plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 26°
cotação atual R$


home
ESPORTE PARÁ

Leia a coluna 'Crônicas da Bola': Esporte e política de mãos dadas

O apresentador global Tiago Leifert cometeu um texto nesta semana em que defende o seguinte ponto de vista: evento esportivo não é lugar de manifestação política. Nada de novo no front. Leifert é conhecido pela sua alienação. Já dera declarações tratando

O apresentador global Tiago Leifert cometeu um texto nesta semana em que defende o seguinte ponto de vista: evento esportivo não é lugar de manifestação política. Nada de novo no front. Leifert é conhecido pela sua alienação. Já dera declarações tratando o esporte como mero entretenimento e, claro, é o principal responsável pela transformação, de uns anos para cá, dos programas esportivos na televisão em um picadeiro de circo. A reação desencadeada, desta vez, porém, foi quase unânime no teor crítico, pela quantidade de besteiras disparadas pelo jornalista. Os argumentos de Leifert não podem sequer ser tachados de ingênuos, pois são totalmente descolados da realidade, ignora a história do esporte, da política, enfim, da própria civilização. E quem se propõe a escrever sobre um assunto, a ter e expor a sua opinião, precisa ter, no mínimo, algum embasamento.

O esporte é pródigo em exemplos de engajamento político em que precisamos levantar e bater palmas, como o ato dos atletas Tommie Smith e John Carlos, na Olimpíada de 1968, na Cidade do México, que, no pódio, ergueram os punhos, gesto característico dos Panteras Negras, um dos movimentos sociais mais influentes da década de 1960. Proibidos de praticar o esporte, algo que Leifert classificaria como “deu ruim”, ambos são símbolos da resistência e luta por melhores condições de vida.

Outro clássico exemplo? A Democracia Corintiana na década de 1980, que, além de implantar um novo modelo dentro do próprio clube, apoiou as Diretas Já!, com os atletas não se furtando a defender causas que causaram desconforto nas autoridades em plena Ditadura Militar. Para Leifert, coisas do tipo manchariam a “marca” do clube, o que mostra bem quais as suas prioridades.

Já que citei a ditadura, o que dizer então do uso político que os regimes de exceção fizeram do esporte mais popular do mundo? Em 1970, Médici tirou João Saldanha, um comunista assumido, do comando da seleção e entregou o cargo a Zagallo; após o título, posou com a taça como se a conquista fosse sua. A Argentina, em 1978, sediou a Copa como distração para os horrores que os militares infligiam à população, em comum acordo (imaginem os termos) com o nefasto João Havelange – assistam ao documentário “Memórias do Chumbo – O Futebol nos Tempos do Condor”, de Lúcio de Castro, está no YouTube. Em 1934, Mussolini ameaçara os integrantes da seleção italiana: a Copa precisava ficar com os donos da casa para servir como panfleto do governo.

O envolvimento político no futebol é ainda mais estreito hoje, com políticos sendo donos de times ou atuando nos bastidores, fazendo deles um palanque, usando a força das torcidas para se elegerem. Temos exemplos disso aqui em Belém mesmo. Querem mais? Robinho não seguiu no Atlético-MG esse ano muito por causa da pressão da torcida feminina do Galo, pela condenação de estupro nas costas do jogador. A torcida Alma Celeste, que baniu cantos homofóbicos e levou à arquibancada uma bandeira LGBT, também fez um ato político e sofreu represálias de um bando de idiotas, que ignoraram toda a repercussão positiva ao Paysandu nacional e internacionalmente. Os exemplos não caberiam todos aqui.

Se Leifert quiser desligar o cérebro ao assistir a um esporte, ok, é direito dele. Mas dizer que manifestações políticas não cabem (ou não deveriam caber) em um evento esportivo? É assustador. Tanto pelo desserviço que presta a quem acompanha o seu trabalho, como também àqueles que brigam para ter voz e lutam pelos seus direitos. Ele, como jornalista, deveria saber que a política está em todos os lugares, inclusive no esporte.

Para terminar, ser politizado, hoje, é questão de sobrevivência. Essa ideia de fechar os olhos a manifestações políticas, seja no esporte ou em qualquer outra ocasião, é o que permite que um país entre no caos. Qualquer palco que garanta uma visibilidade às causas sociais, que permita o combate a preconceitos e defenda os Direitos Humanos, deve, sim, ser utilizado. Estamos em uma democracia (ainda). E ela é frágil. Cerceamentos são perigosos, ainda mais em tempos de irracionalidade, brutalidade e intolerância.

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em Esporte Pará

Leia mais notícias de Esporte Pará. Clique aqui!

Últimas Notícias