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Pacientes esperam até 5 anos por exames para transplantes de rins no Pará

Por três dias a cada semana, Elizeu Muniz dos Santos, 58 anos, precisa interromper suas atividades para ter o braço esquerdo ligado a uma máquina de hemodiálise. A cada sessão que o paciente renal crônico precisa fazer, perde não apenas quatro horas de se

Por três dias a cada semana, Elizeu Muniz dos Santos, 58 anos, precisa interromper suas atividades para ter o braço esquerdo ligado a uma máquina de hemodiálise. A cada sessão que o paciente renal crônico precisa fazer, perde não apenas quatro horas de seu dia, como também cerca de 2,5 kg. Apesar de debilitante, o tratamento precisa ser mantido já que Elizeu aguarda há dois anos na fila do transplante.

Para além da obtenção de um rim compatível, uma das principais dificuldades enfrentadas por Elizeu e outras centenas de pacientes, no Pará, está na demora para a realização dos exames pré-operatórios por meio do Sistema Único

de Saúde (SUS).

Para que estejam aptos a realizar a cirurgia no Estado, são cobrados cerca de 40 exames dos pacientes. O problema é que o período de espera para realizá-los é de 3 a até 5 anos. “Pra conseguir fazer um exame você vai hoje e marca para daqui a um mês. Aí só depois de 2 meses é que chega o resultado. Desde que eu recebi o pré-transplante, há dois anos, eu só consegui fazer 8 dos 40 exames pedidos”.

Elizeu tem rins policísticos, quando vários cistos se formam no órgão até que ele fique sem funcionamento. Por causa da doença, ele conta que precisou interromper a profissão de açougueiro. Hoje sobrevive com o recebimento de benefício no valor de um salário mínimo. A condição faz com que ele seja obrigado a enfrentar a longa espera para fazer os exames pela rede pública de saúde. “Para fazer todos esses exames no particular ia sair numa faixa de R$10 mil porque só um desses exames custa R$1.800”, estima o paciente.

Enquanto espera pelo dia em que terá conseguido realizar todos os exames necessários, Elizeu lembra que pode estar perdendo a oportunidade de ter uma vida com mais qualidade. “Pode aparecer um rim compatível pra mim, mas não vou poder fazer o transplante porque os exames não estão prontos. Pode acontecer do resultado só vir depois que aparece o rim e aí o paciente perde aquela oportunidade”.

Sempre que aparece um rim de um doador morto, o procedimento é reunir um grupo de pacientes que aguardam na fila – obedecendo à ordem de espera – e que já estão com os exames todos completos. Deles, será avaliado quem tem compatibilidade com o órgão doado. Caso o paciente não tenha todos os exames, ele nem pode ser considerado para a cirurgia. “Não sou apenas eu, mas a maioria das pessoas se sente abandonado pelo poder público”, desabafa Elizeu. “É muita gente que está na mesma situação”.

ASSOCIAÇÃO

Na mesa da Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Pará (ARCT), os papéis de requerimento para a realização dos exames se acumulam desde agosto do ano passado. Tesoureira da associação, Belina Soares reforça que o caso de Elizeu não é isolado. Dos 508 pacientes renais crônicos que aguardam por um transplante no Pará, apenas 73 estão ativos. Ou seja, estão com todos os exames necessários completos e dentro da validade. “Se aparecer um órgão, apenas esses 73 poderão concorrer a ele”, afirma..

Associação tem de recorrer à Justiça

Belina Soares explica que o maior problema está na realização de exames específicos, como o doppler (exame que utiliza ultrassom para verificar a velocidade da circulação sanguínea), a cintilografia renal (que permite a avaliação da função renal) e uretrocistografia (radiografia que avalia a bexiga e uretra).

Segundo a representante da associação, nem o município e nem o Estado dispõem de prestadores para esses tipos de exames. “Os pacientes não conseguem realizar esses exames pelo SUS e o processo fica empacado”, explica. “Com essa espera, o paciente pode chegar a um estágio em que o transplante não dá mais jeito”.

Belina explica, ainda, que a única saída encontrada pela associação é recorrer à Justiça para que o sistema público de saúde seja obrigado a encontrar uma forma de disponibilizar tais exames. “Nós oficializamos o pedido de exame para as secretarias (municipal e estadual) para que possa ser judicializado. Há quem reclame da judicialização. Mas, se a saúde não funciona, nós só podemos fazer isso”.

Cirurgia é realizada em apenas 3 cidades do Pará

Em meio ao atraso que tal processo pode gerar, quem fica penalizado são os pacientes que necessitam do transplante para sobreviver. “Há casos de pessoas que têm doadores vivos (filhos, entre outros parentes), mas que não conseguem fazer o transplante porque não têm todos os exames necessários”, alerta a presidente da ARCT, Joseane Muniz.

Associado à demora na realização dos exames, a falta de estrutura necessária para a efetivação dos transplantes de rins também é apontada pela Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Pará (ARCT). Segundo a entidade, apenas uma equipe médica realiza o procedimento em toda a Região Metropolitana de Belém (RMB).

Belina Soares, tesoureira da associação, aponta que apenas três municípios realizam transplante de rim no Pará: Belém, Santarém e Redenção. Deles, apenas a capital paraense está apta para realizar transplante a partir de um doador falecido. Os demais municípios realizam apenas entre vivos. Para atender a toda a demanda da RMB, há apenas uma equipe atuando. “O Hospital Ophir Loyola realiza os transplantes de rim pelo SUS e o Hospital Saúde da Mulher realiza pela rede particular. Para os dois hospitais a equipe é a mesma”,

explica Belina.

Para Belina o impasse não estaria na falta de pessoal para compor mais equipes já que, segundo ela, até há profissionais capacitados para tal. A dificuldade maior estaria, realmente, na estrutura física necessária para que mais equipes atuassem. “O que falta é a estrutura nos hospitais para estarem aptos e habilitados para fazer o transplante”.

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) afirma que o Hospital Ophir Loyola é credenciado e contratualizado para a realização dos exames citados e recebe regularmente os repasses de recursos diretamente do Ministério da Saúde.

A secretaria ressalta que já notificou o Ophir Loyola sobre a não realização dos exames e foi informada que o hospital aguarda a conclusão de processos licitatórios para aquisição de novos equipamentos.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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