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MÚSICA

Nosso papo com a Cabra Guaraná foi de erros dos corretores automáticos até headbangers dançando funk

Polêmico, pulsante e cada vez mais presente na nossa cultura: estamos falando do funk. Cada vez mais, ele sai dos limites das favelas e cria raízes nas grandes produções nacionais. Podemos dizer que o gênero protagonizou uma revolução da qual saiu vitorio

Polêmico, pulsante e cada vez mais presente na nossa cultura: estamos falando do funk.

Cada vez mais, ele sai dos limites das favelas e cria raízes nas grandes produções nacionais. Podemos dizer que o gênero protagonizou uma revolução da qual saiu vitorioso como o estilo culturalmente mais relevante para a atual música brasileira. Mas a questão principal é: será que o Brasil ainda tem vergonha do funk?

Esse fenômeno foi muito bem observado por dois jovens brasilienses. Tynkato e Maurício Barcelos se juntaram para criar no ano passado a dupla Cabra Guaraná, que mostra em suas músicas o funk como uma das principais influências.

Mas não é só isso! O interessante na proposta da Cabra é a mistura de estilos. Trata-se de uma sonoridade diferente, que mistura batidas de funk, hip-hop e vários samples com elementos psicodélicos. Uma das iniciativas da dupla para mostrar esse som diferenciado para o público é o Baile da Cabra, uma espécie de apresentação ao ar livre feita ocasionalmente pela dupla.

Para a cena independente de Brasília, os integrantes não são rostos novos. Enquanto Maurício (também conhecido como Malms) atua no grupo MDNGHT MDNGHT como baixista, Tynkato fazia a guitarra da banda Lista de Lily. Ambos os grupos se apresentaram no Festival Tenho Mais Discos Que Amigos.

O primeiro lançamento da dupla foi um EP homônimo com três canções, lançado em 2017. Agora, depois de adquirirem experiências com esse novo formato em shows, a Cabra está preparada para impressionar a cena com Pochete&Juliet, seu primeiro álbum cheio. Ficaram claras as influências de nomes como MC Kevinho, Gorillaz, Chet Faker, e The XX (que, por sinal, foi homenageado na canção “YY“). O disco, lançado na última terça (15 de Maio), foi o primeiro passo de um ousado plano de lançar, até o fim do ano, três álbuns.

Por telefone, conversamos com Tynkato e Maurício. Entre referências locais, informações confidenciais e muitas, mas muitas risadas, a dupla nos contou sobre sua trajetória e sua ideologia. Além disso, nos deu detalhes sobre o novo álbum e os projetos futuros da banda.

TMDQA!: Antes de qualquer coisa: De onde surgiu a ideia de fazer esse projeto?

Tynkato: Eu tocava com uma banda chamada Lista de Lily. Em Agosto do ano passado, o grupo acabou. Eu estava meio triste, já que não tinha mais banda, e o Malms tinha acabado de terminar com a namorada dele.

Maurício Barcelos: Eu estava lá no último show da Lista, curtindo, já sabendo que seria o último show deles. Foi o melhor show, inclusive! O Tynkato tocou com raiva e o show foi foda.

Tynkato: Eu só não quebrei minha guitarra porque eu só tinha aquela (risos).

Maurício: Então juntamos nossas tristezas. Naquele mesmo dia, já combinamos de fazer uma jam. Aí criamos a Cabra.

TMDQA!: De onde vocês se conheciam?

Tynkato: A gente já se conhecia aqui da cena de Brasília.

Maurício: A MDNGHT MDNGHT já tinha tocado junto com a Lista em vários outros shows. Além disso, o Tynkato tinha um projeto, chamado Vai Tomar No Cover, em que ele bandas tocam na rua, e a Lista já tinha participado de algumas edições. A MDNGHT também já tocou umas 3 vezes, inclusive lançamos o último EP na rua com eles. Foi muito bom. Também já tocamos juntos fora de Brasília. A gente já era bem amigo.

TMDQA!: Então a Cabra surgiu basicamente da união de histórias tristes?

Tynkato: Sim, é uma história de tristeza (risos). Hoje a gente ri disso.

TMDQA!: Por que o nome Cabra Guaraná?

Maurício: Você quer a versão oficial ou a não oficial?

TMDQA!: Queremos todas (risos).

