Izabela Jatene terá quase R$ 1 bilhão para gerir em 2018

Em pouco mais de 24 horas, a base aliada ao governador Simão Jatene (PSDB) na Assembleia Legislativa garantiu cerca de R$ 926 milhões, a serem administrados por Izabela Jatene, filha e secretária dele, em 2018. São recursos advindos de empréstimos/operações de crédito ao Estado sob responsabilidade da Secretaria Extraordinária de Estado de Municípios Sustentáveis, na qual Izabela é titular da pasta.

Depois dos R$ 595 milhões junto ao Banco do Brasil aprovados na terça-feira (12), destinados à pasta da herdeira e ainda à da Fazenda (Sefa), ontem foi a vez de, novamente por maioria simples e em redação final, ser aprovado um projeto de lei autorizando a contratação de US$ 100 milhões (ou R$ 331 milhões) junto à Corporação Andina de Fomento (CAF). A destinação é o “Programa Municípios Sustentáveis do Estado do Pará”. E só ontem, depois de a oposição cobrar, o Governo sinalizou que deve enviar detalhamentos sobre a utilização dos valores previamente liberados nesse empréstimo internacional.

Os recursos ainda precisam passar por outras tramitações, com o próprio Banco do Brasil e o Senado. Jatene tanto fez que conseguiu garantir um cofrinho e tanto para a filha no ano que vem. E isso não começou ontem. A primeira tentativa ocorreu em maio, quando o governador tentou fazer o projeto passar - na época o valor era de US$ 153,4 milhões, mas desde lá ficou o aviso de que o Ministério do Planejamento não autorizaria mais do que US$ 100 milhões, o que acabou se confirmando ontem.

REPERCUSSÃO

Iran Lima, líder do PMDB, admite a dificuldade em acreditar na real destinação de tanto dinheiro enviado a uma secretaria especial e sem dotação orçamentária - a pasta é subordinada à Casa Civil. “Pedimos detalhamentos, mas são atividades que vão, inevitavelmente, levar os prefeitos a sentar com Izabela”, lembra o deputado. “É o último ano de Governo, não vai dar tempo de concluir nenhuma obra e ainda vai comprometer as administrações futuras. Se hoje não tem dinheiro para investimento, como que se vai pagar a dívida depois?”, questiona Lima.

Pelo PT, Carlos Bordalo lembra que a bancada de oposição, como um todo, sempre se faz maleável na hora de aprovar investimentos, mas não se furta de fazer observações sobre a fiscalização do uso do dinheiro. “Precisa-se saber de que forma as prefeituras vão se habilitar a receber os recursos. Não pode ser só asfalto ‘eleitoral’”, avalia. “Espero sinceramente que se converta em investimentos que cubram depósito, transporte e destinação do lixo. Tem de ter sustentabilidade, gerar emprego e renda, para o investimento render a longo prazo”, avalia.

Também pelo PMDB, Francisco Melo, o Chicão, levantou uma preocupação sobre o quanto esses empréstimos vão impactar nos juros que o Estado já paga anualmente. “Foram R$ 249 milhões esse ano e a estimativa é de R$ 353 milhões para o ano que vem - sem essas operações autorizadas essa semana”, reforça. “Está muito claro para nós que é Izabela quem vai negociar e dizer como os contratos com as prefeituras vão ocorrer, já que ela é quem está à frente da secretaria que recebe os valores. Isso é moeda eleitoral, é dinheiro para viabilizar obras que deem retorno eleitoral”, prevê

(Carol Menezes/Diário do Pará)