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MÚSICA

Jukebox Sentimental: biografia mostra as cicatrizes de Anthony Kiedis

Era o auge do Red Hot Chili Peppers, início dos anos 90, qualquer coisa entre Blood Sugar Sex Magik (1991) e Californication (1999). Numa madrugada insone e insana, o líder e vocalista da banda, Anthony Kiedis, descobre que não tem um centavo para sacia

Era o auge do Red Hot Chili Peppers, início dos anos 90, qualquer coisa entre Blood Sugar Sex Magik (1991) e Californication (1999). Numa madrugada insone e insana, o líder e vocalista da banda, Anthony Kiedis, descobre que não tem um centavo para saciar seu vício em drogas e surta. “Eu não tinha dinheiro, não tinha drogas e estava num frenesi para ficar alto”, lembraria em biografia de 2004, lançada só este ano no Brasil pela editora Belas Letras.

Louco de fissura, não pensou duas vezes. Pegou a guitarra Stratocaster branca autografada por cada um dos Rolling Stones que havia ganhado da banda e barganha com o primeiro traficante meia boca que tropeça nas nefastas bocas de fumo de Los Angeles. O diálogo com um “chicano” que acabara de atravessar a fronteira do México para os EUA é nonsense.

“Nada”, simplesmente é o que o velhaco diz, quando o artista lhe mostra a guitarra. “Dinero, señor, dinero”, repetiu o mexicano, categórico, após insistência de um desesperado Kiedis, que desabafa: “Troquei a guitarra autografada por uma quantidade de droga que me deixaria alto por cerca de dez minutos”, lamenta.

A história bizarra é apenas a ponta do iceberg que foi a vida de delinquente junkie de um dos maiores astros do pop rock contemporâneo. Pense num artista que teve uma trajetória tão perturbadora no drama do vício, como Keith Richards, Lou Reed e pares do tipo, e multiplique essa jornada ao inferno ao cubo. É a história de Anthony Kiedis.

“Esta é a minha história, com cicatrizes e tudo”
A ideia da autobiografia partiu de Larry “Ratso” Sloman, jornalista e artista multimídia íntimo de estrelas do pop rock como Leonard Cohen, Joni Mitchell e Bob Dylan, que o deixou acompanhá-lo, no final dos anos 70, na mítica turnê Rolling Thunder Revue. A experiência rendeu o livro inédito no Brasil On The Road With Bob Dylan – Rolling With The Thunder.

“O projeto foi ideia minha. Durante anos escrevi meus próprios livros, mas me liguei à personalidade do rádio, Howard Stern, sendo ghostwriter de dois livros dele. De repente me tornei o mais famoso ghostwriter de todos os tempos, uma contradição, com certeza”, brinca Sloman, em entrevista ao Metrópoles. “Sugeri fazer o livro de Anthony e meu agente entrou em contato com ele”, conta Sloman, que escreveu no mesmo estilo da autobiografia do boxeador Mike Tyson.

Também autor de um livro que resgata a história da maconha na América, Sloman conta que a primeira vez que ouviu falar do RHCP foi num filme sobre skatistas dos anos 80 chamado Thrashin’ (1986), então estrelado por um adolescente Josh Brolin, astro de Onde Os Francos Não Têm Vez (2007). “Desde então, sempre admirei o trabalho deles”, confessa.

Elogiado por publicações respeitadas como a revista Rolling Stone, o livro, listado como best-seller do New York Times na época de seu lançamento, não é, claro, apenas sobre o sombrio lado escuro do mundo das drogas de Anthony Kiedis. De uma sinceridade desconcertante e envolvente, perfaz a trajetória de menino simples de Grand Rapids (Michigan) que um dia migrou para Hollywood e encontrou “mais do que podia no final do arco-íris”.

“Esta é a minha história, com cicatrizes e tudo”, entrega na introdução da obra o vocalista da banda que, com sua miscelânea sonora de rock cruzado com punk, metal, funk e psicodelia, já vendeu mais de 120 milhões de discos – dos onze lançados – e arrasta mais de 16 milhões de seguidores mensais no Spotify.

