Abandonado, Mercado de São Brás faz 106 anos

Inaugurado em 21 de maio de 1911, o Mercado de São Brás pretendia atender à demanda comercial gerada pela ferrovia Belém/Bragança nos tempos áureos do ciclo da borracha na Amazônia. Passados 106 anos da inauguração da construção encomendada pelo então intendente Antônio José Lemos, o imponente mercado ainda resiste ao tempo, mas não sem sofrer os efeitos da falta de manutenção.

Organizados em cerca de três mil metros quadrados, aproximadamente 500 trabalhadores ainda garantem o sustento de suas famílias das atividades desenvolvidas no Complexo de São Brás. Em um único espaço, o cliente pode ter acesso a vendas de carnes e peixes, lanches, refeições, vinis e cds, produtos de mercearia, pet shops, serviços de movelaria, costura, sapateiro e o que mais estiver exposto nos boxes.

A especialidade do feirante Edilberto Guimarães, 51, está nos cds e dvds que, em muitos casos, já são raros em outros centros de comércio na capital. Encarando o mercado como sua primeira casa, já que passa mais tempo no local de trabalho do que na própria residência, ele não esquece a data que em que passou a ocupar um dos boxes. “Eu cheguei aqui no dia 31 de outubro de 1999 e desde então venho batalhando”, lembra, com orgulho. “Nós acabamos nos tornando uma grande família”, completa.

Exatamente por ter vivenciado cada mudança sofrida no prédio ao longo dos anos, a tristeza de Edilberto ao constatar a atual situação do mercado é maior. Diante das paredes com infiltrações e rachaduras, do mato que brota das próprias colunas do prédio e das vidraças danificadas, ele lamenta o abandono do patrimônio. “Ele não chegou à situação que está hoje de um dia para o outro. Ele foi se deteriorando ao longo dos anos por falta de manutenção”, aponta.

Cobrança

Presidente da Associação dos Feirantes do Complexo de São Brás e da Associação dos Feirantes de Belém, Rosana Martins conta que vários ofícios foram entregues à Prefeitura Municipal de Belém pedindo reformas para o prédio, mas não houve resposta. Ela lembra que quando o Mercado completou 100 anos, a administração municipal prometeu resolver o problema da caixa de energia do mercado, mas até hoje as fiações seguem completamente embaralhadas no local.

Apesar de alarmantes, os problemas estruturais apresentados pelo mercado não são a única preocupação dos feirantes. Rosana lembra que, hoje, a segurança é a demanda mais urgente. “Estão ocorrendo muitos assaltos. A área da emissão da carteirinha de meia-passagem já foi assaltada três vezes. Essa falta de segurança afasta os clientes”, alerta.

A técnica em enfermagem Rosângela Raiol, 60, foi ao mercado por acaso e não escondeu o medo de ser vítima de assaltos no entorno do prédio. “Fazia muito tempo que eu não vinha aqui. Eu fico com medo porque a gente vê que estão tendo muitos assaltos”, considera. “Ver um mercado tão bonito como esse maltratado é uma vergonha para Belém”, lamenta.

Para entender

Curiosidades

A construção do Mercado de São Brás foi iniciada no dia 1º de maio de 1910 e foi concluída pouco mais de um ano depois, no dia 21 de maio de 1911.

O prédio foi construído na administração de Antônio José Lemos.

O projeto e a execução da obra do mercado foi comandada pelo arquiteto italianoFilinto Santoro.

O prédio foi tombado pelo PatrimônioHistórico Municipal e Estadual em 1982.

Para entender

Respostas

A Secretaria Municipal de Economia (Secon) diz que já enviou as demandas necessárias para reforma à Secretaria de Urbanismo (Seurb) para inclusão no projeto de reforma do complexo.

A Seurb está providenciando os procedimentos necessários para a contratação da empresa especializada para elaboração do projeto de restauro do mercado.

(Cintia Magno/Diário do Pará)