Cérebro de Galinha saltou da grande mídia aos fãs

“Tem banda famosa por aí com a melhor estrutura do mundo e não toca como esses caras”. Você vai encontrar muitas versões dessa mesma frase nos cometários do vídeo que mostra o ensaio da banda Cérebro de Galinha. Foi através dessa única publicação no Facebook, atualmente com mais de 1,5 milhões de visualizações e 25 mil compartilhamentos, que o quarteto de Marabá parece ter ganhado fãs em todo o país. O vídeo é tosco, não há dúvida. Foi gravado em uma construção abandonada usando a câmera de um celular. Mas o som, esse é de deixar bem clara a influência de bandas como Ratos de Porão, Mukeka di Rato, Sepultura – e estar a altura para comparações.

A banda existe desde 2014 e nasceu em um cenário que contava com cerca de 20 bandas entre autorais e covers em Marabá – algo louvável em um município com menos de 200 mil habitantes – , e que tocavam no Infernin, espaço underground local. “Só que como o rock é para quem tem sorte, a maioria foi acabando. Muitos vão envelhecendo, seguindo outras profissões”, conta o baterista, Suco Gástrico. A própria Cérebro de Galinha havia acabado um mês antes de viralizar na internet, até que Mort decidiu retomá-la. “Vamos ser os representantes das bandas underground do mundo”, teriam sido as palavras proféticas do vocalista e fundador da banda.

A formação inicial tinha Mort na guitarra, Moska no baixo, Cego nos vocais e Dudu na bateria. Pouco tempo depois dos primeiros ensaios, a banda enfrentou algumas mudanças, com as saídas de Dudu e Moska. Foi então que Suco Gástrico assumiu as baquetas e Torrada o baixo. Com essa formação atual e o apoio de milhares de fãs nas redes, a banda decidiu lançar uma campanha de financiamento coletivo pelo Kikante para gravar seu primeiro CD e fazer um grande show de lançamento. “O grande fluxo da música é em São Paulo, então a gente pretende gravar lá e fazer shows. A gente já vinha pensando em gravar uma segunda demo, o tema seria ‘a nova ordem mundial’ (teoria conspiratória)”, conta Suco.

Repercussão coloca banda no circuito underground

Enquanto a arrecadação ainda não concluiu, a banda continua colhendo repercussões pelo vídeo de seu ensaio e provando as palavras de Suco: “O underground existe em todo lugar do mundo”. Inclusive, em um terreno baldio no interior do Pará, para onde a banda leva os instrumentos em carrinhos de mão e faz uns gatos para conseguir energia elétrica e divertir os amigos com música pauleira. O vídeo publicado na rede continua sendo compartilhado por novos fãs, outras bandas e até pela página do Circo Voador, querendo o contato da banda para um possível show no Rio de Janeiro – seguindo de muitos comentários
de apoio.

O trabalho anterior da banda, uma demo com 10 músicas, pode ser conferida na íntegra, na página deles no site “Palco MP3” e tem sido cada vez mais visitada e comentada. Músicas como “Lepra”, “Mundo em Caos”, “País Falido” e “Professores” já contam com mais de 5 mil plays. E o que realmente parece surpreender os fãs é a combinação de poucos recursos com muito talento. “Os caras dão uma verdadeira lição de hardcore, com muita agressividade e autenticidade. Tomara que a gente possa ver esses caras estourando as barreiras geográficas do Pará e tocando nos palcos perto da gente”, diz André Sant’Anna, do blog “Vitrola News”, de Brasília.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)