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Gravação de presidente vaza e vira escândalo no Juventus da Mooca

Tradicional clube do bairro da Mooca, na capital paulistana, o Juventus viu estourar nas últimas semanas uma grave crise política no clube. Não bastasse o mau momento em campo do Moleque Travesso – luta contra o rebaixamento no Campeonato Paulista da Séri

Tradicional clube do bairro da Mooca, na capital paulistana, o Juventus viu estourar nas últimas semanas uma grave crise política no clube. Não bastasse o mau momento em campo do Moleque Travesso – luta contra o rebaixamento no Campeonato Paulista da Série A2 -, agora o risco é de um inédito impeachment da diretoria executiva do clube fundado em 1924. A Gazeta Esportiva teve acesso a documentos e também a áudios gravados pelo ex-diretor de marketing, Adriano Daré, de reuniões lideradas pelo presidente Domingos Sanches e o vice Saulo Moisés Franciscon em que o conteúdo apresenta uma tentativa dos mandatários em burlar acordos contratuais com o intuído de mascarar prejuízos ao órgão de fiscalização regido pelo Conselho Deliberativo. (ouça os áudios completos abaixo)

Dois eventos são foco das conversas gravadas. O Bacon Day, realizado na sede social do clube dias 2 e 3 de setembro, e Uma Noite Perfeita, que aconteceu dia 22 do mesmo mês, ambos em 2017.

O segundo evento é o calo principal da crise instaurada entre associados, dirigentes e conselheiros. Os áudios gravados mostram Sanches e Saulo articulando uma planilha falsa para ser entregue a Comissão Fiscal (CF), além de discussões sobre pagamentos que poderiam ser feitos sem nota do clube e um contrato com a empresa do então diretor de marketing que serviria apenas para ofuscar um prejuízo de cerca de R$ 200 mil.

“A verdade é o seguinte: O prejuízo existe, mas nós temos que ver com nós vamos demonstrar. Como vai acertar depois é outra história. O que não pode é a gente assinar um atestado de burrice, se confessar com o cara lá. Na cadeia, se você matou um cara, você fala ‘não, não, não’ e você tem uma chance de ser absolvido. Agora, se você fala ‘matei mesmo’, você pensa que vão ficar com dó? Vão te pôr na cadeia”, diz o presidente do Juventus em determinado momento, irritado com o fato de Daré ter externado o insucesso do evento que teve a dupla sertaneja Henrique e Diego como atração principal.

R$ 100 mil, equivalente a aproximadamente 50% do prejuízo do clube, era referente ao pagamento da apresentação de Henrique e Diego naquela noite. Para amenizar o impacto do que teriam de mostrar ao CF, Sanches e Saulo tiveram a ideia de usar a produtora de domínio pessoal de Eduardo Daré para amenizar a planilha de prestação de contas.

“Minha ideia aqui, eu vou dar uma estudada, quero ver com a Silvia (funcionária da parte de eventos do Juventus) toda a documentação, o que a gente puder tirar daqui nós vamos tirar. E esse valor dos 100 mil, se a gente conseguisse uma nota de 50 (mil), a gente fala ‘não foi 100 (mil), foi por 50 (mil)’”, explica Sanches na gravação, sob a presença de Saulo e Daré.

“Eu quero pegar toda essa documentação, por exemplo, tem certas coisas… imprensa: 3 mil reais. Esse pessoal está cobrando com nota, boleto? Às vezes você vai na pessoa, conversa com ela e diz ‘olha, não emite nota contra o clube. Porque se vier nota contra o clube de tudo isso… Então, nós não vamos usar nota, mas tem que pagar particular para essas pessoas. Como que vai fazer?’”, continua o mandatário, antes de ser interrompido pelo preocupado vice-presidente.

“Mas, pagar vai ter de pagar, com nota ou sem nota”, alerta Saulo.

“Se tiver sem nota, melhor, porque aí não vem boleto para o clube”, retruca Sanches.

“Mas aí você vai tirar dinheiro de onde?… Essas pessoas vão querer receber. Quem trabalhou quer receber”, questiona Saulo.

“Mas se você não emitiu nota do clube, você fala ‘eu pago semana que vem, daqui 15 dias’. Tem que administrar isso aí”, força Sanches, até convencer Saulo em parte.

“Existe até a possibilidade, às vezes o cara que receber até sem nota, mas eu só fico assim, não estou conseguindo entender de onde vai tirar o dinheiro para pagar isso aqui”.

A todo momento, a preocupação da dupla que comanda o Juventus desde 31 de maio de 2016 é com os desdobramentos que poderiam acontecer caso os valores reais chegassem ao CF do Conselho Deliberativo do clube.

