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Farinhas saborizadas de açaí e maniçoba conquistam mercado

Da produção rural para o pratoFarinha saborizada de açaí e maniçoba orgânica são alimentos frutos de criações diretas de produtores e comunidades rurais ou tendo como base os ingredientes produzidos por eles ALIMENTAÇÃODominik GiustiComunidades e pequenos

Da produção rural para o prato

Farinha saborizada de açaí e maniçoba orgânica são alimentos frutos de criações diretas de produtores e comunidades rurais ou tendo como base os ingredientes produzidos por eles


ALIMENTAÇÃO

Dominik Giusti


Comunidades e pequenos produtores rurais paraenses investem em suas próprias criações culinárias, com foco na valorização da identidade cultural. Localizada em Santa Bárbara, no nordeste do Estado, a Colônia Chicano tem sido um exemplo dessa prática, que envolve os preceitos de economia solidáriae sustentabilidade.

Com vocação natural para o desenvolvimento agrícola, a comunidade localizada a cerca de 50 km de Belém e com aproximadamente 500 moradores, passou a se estruturar em torno da comercialização das frutas, verduras e o que mais da terra se tirar, além de recentemente, abrir uma nova frente: o turismo ecológico e alimentar, com a criação do Empório Chicano.

É de lá que se testam novidades como o bolinho de biomassa de banana com palmito pupunha e pesto de jambu, criação dos próprios agricultores. A maniçoba orgânica, com o cultivo das folhas sem agrotóxico, e o porco defumado de livre criação, pode ser encontrada no Ponto de Cultura Alimentar Iacitatá, no bairro da Cidade Velha, em Belém.

César de Mendes, que mora na Colônia Chicano há seis anos é o responsável pelo empório. Ele conta que a mudança tem trazido benefícios para a comunidade. “Foi um processo natural. Aqui as pessoas são muito próximas. Também temos ao nosso redor dois assentamentos rurais e uma outra comunidade, a Maurícia, de onde vem os peixes e camarão”, diz.

A ideia de fazer o empório surgiu após a constatação de que toda a movimentação da vila girava em torno do alimento. “Começamos a receber visitas de pessoas interessadas na nossa maneira de cozinhar, nos saberes ancestrais. Foi quando abrimos o empório e hoje quem nos visita também pode levar nossos produtos. Além disso, tem opção de passeio no rio, hospedagem, pedalar, fazer trilhas”, informa.

Do plantio em Santa Bárbara até Belém, o contato direto com os produtores. E este é um dos pontos mais valorizados pelos chefs Tainá Marajoara e Carlos Ruffeil, do Iacitatá - que eles fazem questão de explicar que não é um restaurante e sim, um ponto de cultura alimentar.

Tainá Marajoara e Carlos Ruffei compram os produtos de colônias e vilas de agricultores nos arredores da capital. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

CARDÁPIO

No cardápio do Iacitatá, os chefs têm carnes e peixes orgânicos; frutas, legumes e verduras compradas diretamente de colônias e vilas de agricultores nos arredores da capital, como as ilhas do Combu e do Maracujá; a farinha do seu Bené, de Bragança; e também de produtores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), como o arroz e o café.

O ponto também é um local onde se defende o saber caboclo como um saber legítimo. “Eu cresci com os cantos caruanas, com os desenhos e com as marcas, as palavras. E com a cultura alimentar. Minha família é de Cachoeira do Arari. E eu comia tamuatá, kanhapyra, kauauá, marreca. As caças todas, pirarucu e jacaré”, relembra Tainá Marajoara. E assim, depois de passagens pelo teatro e pela comunicação, ela decidiu criar o projeto o projeto CATA – Cultura Alimentar Tradicional Amazônica, com a catalogação de centenas de ingredientes, usos e receitas a partir de pesquisas pela região amazônica desde 2009. E dessas pesquisas, a culinária se reinventa e se recombina. Como a tacacarana, surgida do sonho de Tainá, e realizada em conjunto com Ruffeil.

“Ela me disse que teve esse sonho e fomos testar. Misturamos todos os ingredientes do tacacá, exceto o camarão, e ficou uma espécie de molho que servimos com arroz ou farinha. Leva somente jambu, chicória, alfavaca, goma, tucupi e pimenta. Recebemos muitos estrangeiros e eles costumam estranhar, mas quem é daqui, não tem jeito, reconhece o sabor e gosta bastante. Isso porque o gosto e a tendência de gostar de determinada comida também é cultural”, explica Carlos Ruffeil.

Preparado de forma coletiva, o cardápio do Iacitatá é reelaborado conforme o tempo de cada cultura. “Aqui, no período do defeso, a gente não vende caranguejo e as espécies de peixe que estão nesse período. Deixa eles namorarem, é o tempo deles”, brinca Tainá -que já rodou o mundo falando sobre os alimentos da Amazônia, é conselheira nacional de cultura alimentar e ativista de direitos humanos.

Nazaré com sua produção de farinha de vários sabores. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

SABORES VARIADOS DE FARINHA

Na terra da farinha, em Bragança, a produtora rural Nazaré Rodrigues, 68, decidiu colocar no produto outros sabores. E assim surgiu a farinha saborizada de açaí, camarão, charque e a funcional (com soja, castanha-do-pará, chia e gergelim branco).

“Quando comecei a fazer isso, era mais quem me dizia que não ia dar certo. Lá é tudo muito tradicional, e fui mexer logo com o símbolo da cidade. Mas já estamos mandando para o Rio de Janeiro”, afirma Nazaré.

Pedagoga de formação, ela morou muito tempo em Belém e partiu de volta ao interior para seguir os passos de seu pai, que também era produtor de farinha. Mas agora, ela buscou maneiras de mecanizar a produção para aliviar o trabalho braçal extenuante, que chegava a durar de 4h30 da madrugada até 19h. Mas Nazaré garante que a essência da produção se mantém, com a plantação da mandioca em seu próprio sítio.

Já são quatro anos de aprendizado e adaptações. “A gente foi testando primeiro com os amigos, para saber o que eles achavam, até chegar nesse modelo. Tentamos com calabresa, mas ficava muito gordurosa e o sabor se alterava, daí paramos de produzir. Fomos em busca do que não se deteriorava fácil. Para a farinha de jambu, a gente desidrata a folha e a flor e mistura”, conta. E até mesmo na farinha é possível sentir os lábios tremerem.

A filha de Nazaré, Gisane, conta que a mãe costumava fazer misturas em casa, mesmo sem a aprovação dos filhos. “A mamãe começou com beterraba e acaí. Mas a gente não gostava, pois ficava adocicado. Agora estamos tendo bastante retorno”, relembra.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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