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BRT de Jatene custará mais caro que o de Las Vegas

É incrível, mas verdadeiro. O BRT (Bus Rapid Transit) Metropolitano de Belém custará mais caro por quilômetro do que dois BRTs da rica cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos. O MAX (Metropolitan Area Express) possui 12,07 km de extensão e foi inaugurado

É incrível, mas verdadeiro. O BRT (Bus Rapid Transit) Metropolitano de Belém custará mais caro por quilômetro do que dois BRTs da rica cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos.

O MAX (Metropolitan Area Express) possui 12,07 km de extensão e foi inaugurado em 2004. Já o SX (Sahara Express), com 36,50 km, foi inaugurado em 2012.

Mas cada um custou, segundo o site BRT Data, menos de 5 milhões de dólares por km (ou R$ 15 milhões ao câmbio atual), já incluindo, além do corredor de tráfego, a infraestrutura específica, como é o caso das estações.

Foto: divulgação

Enquanto isso, o valor anunciado pelo governador Simão Jatene para o BRT Metropolitano, que terá apenas 10,75 km de extensão, é de R$ 530 milhões (ou 177 milhões de dólares).

Isso corresponde a 16,5 milhões de dólares por km, cerca de R$ 50 milhões.

É mais do que o triplo do que os dois BRTs de Las Vegas, cuja renda per capita de US$ 22.060 é várias vezes superior ao Pará, com seus R$ 708 no ano passado, terceira pior renda per capita média do Brasil, atrás apenas do Maranhão e de Alagoas.

O valor do empreendimento foi publicado pela Agência Pará, a central de informações do governador, que detalhou o custo e o tamanho do BRT Metropolitano.

BRT DE JATENE POR POUCO NÃO SUPERA TRANSCARIOCA

Tão ou mais impressionante é que o BRT Metropolitano por pouco não supera, inclusive, o custo por quilômetro do gigantesco BRT Transcarioca, no Rio de Janeiro, que entrou em operação em junho de 2014, para a Copa do Mundo, e possui capacidade para mais de 300 mil passageiros por dia.

O Transcarioca tem 10 viadutos, 9 pontes, 3 mergulhões, 45 estações e 5 terminais de integração. Apenas a ponte estaiada da Barra da Tijuca, com 900 metros de extensão, custou R$ 120 milhões.

Foto: divulgação/PAC

Segundo a prefeitura do Rio de Janeiro, a obra consumiu 21 toneladas de aço (equivalentes ao peso de 18 estátuas do Cristo Redentor) e 270 mil metros cúbicos de concreto (suficientes para construir 3 estádios do Maracanã).

Pois muito bem: o Transcarioca tem 39 km de extensão e o custo mais alto que se atribui a ele é de R$ 2 bilhões, incluindo as desapropriações.

Ou seja: o Transcarioca ficou em torno de R$ 50 milhões por km, praticamente o mesmo valor do BRT de Jatene, que terá apenas 10,75 quilômetros de extensão, 26 estações, 2 terminais de integração, 13 passarelas para travessia de pedestres, 1 viaduto de quatro pétalas e um Centro de Controle Operacional.

Veja um vídeo de 2012 sobre o Transcarioca:

MAIS CARO DO QUE MANAUS E AUGUSTO MONTENEGRO

Se a estimativa de Jatene se confirmar, o BRT Metropolitano também ficará entre os mais caros do Brasil e será “exemplar” até para os padrões “orçamentários” dos tucanos, digamos assim.

Em Manaus (AM), estima-se que o custo será de R$ 1,2 bilhão para os 50 km do BRT, segundo o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB), que deve cortar a cidade de Norte a Sul e de Leste a Oeste, o que corresponde a R$ 24 milhões por km.

Foto: reprodução/Fortalbus

Já o BRT que o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho (também do PSDB), executa na rodovia Augusto Montenegro ficará em torno de R$ 290 milhões, incluído um aditivo superior a R$ 20 milhões, de dezembro passado.

Como terá 13,90 km, o seu custo por km será de R$ 21 milhões, ou menos da metade do BRT Metropolitano.

MAIS CARO QUE OUTROS ESTADOS

Veja outros BRTs que também custarão bem menos do que o BRT Metropolitano de Jatene.

Alguns ficarão em um terço do Metropolitano de Belém, apesar de situados em cidades muito mais ricas:

Florianópolis (SC)

Foto: reprodução

De acordo com o Governo de Santa Catarina, o BRT Metropolitano terá 87 km de extensão e o custo total da obra será de R$ 1,4 bilhão (já incluídos R$ 300 milhões em indenizações), o que dá pouco mais de R$ 16 milhões por km, com 57,5 km de vias e faixas exclusivas, com 36 estações, 4 terminais de integração, 76 paradas e wi-fi gratuito nos ônibus, paradas, estações e terminais.