No livro, Kiedis, então um adolescente sadio apaixonado por skate, revela que a primeira vez que deu um “tapa” num cigarro de maconha foi aos 11 anos de idade, incentivado pelo pai, e que iniciou a carreira artística não na música, mas como ator mirim. No filme F.I.S.T., de 1978, por exemplo, ele faz o filho de um líder sindical dos caminhoneiros vivido por Sylvester Stallone, um dos autores do roteiro.

“Fizemos a cena, e quando eu disse minha grande frase, ‘pode me passar o leite?’, a câmera não estava exatamente em close. Foi um daqueles papéis não-pisque-ou-você-não-vai-me-ver, mas ainda assim foi mais um crédito”, ironiza.

Há momentos exibicionistas, quando o artista se gaba de aventuras sexuais com ex-namoradas, groupies e rápidos flertes, ou de tretas amorosas, mesmo que alguns casos tenham rendidos boas canções, como a vingativa Skinny Sweaty Man, sobre a dor de cotovelo do primeiro guitarrista da banda, Hillel Slovak, vítima de overdose em 1988.

Aliás, um dos pontos altos do livro são as relações de amor, ódio, solidariedade e respeito entre os integrantes da banda. Coisas do tipo a culpa de Kiedis pela morte de Slovak, os conflitos com o substituto John Frusciante, a relação de irmão com o australiano Flea, um dos responsáveis por dar uma dimensão de relevância ao baixo no mundo da música. Aliás, no livro, ao contrário do que possa parecer, o baixista é um cara sóbrio, centrado e… careta.

Leia entrevista com Larry “Ratso” Sloman

A vida de Kiedis é uma das mais incríveis do mundo do rock. O que mais te surpreendeu nesta louca jornada?

Fiquei surpreso com essa tenacidade e sua resiliência. Mesmo no meio do abuso de substâncias, ele tinha uma visão criativa e a implementou. E então, depois que ele ficou limpo, Anthony nunca esqueceu os princípios que o ajudaram a superar seu vício e ele, até hoje, se disponibiliza para os necessitados. Ele é um grande amigo, um grande ser humano. Queria que houvesse mais pessoas como ele no planeta.

Como foi trabalhar com o Anthony Kiedis?

Foi ótimo. Ele é muito bem organizado e para alguém que tomou tantas drogas tem uma memória incrível! Isso sempre ajuda. Nós começamos fazendo algumas entrevistas preliminares. Então eu voei para a Califórnia e aluguei um lugar. O problema era que o RHCP estava no meio de um álbum de grandes hits e eles tiveram que fazer algumas músicas novas para o disco. Então, toda vez que nos preparávamos para gravar, Anthony tinha que ligar e cancelar porque eles estavam no estúdio e as duas músicas tinham se tornado dez.

Mas não foi uma perda total porque sugeri entrevistar seus amigos, colegas de trabalho e ex-namoradas. Isso funcionou muito bem e quando finalmente nos reunimos, pude usar toda essa informação para estimular suas memórias. Nós trabalhamos em dois turnos por dia. Uma sessão matinal, uma pausa para o almoço e depois algumas horas da tarde. Acabamos com mais de 100 horas de fita! Quando terminamos a última sessão, sentimos que havíamos feito algo extraordinário.

Você também está por trás da autobiografia do boxeador Mike Tyson. Avaliando tudo o que os dois passaram na vida, quem seria melhor em um ringue?

Mike e Anthony são dois campeões. Mike sofreu uma infância horrível, vítima das circunstâncias e do meio ambiente. As feridas de Anthony foram mais autoinfligidas. Mas ambos conseguiram transcender suas infelizes circunstâncias e impor sua própria visão de si mesmos como campeões do mundo. Teria sido fácil para ambos apenas serem vítimas da vitimização. Mas eles não fizeram. Estou honrado por ter trabalhado com esses dois seres humanos.

Scar Tissue. Livro de Anthony Kiedis com Larry Sloman. Editora Belas Artes, 368 páginas, R$ 69,90

Fonte: Metropoles

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