“De momento, o que a gente pudesse jogar disso aqui para daqui um mês, nós temos de fazer isso. Porque, o que vai acontecer: cai na mão da comissão fiscal, que vai examinar isso, e eles vão ver lá nota fiscal do evento tal, eles vão querer conferir. Se a gente não põe, depois eles vão falar ‘mas, vocês não colocaram isso aqui na planilha que vocês prestaram conta. Vocês pagaram mais isso, mais isso, mais aquilo, aquilo…”, projeta Sanches. “…Por isso que eu estou falando, se tem coisas que a gente puder tirar, falar para o cara não emitir nota no nome do Juventus, pagar por fora, sei lá… Não vai sair do caixa”, completa.

Na busca por uma solução, Saulo confabula uma forma de livrar do Juventus, mesmo que apenas de forma aparente, o custo com a dupla Henrique e Diego.

“Vou dizer o que eu penso. Se tirar 110 (mil) daqui, 111 (mil), vai dar um prejuízo de … uns 35, 40 pau (mil) negativo”, afirma. “…Desses 190 (mil) que está apurado aí, tirar 110 (mil). O que é esses 110 (mil): os 100 (mil) do artista principal e os 10 (mil) da permuta. É diferente você apresentar um prejuízo de 200 mil reais, 190 mil reais, e um prejuízo de 30 mil, 35 mil. É diferente”, diz.

O plano rapidamente é abraçado pelo presidente Domingos Sanches, que lança a proposta a Eduardo Daré de usar a produtora do então diretor de marketing para fugir da obrigatoriedade de apresentar os documentos oficiais ao CF.

“A gente faz um contrato só desse evento, correndo esse risco, como eu escrevi aqui, com a sua produtora. E daí? Você não precisa dar satisfação de nota, do cantor, daqui ou dali”, explica Sanches, ignorando completamente a intervenção de Daré sobre o atenuante do estatuto não permitir que diretores promovam shows dentro do clube.

“Você não é obrigado a dar (comprovação)”, rebate Sanches. “Você fala ‘você vai me ajudar a pagar o prejuízo?’. Porque aí é com a tua produtora”, continua.

Depois de alguns minutos, Saulo e Sanches chegam a conclusão de que o melhor seria um contrato com data retroativa.

“A gente podia fazer um contrato de parceria. A gente entra com o salão…”, diz Sanches. “E você com os cantores”, emenda Saulo, otimista pela forma como o acordo poderia salvá-los de acusações sérias.

“A minha ideia, já que vai fazer um negócio desse, não apresenta o valor nessa planilha do cantor e a mídia”, orienta o vice-presidente. “…Aumenta uma coluna e põe ‘pagamento feito pela produtora’. Pões os valores (inaudível) embaixo e a somatória. Dá mais ou menos equilibrado, deu prejuízo de x para o clube e acabou. É diferente apresentar 30 mil de prejuízo e apresentar 190 (mil). Aí fica complicado”.

O staff da dupla sertaneja Henrique e Diego informou à Gazeta Esportiva que todos os compromissos financeiros previstos em contrato junto ao Clube Atlético Juventus foram cumpridos.

A reportagem teve acesso aos extratos e constatou que realmente duas transferências de R$ 50 mil cada, uma em julho e outra em setembro do ano passado, foram creditadas à empresa Dut’s Promoções e Eventos LTDA, que agencia a carreira dos cantores.

Chama atenção, no entanto, o fato dos pagamentos não terem sido realizados pelo Juventus, e sim pela empresa Luga Editora Gráfica LTDA EPP, que tem o vice-presidente do clube, Saulo Moisés Franciscon, como proprietário.

Reincidência
A estratégia de modificar números da planilha de prestação de contas não é exclusiva do evento Uma Noite Perfeita. No início de setembro do ano passado, o Juventus promoveu o primeiro Bacon Day de São Paulo, mas de novo acabou não tendo o retorno financeiro compensatório. Em outro áudio gravado de dentro da sala da presidência, Domingos Sanches tenta resumir aos envolvidos na realização do evento qual deveria ser o procedimento.

“Vejam. É o seguinte. A questão do prejuízo, você tomou prejuízo, ele tomou prejuízo, ele prejuízo. O clube, não, para efeito de documentos. Como amanhã ele pode se ressarcir, ele, ele, é outra história. Agora, eu não posso, como presidente do clube, levar isso e falar ‘olha, o clube tomou prejuízo’. Os caras vão falar ‘meu filho, você paga’. Eu vou falar ‘mas o culpado é ele’, e eles vão dizer ‘mas, você é o presidente’. Você está entendendo? Eu não posso”, explica Sanches.