Recife (PE)

Foto: reprodução/YouTube

Em Recife, o BRT Via Livre Norte-Sul começou a operar em 2014, mas ainda está parcialmente concluído. Atenderá 8 cidades e mais de 155 mil pessoas por dia. Terá 33 quilômetros e ficará em R$ 180 milhões – ou seja, menos de R$ 6 milhões por km.

Fortaleza (CE)

Foto: divulgação/Secretaria de Turismo

<>Quatro BRTs em construção somam 20 km de extensão e estão orçados em R$ 232,4 milhões, ou seja, menos de R$ 12 milhões por km. O projeto também prevê a construção de túneis.

Goiânia (GO)

Foto: reprodução

Está sendo construído o corredor Norte-Sul, com 38 estações, 7 terminais e capacidade para 12 mil passageiros por hora. A extensão pode alcançar 27 km o vaor total, R$ 340 milhões. No entanto, mesmo dividindo o valor mais alto pela menor extensão, o custo será inferior a R$ 16 milhões por km.

Brasília (DF)

Foto: reprodução/YouTube

Com 8 estações e 2 terminais, o expresso DF Sul, segundo o Distrito Federal, terá 27,5 km de extensão e deve custar R$ 704,7 milhões, o que representa R$ 25,6 milhões por km.

Palmas (TO)

Foto: divulgação/Prefeitura de Palmas

O BRT está orçado em cerca de R$ 454,5 milhões para 35 km de extensão, o que significa R$ 13 milhões por km, porém o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a paralisação da obra por considerá-la “fora da realidade” e que poderá causar um prejuízo de R$ 227 milhões aos cofres públicos. Além disso, Polícia Federal investiga suposta fraude na licitação.

Porto Alegre (RS)

Foto: reprodução

A estimativa mais alta localizada para os 3 BRTs em construção (Protásio Alves, João Pessoa e Bento Gonçalves) está no portal da Transparência da prefeitura.Consta que terão 17,2 km de extensão e custará aproximadamente R$ 213,3 milhões, já incluídas desapropriações e sistema de monitoramento.

O custo será, portanto, inferior a R$ 13 milhões por km.

BRT DE JATENE ENCOLHEU E O PREÇO AUMENTOU

O BRT de Jatene faz parte do “Ação Metrópole”, programa executado pelo Governo do Estado, com financiamento da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

Em 17 de abril de 2011, o DIÁRIO publicou uma reportagem na qual o coordenador geral do Ação Metrópole, César Meira, informou que os corredores do BRT da Almirante Barroso e BR-316 estavam orçados em R$ 480 milhões.

Meira não disse, mas já se sabia, à época, que esse corredor teria uma extensão de 27 quilômetros, desde o centro de Belém até Marituba.

Só que, no ano eleitoral de 2012, o então prefeito Duciomar Costa resolveu executar o “seu” BRT, na Almirante Barroso. A obra foi embargada várias vezes pela Justiça, porque sequer possuía projeto ou financiamento.

Mas com toda a confusão que gerou, os BRTs da Almirante Barroso e do centro de Belém acabaram sob a responsabilidade da Prefeitura, com recursos provenientes do Governo Federal.

Com isso, o BRT do Governo do Estado, financiado pela JICA, “encolheu” para os 10,75 km que vão do Entroncamento até Marituba. Mesmo assim, o valor acabou estimado em R$ 530 milhões, apesar de ter “perdido” os 17 km da Almirante Barroso e do centro de Belém. Dá para entender?

A coisa toda fica ainda pior quando se examina o último estudo da JICA sobre o Ação Metrópole, realizado em 2009, a pedido do Governo do Estado. No estudo, o custo para a construção de uma via de BRT é estimado entre 4 a 5 milhões de dólares por quilômetro (ou R$ 15 milhões, ao câmbio atual).

A informação está na página 1 do capítulo 5 do “Relatório do Ação Metrópole”, que pode ser acessado no site do Núcleo de Gerenciamento do Transporte Metropolitano (NGTM).

E todo o sistema de BRTs de Belém e Região Metropolitana (incluindo a faixa exclusiva da Almirante Barroso; canaletas na Augusto Montenegro e BR 316; faixas preferenciais no centro de Icoaraci e centro expandido de Belém; terminais de Ananindeua, Marituba e Icoaraci; requalificação do terminal de São Brás; estações do Tapanã e Mangueirão e 40 pontos de paradas), ficaria em 223,2 milhões de dólares, ou R$ 513,4 milhões, no câmbio da época, e R$ 824 milhões em valores atualizados pelo IPCA-E de fevereiro. A informação está na página 8 do capítulo 6 do mesmo relatório.

