída de uma fase para outra, mas sim um culto ao processo de imaturidade e dependência”, explica. “Hoje já percebemos crianças entrando em sofrimento pelo medo de terem de ficar adultas.”

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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