Maurício: A versão que a gente dá para a imprensa é: a gente estava viajando aqui no cerrado, nesse clima ameno que é a seca da região Centro-Oeste. De repente, avistamos uma cabra, e ela estava aparentemente morrendo de sede. Nós tínhamos parado em um lugar onde costumamos parar para comer entre Brasília e Goiânia, e compramos um guaraná nessa parada. A gente pensou: “Poxa, vamos dar para ela?”. Aí demos o guaraná para ela e ela nos retribuiu com um sorriso. Na época, ainda estávamos escolhendo o nome para o projeto, e aí ficou Cabra Guaraná, porque ela sorriu para a gente. E cabras são animais legais. Também existe uma coisa interessante que pensei depois: são duas coisas muito brasileiras. A fruta do guaraná, remetendo ao Norte, e a cabra, remetendo ao Nordeste.

TMDQA!: E a não oficial?

Maurício: Uma fã nossa, em um grupo de fãs no Whatsapp que misturava fãs da Lista e da MDNGHT e que acabou se tornando grupo de fãs da Cabra antes mesmo de decidirmos o nome, compartilhou com a gente uma promoção do McDonalds em que você ganhava uma espécie de cupom. A promoção tinha Fanta e Guaraná, mas o corretor automático do telefone dela acabou alterando o texto de “Fanta” para “Cabra”. Essa é a versão que a gente não conta para a imprensa, mas estamos nos abrindo com vocês. Essa é a versão verdadeira (risos). Aliás, uma curiosidade é que a maioria dos nomes das músicas do álbum vêm de nomes de erro de corretor. Por exemplo, existe uma música no álbum chamada “Asa Norte Coreana”. Em Brasília há um bairro chamado Asa Norte, e certo dia fui falar alguma coisa sobre o bairro para o Tynkato. O auto-corretor, por algum motivo, colocou “coreana” junto ao “Norte”. Em “Gorila Briguei King”, outra música nossa, “Briguei King” foi alguém falando “Burger King”. E por aí vai.

TMDQA!: Por acaso, o nome do álbum de estreia de vocês, Pochete&Juliet, também veio de desentendimentos do corretor automático?

Maurício: Dessa vez, não! Eu estava com o Tynkato, e tínhamos acabado de sair de uma entrevista para um canal de TV. Estávamos discutindo o nome, e aí pensamos “Qual o objeto mais usado dos funkeiros?”. “Ah, o Juliet, aquele óculos espelhado”. “E qual que é o mais usado pelos hipsters? O que eles usam bastante?”. “Pochete”, inclusive eu costumo usar bastante. O álbum tem sonoridade dessas duas vertentes. Tem vaporwave e a sonoridade dos anos 80, e ao mesmo tempo os beats de funk que o Tynkato faz.

Tynkato: É o encontro do indie, do psicodélico, com o funk.

Capa de Pochete&Juliet, da Cabra Guaraná
Foto: Daniel Marques / Divulgação

TMDQA!: Como a trajetória dos projetos anteriores de vocês influenciou a sonoridade da Cabra?

Tynkato: Influenciou completamente. Na verdade, a Lista de Lily já tinha uma pegada mais pop, mais funk. Eu pareço ser roqueiro, mas na verdade sou funkeiro. E eu sempre fui muito interessado na batida do funk. Eu aprendi a samplear, e passei a estudar o estilo. A nossa pegada psicodélica veio da Lista. Foi uma grande influência. Além disso, a cena brasiliense estava se mostrando bem psicodélica, com várias bandas com essa pegada surgindo.

Maurício: A MDNGHT também teve essas influências psicodélicas. Eu uso muito teclado e efeitos no baixo. Quando começamos a Cabra, queríamos algo mais “Gorillaz”.

Tynkato: Só que fizemos duas músicas de funk que se saíram melhores que as outras. A galera também mostrou empatia com essas músicas. Aí seguimos assim.

Maurício: Mas o nosso álbum é bem eclético no geral. Ele vai desde The XX e Gorillaz até MC Kevinho e MC Livinho. Tem rap, hip-hop e funk, com uma estrutura psicodélica. Também nos inspiramos muito no Rincon Sapiência, que tem esse tipo de base. Ele canta rap com batidas de funk.

TMDQA!: Como vocês conseguiram conciliar todas essas variedades de gênero em um álbum só? Como foi esse desafio para vocês?