Ao fim e ao cabo, porém, só na BR-316 e na Augusto Montenegro o BRT deverá consumir pelo menos R$ 820 milhões, fora os mais de R$ 300 milhões torrados na Almirante Barroso e os R$ 140 milhões que a Prefeitura pretende investir em um corredor de BRT de Icoaraci ao centro de Belém.

A IMPRESSIONANTE TURBINAGEM DO BRT METROPOLITANO

Pelo estudo da JICA de 2009, a implantação do BRT da BR-316 (mais os terminais de Ananindeua e Marituba e 8 paradas específicas), ficaria em torno de 73,6 milhões de dólares, ou R$ 169 milhões ao câmbio da época, e R$ 272 milhões em valores corrigidos.

Para justificar os R$ 530 milhões em que Jatene calcula, atualmente, o BRT Metropolitano, foram acrescentadas várias obras: um viaduto de quatro pétalas, no km 6,5 da BR; “túneis” de acesso aos terminais de Ananindeua e Marituba; um Centro de Controle Operacional, 13 passarelas, para travessia de pedestres, e mais 18 estações, totalizando 26.

Clique aqui e confira a publicação do NGTM, de junho de 2015, sobre o BRT Metropolitano. O problema é que, mesmo assim, a conta não fecha.

O viaduto Daniel Berg, inaugurado em maio de 2010, no cruzamento das avenidas Júlio César e Pedro Álvares Cabral e tem “quatro pétalas”, custou R$ 23 milhões - ou R$ 35 milhões atualizados.

Em João Pessoa (PB), o Trevo das Mangabeiras, que inclui um viaduto de “quatro pétalas”, inaugurado em agosto de 2015, ficou ainda mais barato: R$ 26 milhões, ou R$ 29 milhões corrigidos.

Foto: reprodução

Já o centro de controle operacional de Belo Horizonte (MG), que é considerado modelo e funciona em um prédio de três andares e 3 mil metros quadrados, custou, em 2014, na maior estimativa, R$ 38 milhões - ou R$ 46 milhões corrigidos.

Só que o centro que será “construído” por Jatene terá 1.479,90 metros quadrados e ficará - vejam só - no antigo Palácio dos Despachos, localizado na rodovia Augusto Montenegro, km 9, nº 5854, onde atualmente funciona o Comando Geral da Polícia Militar. Daí que essa “construção” não deveria consumir tanto dinheiro, pois não?

No caso das 18 estações acrescentadas por Jatene, a melhor comparação é com aquelas que a Prefeitura de Belém vem construindo para o BRT da Almirante Barroso. O valor de referência da licitação, realizada no ano passado, foi de pouco mais de R$ 19,4 milhões, para 12 estações, mais a estação da Tavares Bastos e o canteiro e administração das obras.

Se retirar daí a estação da Tavares Bastos e somar ao resultado 50% do que sobrou, chega-se a pouco mais de R$ 24,3 milhões, dinheiro mais do que suficiente para essas 18 estações. Mas vamos considerar que venham a custar R$ 30 milhões.

Já as passarelas metálicas para a travessia de pedestres não chegariam ao custo de R$ 3 milhões cada, como a passarela da rodovia BR-230, na Região Metropolitana de João Pessoa, que custou R$ 993.033,19, em 2013 (R$ 1,3 milhão atualizado), ou na rodovia SP-332, em Campinas, que custou R$ 1,5 milhão (R$ 1,9 milhão corrigido).

Ainda em 2013, quatro passarelas instaladas na rodovia SP-101 custaram R$ 2 milhões (R$ 2,6 milhões atualizados), e, ainda que custem R$ 4 milhões cada, as 13 previstas para a BR-316 (que, aliás, já possui várias passarelas) ficarão em R$ 52 milhões.

E ainda que se considere R$ 17 milhões para os “túneis” dos terminais de Ananindeua e Marituba (o que é absurdo, visto que esse valor corresponde à metade de um viaduto e esses “túneis” não passam de passagens inferiores de acesso apenas aos terminais), ainda assim, tudo ficaria em torno de R$ 450 milhões.

Ou seja: ainda faltariam mais R$ 80 milhões para se chegar aos R$ 530 milhões previstos por Jatene, mesmo arredondando essa “planilha de preços” já superfaturada.

(Ana Celia Pinheiro, especial para o DIÁRIO e DOL)

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