“Nós vamos fazer uma (planilha) de fato, que é entre vocês, para vocês terem o controle dos acertos que vocês têm que fazer, e aquela que interessa para o clube, para mim, que vai lançar na contabilidade, que é o que vai vigorar na nossa contabilidade”, conclui.

A pedido do mandatário, o vice Saulo Franciscon ainda lê um ofício da Comissão Fiscal sobre a solicitação de documentos e contratos para avaliação do órgão. Os mesmos deveriam ser entregues em 72 horas.

“Fala que eu vou dar uma examinada e depois eu respondo”, despista Sanches, em sua resposta de bate e pronto.

Carta aos associados
A rápida propagação dos áudios vazados deixou o clima tenso no clube nas últimas semanas. Quem frequenta a sede na Mooca garante que o assunto tem se destacado nas rodas de conversas e refletido em um ambiente de incerteza e revolta. A necessidade de esclarecimentos fez com que o presidente Domingos Sanches e o vice Saulo Franciscon emitissem uma carta aos associados (veja o documento na íntegra na galeria de imagens).

No texto, assinado por ambos na data de 2 de fevereiro, a dupla não poupa críticas ao ex-diretor de marketing Adriano Daré, o presidente do Conselho Deliberativo, Itamar Colombini Capano, e o secretário do CD, Fernando Freitas.

“Pelo que consta, tudo leva a crer que trata-se de mais uma armação política do Conselho Deliberativo desta vez organizada pela Comissão Fiscal (ilegítima). Certamente o objetivo é levar a trama para a Comissão de Sindicância e esta tentar acusar a diretoria executiva por transgressão estatutária”, diz trecho da carta, que chama atenção pelos erros na escrita.

De qualquer forma, Sanches e Saulo se defendem, avisam sobre o objetivo de procurar a justiça e se colocam à disposição para esclarecimentos. Além disso, Daré é acusado de furtar um computador.

O responsável pelas gravações
A Gazeta Esportiva entrou em contato com Adriano Daré para elucidar principalmente a motivação pela gravação dos áudios de reuniões que tratavam sobre eventos em que ele próprio fora peça fundamental para que os mesmos fossem realizados.

“Quer fazer mutreta, não me chama. E comecei a gravar para eu me proteger, não para fazer nada. Tenho dois contratos, o inicial e o segundo contrato, para eu assinar e eles apresentarem ao Conselho. Gravei, porque, se desse ruim…”, explicou Daré, hoje exonerado do cargo que ocupava desde janeiro de 2017.

A relação entre os dirigentes se agravou depois que Sanches e Saulo cogitaram usar a produtora de Daré como forma de esconder parte do prejuízo com o evento Uma Noite Perfeita, algo que, segundo o publicitário, foi determinante pela sua escolha em gravar as conversas.

“Fizemos tudo que tinha de fazer, mas não rolou. Só que a gente colocou três mil pessoas, tivemos de dar ingresso para academias, salvar o bar… Isso é manobra de marketing. Foi minha primeira decepção, coloquei meu cargo à disposição, e aí eles começaram: ‘Não posso apresentar isso para o Conselho, eu tenho que pagar’. E aí começaram uma grande pressão: ‘você tem que fazer’”, contou.

Adriano Daré é sócio remido do Juventus, garante ter dinheiro a receber do clube, mas não pretende fazer cobranças judiciais nesse momento. A esperança é que futuramente, com outra gestão no poder, tudo possa ser liquidado.

“Eu tenho a receber cerca de R$ 16,4 mil de comissão. Eu acho que eu teria condição de ter cobrado na justiça, mas eu sou um cara muito de boa. Se eu colocar o Juventus na justiça, o clube pode perder certidões. Eu vou estar prejudicando a instituição. Não quero isso”, comentou.

Chance de impeachment
Presidente do Conselho Deliberativo, Itamar Colombini Capano, atacado por Domingos Sanches e Saulo Franciscon na carta aos associados, admitiu a chance real da atual gestão ser afastada das funções após todo o processo de apuração do caso. Em contato com a reportagem, Capano revelou que já tem posse dos áudios e de contratos relativos aos eventos, todos entregues por Adriano Daré, e que desdobramentos devem acontecer na reunião do CD marcada para a noite dessa quinta-feira.