Maurício: Toda composição que temos feito está sendo um desafio. Nosso objetivo, até o fim do ano, é lançar 30 músicas, para criarmos a nossa identidade. E é isso que estamos fazendo. Pegamos todos esses artistas que, na teoria, não conversam entre si, Chet Faker com Mc Livinho, com Gorillaz e a coisa toda da psicodelia com o hip-hop, e estamos usando-os como ingredientes.

Maurício: Já falaram por aí que a gente faz um “funk lounge”. Já nos classificaram até como “funk gourmet”.

TMDQA!: Vocês pretendem lançar mais dois álbuns até o final do ano. Como estão se planejando para isso?

Tynkato: A gente quer experimentar não divulgar a data de lançamento. Estamos divulgando vários “spoilers” em nossas redes sociais. Os outros álbuns já estão em produção. “Imortal” (música divulgada recentemente) vai estar no segundo álbum, apesar de já ter até clipe. Provavelmente, o segundo e o terceiro álbum terão sete músicas cada, para cumprirmos a promessa das 30 músicas…

TMDQA!: “Imortal” foi o primeiro videoclipe oficial de vocês. Ele tem uma estética “tosca”. Vocês falaram que estão acompanhando a revolução do funk nesse aspecto da aceleração do estilo. Daí veio a ideia de fazer a música em 150BPM. Como vocês entendem essa evolução do funk?

Tynkato: Conheci o “Funk 150BPM” recentemente. Um amigo nosso viu o projeto e nos sugeriu algo novo. Nos apresentou essa nova vertente de funk e nós piramos, porque, além de ser muito rápido, era algo novo em Brasília. Quando começou a tocar em festas, as pessoas não entenderam direito: não sabiam como reagir ou dançar. Eu interpreto isso como uma “próxima fase” do funk, que é a batida acelerada. Muda a maneira de dançar. Muda tudo. Tem tudo aquilo da batida original do funk, mas de forma acelerada. Eu ainda estou estudando sobre isso, tentando entender como esse movimento aconteceu e se dá em eventos.

TMDQA!: Essa complexidade mostra, de certa forma, o funk sendo cada vez mais aceito e explorado pelas rádios e pelos músicos em geral.

Tynkato: É a cultura mesmo! A gente toma muito cuidado na hora de falar disso, na verdade. O funk é a maior cultura que existe hoje em dia no Brasil. O funk é a Música Popular Brasileira do momento. Está acontecendo, é algo que a galera realmente vive. Não é só na música; trata-se de algo cultural.

TMDQA!: O que vocês têm a dizer sobre a cena do funk de hoje em dia? Vocês têm alguma crítica a fazer ou estão satisfeitos como o espaço que o gênero está conquistando?

Tynkato: O funk hoje em dia tem um nome: Kondzilla. É o terceiro maior canal do mundo. Fiquei sabendo que um terço da população do Brasil está inscrita. Hoje o funk tem maior notoriedade na mídia, mas trata-se da mesma galera, fazendo o mesmo tipo de som. O funk em si não tem muita mudança. Se você lançar um funk psicodélico no Kondzilla, será que teria a mesma repercussão? O mesmo público? Acho que a galera ainda é meio fechada em relação a isso. Se você parar para pensar, o funk de hoje em dia, musicalmente falando, não tem muita harmonia melódica. É sempre a batida, com um tecladinho, e só. E, para mim, isso é brilhante, porque conseguem “tirar leite de pedra”. Agora estão começando a surgir coisas novas. Aqui em Brasília tem o Mc Maha. Ele faz funks com temática geek. Não sei se vocês conhecem “Harry Porra”, por exemplo. Vai chegar um momento em que o funk não vai ter mais para onde ir, e vai ter que se expandir e conquistar outras áreas.

TMDQA!: Em relação a isso, ao fato de que vocês acolhem o funk, vocês já sofreram algum tipo de preconceito? Acham que existe alguma resistência por parte do público, algo como “se isso é funk, não vou nem ouvir”?

Maurício: A gente já sofreu preconceito, sim! Tem uma galera que odeia a gente aqui. Pesquisamos nosso nome no Twitter, e encontramos pessoas dizendo que queriam bater na gente, que fazíamos um “funk gourmet”, que a cena local deveria ser extinta, que o que fazemos é uma atrocidade… E também que o Tynkato tinha o sonho de ser um funkeiro de verdade, porque o que ele faz é na verdade um “funk de pau mole”. Bem, na verdade eu nem sei o que seria um “funk de pau duro”.

