O BRT Metropolitano será o mais caro do Brasil

Quando ficar pronto - se um dia, de fato, ficar pronto -, o BRT Metropolitano do Pará será o mais caro do Brasil. E, com toda a certeza, um dos mais caros do mundo. Isso considerando o anúncio do próprio Governo do Estado, de que a obra terá um custo superior a R$ 530 milhões (ou 177 milhões de dólares). É que o BRT Metropolitano terá apenas 10,75 quilômetros de extensão, o que significa que o seu preço por quilômetro será de quase R$ 50 milhões, ou cerca de 16,5 milhões de dólares - pelo câmbio atual.

Esse valor é muito mais do que os BRTs já concluídos, em construção ou em projeto para as cidades de Manaus (R$ 24 milhões por Km), Goiânia (R$ 16 milhões), Recife (R$ 6 milhões) e Brasília (R$ 21,7 milhões). É bem mais, também, do que custou o primeiro BRT do Brasil, o de Curitiba, inaugurado em 1972. Na capital paranaense, o Km custou, em média, R$ 10 milhões.O absurdo é tamanho, que o BRT paraense custará muito mais até do que dois modernos BRTs de Las Vegas, nos Estados Unidos (veja box à direita). A obra prometida pelo governador Simão Jatene se destaca, também, entre outras realizadas no Estado. Na rodovia Augusto Montenegro, o BRT que é executado pelo prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, custará R$ 290 milhões, já incluindo um aditivo superior a R$ 20 milhões, de dezembro do ano passado. No entanto, como terá 13,90 quilômetros de extensão, o seu custo por Km será de R$ 21 milhões. Ou seja, menos da metade do BRT Metropolitano.

Tem mais. O BRT de Belém faz parte do programa “Ação Metrópole”, que deveria ser executado quase na totalidade pelo Governo do Estado, com financiamento da Jica, a agência de cooperação internacional do Japão. Em 17 de abril de 2011, o DIÁRIO publicou reportagem na qual o coordenador geral do Ação Metrópole, César Meira, informou que o corredor de BRT da Almirante Barroso e da BR-316 estava orçado em R$ 480 milhões. Meira não disse, mas já se sabia, à época, que esse corredor, que desembocaria em Marituba, viria desde o centro de Belém, numa extensão de 27Km.

Só que, em 2012, o então prefeito de Belém, Duciomar Costa, resolveu executar um BRT, na Almirante Barroso. A obra acabaria embargada várias vezes pela Justiça, porque não tinha projeto nem financiamento. Mas, como havia sido gasto muito dinheiro público, foi preciso terminar o que Duciomar começou. Assim, o BRT do Governo do Estado encolheu para os 10,75Km que vão do Entroncamento a Marituba.

ESTUDO

A situação fica ainda pior quando se examina o último estudo da Jica sobre o Ação Metrópole, realizado em 2009, a pedido do Governo do Estado. Nele, o custo para a construção de uma via de BRT é estimado em 4 a 5 milhões de dólares por quilômetro (R$ 15 milhões, ao câmbio atual). E todo o sistema de BRTs de Belém e Região Metropolitana, ficaria em 223,2 milhões de dólares, ou R$ 513,4 milhões, no câmbio da época (R$ 824 milhões em valores atualizados pelo IPCA-E do mês passado).

Esse valor, calculado pela agência japonesa, é bastante inferior ao custo total estimado pelo Governo do Estado. Resumindo: enquanto a Jica estimou que cada km do BRT deveria custar cerca de R$ 15 milhões, a obra do Governo irá torrar - vale ressaltar novamente - R$ 50 milhões por km, ou seja, mais do que três vezes mais. E quem paga essa conta é o povo. Em outras palavras, você, caro contribuinte.

GASTANÇA

BRT DE LAS VEGAS

Por incrível que pareça, o BRT do governador Simão Jatene ficará mais caro que os dois BRTs de Las Vegas, nos Estados Unidos: o MAX (Metropolitan Area Express) e o SX (Sahara Express). O primeiro tem 12Km de extensão e foi inaugurado em 2004. O segundo, com 36,5Km, foi inaugurado em 2012. Supermodernos, eles custaram, cada um, cerca de R$ 15 milhões por Km. Ou seja, pelo preço de um BRT do Pará, daria para construir três BRTs de Las Vegas, já incluindo toda a infraestrutura. E ainda sobraria R$ 5 milhões.

OUTRAS CIDADES

Pelo estudo da Jica de 2009, a implantação do BRT da BR-316, mais os terminais de Ananindeua e Marituba e 8 paradas específicas, ficaria em 73,6 milhões de dólares, ou R$ 169 milhões ao câmbio da época (R$ 272 milhões em valores corrigidos).

Para justificar os R$ 530 milhões que Jatene calcula, hoje, o BRT Metropolitano, foram acrescentadas várias obras: um viaduto de quatro pétalas, no Km 6,5 da BR; um túnel de acesso ao terminal de Ananindeua; um Centro de Controle Operacional, 13 passarelas, para travessia de pedestres, e mais 18 estações, totalizando 26.

O problema é que, mesmo assim, a conta não fecha.O viaduto Daniel Berg, que foi inaugurado em maio de 2010, no cruzamento das avenidas Júlio Cesar e Pedro Álvares Cabral, e tem “quatro pétalas”, custou R$ 23 milhões – ou R$ 35 milhões atualizados. Em João Pessoa (PB), o Trevo das Mangabeiras, que inclui um viaduto de quatro vias e foi inaugurado em agosto de 2015, foi ainda mais barato: R$ 26 milhões, ou R$ 29 milhões corrigidos. E ainda que se considere R$ 17 milhões para o tunel de acesso ao terminal de Ananindeua (o que é um absurdo, já que esse valor corresponde à metade de um viaduto), ainda assim, tudo ficaria em pouco mais de R$ 450 milhões. Ou seja: ainda faltariam mais de R$ 80 milhões para se chegar aos R$ 530 milhões previstos por Jatene, mesmo com essa “planilha de preços” já superfaturada.

(Ana Célia Pinheiro/Diário doPará)