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Retratos do amor entre mãe e filho e pela educação

Na foto, o que aparece é a felicidade de uma mãe recém-aprovada no vestibular e que segura a mão do filho caçula, na época com apenas dois anos de idade. Ao lado da imagem antiga, uma nova reproduz a cena. Desta vez, é o filho, já com 18 anos, que aparece

Na foto, o que aparece é a felicidade de uma mãe recém-aprovada no vestibular e que segura a mão do filho caçula, na época com apenas dois anos de idade. Ao lado da imagem antiga, uma nova reproduz a cena. Desta vez, é o filho, já com 18 anos, que aparece com a placa da aprovação no vestibular e segurando a mão da mãe. A foto curtida por mais de 15 mil pessoas no Facebook e compartilhada por diversas pessoas até em outras redes sociais não foi guardada à toa. Por trás da foto que circulou pela internet desde a madrugada do último dia 2, estão guardadas as histórias árduas de uma família que tem muito amor pela educação.

A mãe que comemora na foto feita em 2002 é a professora Regiane Barbosa Machado, 47 anos. Ela conta que a imagem que ganhou tanta repercussão foi feita de forma despretensiosa por uma prima, no momento em que o filho correu e a mãe, em meio à comemoração pela aprovação, o segurou pela mão para conduzi-lo de volta. O cenário era o bairro do Jurunas, em Belém.

IMAGEM

A espontaneidade da imagem guarda apenas um momento da longa história de batalha traçada por Regiane para garantir a própria educação e a dos dois filhos. Por isso mesmo, o retrato impresso foi guardado com esmero por 16 anos. “Eu guardei aquela foto com carinho e em todos os momentos difíceis que eu passava eu olhava para ela e pensava: um dia essa cena vai se repetir”.

O árduo percurso enfrentado por Regiane começou quando, ainda cursando o ensino fundamental, ela engravidou da primeira filha. Os desafios impostos pela gravidez aos 16 anos foram enfrentados com a certeza de que a educação seria o único caminho para uma vida mais tranquila. O nascimento da filha Adrielly Barbosa se deu no fim do ano. A licença das aulas durou apenas 15 dias. “Eu decidi retornar logo para a escola porque eu queria concluir o meu ano”, explicou Regiane.

Fotos tiradas em 2002 e 2018 (Fotos: Reprodução e Alberto Bitar)

“Quando eu me vi dentro de uma sala de aula, percebi que era aquilo que eu queria”

Enquanto a mãe estudava e trabalhava - ora como empregada doméstica, ora como manicure -, a pequena Adrielly ficava sob os cuidados da avó, um grande esteio para a formação de Regiane até a conclusão da graduação, anos mais tarde. Apesar do cansaço imposto pela rotina extrema, a mãe seguiu para o ensino médio e concluiu o magistério no Instituto Estadual de Educação do Pará (IEEP).

Foi a partir daí que o destino de Regiane foi traçado com a sala de aula. “Naquela época, as pessoas que tinham o magistério podiam dar aula. Quando eu me formei, uma líder comunitária do meu bairro estava reunindo uma equipe para formar uma escola no centro comunitário e me chamou”, recorda Regiane. “Quando eu me vi dentro de uma sala de aula, percebi que era aquilo que eu queria”.

Com o tempo, ela passou a integrar o quadro de professores da rede estadual de ensino. Desde o início, desenvolveu habilidades para trabalhar com crianças que possuem necessidades especiais - função que desempenhou por 26 anos. Ganhando um salário fixo, nesta fase Regiane planejou ter um filho com o segundo marido. Luís Cardoso (o menino da foto) nasceu no mesmo mês do aniversário da mãe, em março.

Passados alguns anos do nascimento do caçula, mais um desafio surgia na vida de Regiane. Uma lei federal tornou obrigatório que os professores do ensino básico tivessem diploma universitário e licenciatura. A professora não titubeou em buscar a qualificação. Veio a aprovação no vestibular e a rotina mais intensa de trabalho e estudo.

Na época, Regiane trabalhava nos turnos da manhã e da tarde em uma escola distante de casa. O único período disponível para as aulas na faculdade particular foi o da noite. Para que conseguisse dar conta de tudo, Adrielly e Luís passavam o dia sob os cuidados da avó, mãe de Regiane. O curso de pedagogia tem duração de quatro anos, mas, para Regiane, foram necessários sete para ter o diploma em mãos.

“Entre a minha faculdade e a escola do meu filho, eu preferia pagar a escola do meu filho. Tinha semestre em que eu precisava trancar a faculdade porque não tinha condições de pagar”, lembra a professora, ao explicar que Luís possuía bolsa de 50% em uma escola particular. Mesmo nos semestres em que não estava regularmente matriculada na faculdade e mantendo a rotina de dois turnos de trabalho, Regiane não deixava de ir para a faculdade.

AULAS

Assistia às aulas como ouvinte, pesquisava na biblioteca, fazia o necessário para “não perder o embalo”, como ela mesma descreve. “É impossível não se inspirar nessa história”. A constatação inquestionável alcançada por Luís Cardoso se dá justamente no momento em que, enfim, ‘a cena se repetiu’. Luís foi aprovado no vestibular do Instituto Federal do Pará (IFPA) de 2018 e, em maio, inicia as aulas no curso de licenciatura em Química.

Quando Regiane tomou conhecimento da aprovação do filho, estava na sala de aula da Escola São Pio X, onde trabalha. Correu para casa, abraçou o filho, que já comemorava na mesma rua do Jurunas, e entrou em casa. Seguiu para o local onde guardava a foto da sua aprovação no vestibular. Ao aparecer na rua com a lembrança em mãos, um primo deu a ideia de reproduzi-la.

“Fizemos a foto e, na madrugada do dia 2 de março, eu resolvi postar no Facebook. Quando eu acordei, na manhã seguinte, já tinha duas mil curtidas e só foi subindo, até 15 mil”, lembra Luís. “Quando eu vi, a foto tinha sido compartilhada pela página ‘Quebrando o tabu’, pelo ‘Buzzfeed’ e pela cantora Gaby Amarantos.”
Ainda sem acreditar na grande repercussão que a publicação teve na internet, Luís conta que várias pessoas lhe enviaram mensagens parabenizando-o pela conquista. Como retribuição aos votos de felicidade, a resposta repetida pelo jovem calouro não poderia ser mais bonita. “Eu vi muitos professores que mudaram a vida de muitos jovens e eu também quero ajudar as pessoas por meio da educação.”

Entre os professores que fazem a diferença, a mensagem publicada por Luís junto com a foto deixa claro quem foi a principal inspiração. “Ela sempre me apoiou e disse que o estudo era tudo”. Comovida com as lembranças da própria história e com o caminho que começou a ser traçado pelo filho, Regiane resume em uma frase a emoção sentida. “A minha vida tomou outro rumo porque eu insisti em estudar. O tamanho da minha emoção é muito grande porque eu sei que ele vai poder cursar a faculdade dele sem passar pelo constrangimento de não poder pagar.”

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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