Tynkato: Quando lançamos “Imortal”, os funkeiros, as pessoas que realmente ouvem funk, ficaram meio “bugadas”. Vimos vários comentários, como “Que porra é essa?” ou “O que essa galera está tentando fazer?”.

Maurício: Já tocamos em uma espécie de “casa de resistência” em São Paulo, com algumas referências punks nas paredes. Quando o dono do lugar ouviu nosso som, ele ficou puto e mandou desligarmos tudo. Nisso, o produtor do evento foi ao microfone e bateu de frente, alegando que “funk também é cultura”.

Tynkato: Teve uma vez em que tocamos em um evento chamado “Feira Cultura Rock”, que só tinha bandas de rock e a gente. Ficamos com um pouco de medo. Mas o inesperado aconteceu. Quando vimos, alguns dos mais “metaleiros” de lá estavam na frente do palco curtindo o nosso som.

TMDQA!: Acaba que a conversa dentro do cenário acaba sendo benéfica para todos. É algo como uma troca de figurinhas.

Maurício: Sim, exatamente.

TMDQA!: Existe alguma banda daí com a qual vocês se relacionam melhor, ao ponto de fazerem parcerias frequentes?

Maurício: Temos amigos por causa da cena local, que é majoritariamente de rock. Ainda estamos procurando por algum grupo que dialogue completamente com o nosso estilo. Descobrimos, por exemplo, que a maioria do nosso público é LGBT. Tem as bandas Azura, Recalque e Cachimbó, grupos que, de certa forma, dialogam conosco por causa dos instrumentos usados, da ideia de misturar estilos e da estética ousada.

TMDQA!: Diante da mistura inusitada de estilos, como vocês acham que o público se comporta durante os shows da Cabra? Como se dá a recepção?

Maurício: Cada show é uma surpresa diferente. Às vezes as pessoas se sentem meio reprimidas de dançar, talvez pela vergonha ou pela pressão das pessoas em volta que podem estar não gostando da apresentação.

Tynkato: De primeira, as pessoas ficam meio confusas, desconfiadas. Mas, no geral, depende de cada situação. Mas a maioria das pessoas dança, “desce a raba”.

TMDQA!: Se vocês pudessem descrever a experiência de um show de vocês com poucas palavras, como descreveriam?

Tynkato: “Desce K Raba” (risos).

TMDQA!: Se montassem uma playlist com músicas de alguns artistas para apresentar o estilo da Cabra Guaraná para a galera, quais seriam esses artistas?

Tynkato: Gorillaz, Pankadon, Rincon Sapiência, BaianaSystem, ÀTTØØXXÁ, Linn da Quebrada, Flora Matos, Heavy Baile…

TMDQA!: Se cada um de vocês pudesse escolher três discos para levar para um exílio em uma ilha deserta, quais vocês levariam?

Tynkato: Já sei! Levaria o Lonerism do Tame Impala, o Humanz do Gorillaz e… Eu ia falar algum de funk, mas funkeiro não lança CD, só single. Aí complica. Então eu levaria um single: “Popotão Grandão”, do MC Neguinho do ITR. E levaria o Duas Cidades do BaianaSystem.

Maurício: Levaria Gorillaz também, só que o Plastic Beach, de 2010. Acho que é o melhor álbum deles, e marcou o início da minha faculdade. Do Tame Impala, eu escolheria o mais recente, Currents. Também levaria comigo Holy Fire, terceiro álbum de um dos grupos que mais gosto, o Foals.

TMDQA!: Para finalizar: vocês consideram que possuem mais discos que amigos?

Tynkato: Sim, temos. Com certeza! Até o final do ano, então (risos)… Até lá eu devo ter dez vezes mais discos que amigos. Eu sou uma das pessoas mais odiadas aqui em Brasilía.

Maurício: Depois que a Lista acabou, uma galera passou a odiar ele.

Tynkato: Agora eu tenho só discos (risos).

Maurício: Nem eu sou amigo dele. Eu só estou aqui pelo dinheiro. Queria deixar isso bem claro…

Fonte: TMDQA!

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