'Se você disser que eu desafino, amor!'

EDITORIAL DO DIÁRIO DO PARÁ

A linha entre o populismo e o ridículo é tênue. E o governador do Pará, Simão Jatene, a atravessou sem nenhum problema. Na última sexta-feira, 16, enquanto a população de Barcarena entrava com uma ação judicial exigindo que a mineradora Hydro Alunorte, responsável por danos ambientais no município de Barcarena, assuma os custos dos exames clínicos aos habitantes, Jatene optou por cantarolar e dedilhar – mais uma vez – seu violão, em pleno horário de trabalho, desta feita, pasmem, na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), órgão que deveria obrigatoriamente fiscalizar a Hydro Alunorte e que vive inerte, imóvel e incapaz, como o próprio governador, diante da situação de calamidade pública que atinge mais de 20 mil pessoas em Barcarena. Um desrespeito total a quem paga o salário de todos: o povo.

No início da semana passada, enquanto o DIÁRIO DO PARÁ denunciava com exclusividade que a Hydro Alunorte despeja resíduos industriais sem tratamento no Rio Pará, através de um canal antigo, nem Jatene e muito menos a Semas deram o ar de sua graça para soltar a voz, mesmo que desafinada. Afinal, todos sabem que Jatene e Semas há anos tentam blindar a mineradora norueguesa de qualquer complicação jurídica na área ambiental. Sem contar que o governador entregou de mão beijada benefícios fiscais na ordem de R$ 7,5 bilhões à Hydro Alunorte em detrimento da miséria que vive o povo do Pará.

Nem mesmo a confissão pública do diretor de Informação da empresa norueguesa, Halvor Molland, de que ela realmente jogava resíduos tóxicos nas nascentes d’água da região de Barcarena e no Rio Pará com o conhecimento da Semas, que covardemente e criminalmente nunca informou a população que sabia do fato, fez com que o governador cantor subisse ao palco para dar uma explicação à população do Estado, como o fez para defender a Hydro Alunorte quando do transbordamento de suas bacias de resíduos em 17 e 18 de fevereiro. À época, o governador meteorologista preferiu botar a culpa em São Pedro pelas fortes chuvas que caem na região. Como se vê, o governador amigo da mineradora sempre está presente quando ela precisa.

Para fechar o show bizarro de ridicularidades que a administração de Simão Jatene se presta, o assassinato do ativista da Associação dos Caboclos, indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), Paulo Sérgio Almeida Nascimento, morto com quatro tiros na madrugada da última segunda-feira (12), mostra a versão perversa de como um governo poder ser cruel com os mais frágeis socialmente: a Secretaria de Segurança Pública - que investiga a morte de Paulo - é comandada hoje por ninguém menos que Luiz Fernandes Rocha, que a mando de Jatene passou os últimos quatros à frente da Semas defendendo com unhas e dentes os interesses da Hydro Alunorte.

Por fim, Jatene bem que poderia aproveitar a ociosidade, que já lhe é peculiar no exercício do cargo de governador, para fazer um show especial para as comunidades de Barcarena, que estão ávidas para ver o governador cantar naquelas freguesias, já que não dá as caras por lá faz tempo. Que leve seu batalhão de secretários de Segurança para protegê-lo.

Como gosta de dizer na sua simplicidade direta a presidente da Associação Cainquiama, dona “Socorro do Burajuba”:

- Te toca ou te entoca, Jatene!