“Essa é uma situação que vem se arrastando, chegou para mim por volta do dia 26. Foi feito todo um trabalho para chegar nos finalmentes. Vamos nos reunir dia 8, mas existe todo esse trabalho e quero deixar claro que não tem revanchismo, até fui eleitor dele”, disse Capano, antes de confirmar que segue no aguardo das planilhas solicitadas há pelo menos quatro meses ao presidente Domingos Sanches, e que realmente sua relação com o mandatário do clube não é das mais harmoniosas.

“Nós estamos travando uma batalha desde o início do mandato dele, a gente vai em busca de soluções”, avisou. “Eu sou juventino, sempre frequentei a Javari (rua onde fica o estádio do clube), sempre fiquei no alambrado, nunca fiquei nas tribunas. No alambrado sinto o cheiro da grama, sou sócio número 39, fui criado na Javari”, orgulhou-se, para destacar o espanto de seus colegas. “Está todo mundo surpreso com isso. O pessoal (Conselheiros) fala ‘não é possível’, mas está gravado, não tem como falar ‘não fui eu’. É uma situação muito difícil para mim”.

Diante dos fatos, o impeachment não está descartado. Muito pelo contrário. Já há uma movimentação dentro do próprio Conselho Deliberativo neste sentido, reitera Itamar Colombini Capano.

“São necessárias 20 assinaturas de 180 conselheiros. Pelas informações, estamos com 22. Assim quem isso chegar eu encaminho para o coordenador da Comissão de Sindicância. Nunca aconteceu (um impeachment). Nosso estatuto até usa a palavra afastamento”.

“Existe todo um processo para chegar na sindicância. Eles vão juntar documentos, analisar, tem todo um parecer e vão levar ao conhecimento do presidente. Ele (Sanches) vai ter conhecimento, e aí tem os prazos regimentais. Ele poderá se defender por escrito ou pedir a palavra no plenário”, explicou, para finalizar a entrevista com discurso firme.

“Para mim é constrangedor falar alguma coisa do Sanches, do Saulo… Estamos falando administrativamente do clube, tem que ter calma. Mas minha mesa não tem nem gaveta. Como eu poderia engavetar um problema desse tamanho? Temos de elucidar isso aí. Não poderia de maneira alguma deixar para lá. Eu seria cobrado”.

Presidente acusa fraude
O presidente Domingos Sanches atendeu a Gazeta Esportiva rapidamente em contato telefônico na tarde dessa terça e descaracterizou as gravações feitas por Adriano Daré.

“Para mim ele (o áudio) foi editado”, logo falou, sem negar, no entanto, que o Juventus entregou um contrato assinado pela direção do clube ao ex-diretor de marketing como parte do plano para que uma parcela do prejuízo com o evento Uma Noite Perfeita saísse da planilha de prestação de contas.

“Pode até ser, esse camarada era de confiança do clube, ele se propôs a fazer muitas coisas pelo clube. Pode até ser que eu tenha assinado de boa fé. Ele está agindo de má fé, mas deve existir, sim (o contrato)”, reconheceu Sanches, claramente consternado e preocupado com o cenário que pode culminar com seu impeachment.

“Estão fazendo com essa intenção, é um negócio mal-intencionado. Um áudio montado. Eles já fizeram isso aí (tentar o impeachment), o Itamar fez isso com o presidente anterior. Nosso Conselho Diretivo são pessoas mal-intencionadas. Essas atitudes só prejudicam o clube. Há um ano e seis meses eu estou trabalhando para reabilitar o clube, que não tinha nem certidão negativa de débito. Eles destroem tudo do dia para noite. Estão pensando nas próximas eleições. Eu estou muito triste com isso, nervoso”.

Na última sexta-feira, Domingos Sanches, que é advogado, foi a uma delegacia e registou um Boletim de Ocorrência de um eventual furto cometido por Adriano Daré de um computador que seria do clube. Daré já devolveu o equipamento.

“Fomos alegar a questão do computador. Mas, o que nós vamos fazer daqui para frente eu quero revelar depois. Eles falam o que eles acharem que têm de falar, estão difamando, fazendo calúnia, mas na verdade o que eles querem é tomar conta da diretoria executiva”, esbravejou Sanches à reportagem.

Quando questionado sobre não ter entregue as planilhas de prestação de contas solicitadas pela Comissão Fiscal do Conselho Deliberativo, o mandatário despistou. “Isso é questão do nosso financeiro, eu não cuido de planilha”. O mesmo tom foi adotado por Sanches assim que fora perguntado sobre o pagamento da dupla sertaneja Henrique e Diego ter sido feito diretamente pelo vice-presidente Saulo Franciscon, em vez de ter saído dos cofres do clube. “Não quero falar sobre isso”, encerrou.

Fonte: Gazeta Esportiva

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