Rainha do sertanejo completa 30 anos de carreira

O tempo passou, mas Roberta Miranda mantém sua essência e vigor: a voz marcante, a performance de “Rainha do Sertanejo” e a dedicação à música. Em síntese, é esta a proposta que ela apresenta no DVD “Os Tempos Mudaram”, uma grande comemoração aos seus 30 anos de carreira, e que reuniu Simone & Simaria, Solange Almeida, Naiara Azevedo, Maiara & Maraisa, Day & Lara e Marília Mendonça para um grande espetáculo audiovisual. Gravado em São Paulo, no Dia Internacional da Mulher, o trabalho é também uma reflexão sobre a sua atitude pioneira no gênero.

Quando ela lançou seu primeiro disco, em 1986, que trazia seu nome artístico (o verdadeiro é Maria Albuquerque Miranda) e sucessos como “São Tantas Coisas”, “Na Hora H” e “Meu Dengo”, quase não existiam vozes femininas que encaravam os palcos e os estúdios para a música sertaneja. “Esse mundo era comandado por bota e chapéu”, relembra. “Hoje fico muito feliz, porque lutei muito para isso, questiona: ‘cadê a mulheres?’. Está faltando voz feminina. E vejo essas mulheres maravilhosas hoje e sinto que tenho um pé nisso tudo”, comemora.

Ela recorda também que foram necessários 25 anos até que a indústria fonográfica conseguisse emplacar um outro nome forte no sertanejo, Paula Fernandes. E quando compara com o que passou, levanta as mãos aos céus por saber que o mercado se abriu para a potência feminina. “A gente está falando de 30 anos atrás, era uma loucura o preconceito, não tenho nem como explicar o que passei. Mas o que acontece? Sempre fui uma mulher de muita garra e tentei mostrar para algumas pessoas, homens do meio artístico, que contra o talento não existe argumento. E provei que eles deveriam me respeitar, sendo mulher, nordestina, e do sertanejo”, diz.

E Roberta fez história: foi a primeira cantora brasileira a vender mais de um milhão e meio de discos e já com o disco de estreia. Sucesso em novelas, trilhas sonoras e pelos rincões do Brasil, ela acredita que tudo decorre de sua profunda conexão com o fazer artístico. Já são mais de 600 composições, entre 430 músicas gravadas e mais de 200 inéditas - que ainda serão formatadas para projetos futuros. No DVD, sete que nunca foram apresentadas ao público foram incluídas junto aos seus maiores hinos, como “A Majestade o Sabiá”. Uma destas novas canções é “Coisas que Não Voltam Mais”, que compôs a partir de suas memórias de infância e da saudade do pai. Etem a oração “Santo Anjo do Senhor”.

“O DVD é um projeto de dois anos e quem pediu foi a Célia, minha empresária há 26 anos. Há dois, ela começou a querer fazer algo para comemorar e pensamos se seria comigo sozinha, mas não tinha como ignorar esse movimento de hoje. Ela disse: ‘você é um ídolo para essas meninas, elas te amam, convide’. Falei que ia pensar e acabei conversando de uma por uma. Foi um aprendizado incrível, só carinho e amor, elas sabem que eu as amo e as respeito. Infelizmente algumas cantoras maravilhosas ficaram de fora”.

Sofrência

Com letras românticas, Roberta Miranda diz ter ouvido das companheiras de profissão que ela, sim, inaugurou o que chamam de “sofrência” - canções sobre amores e desilusões, em tom demasiado, mas pela perspectiva da mulher. Ela aceita. “É uma delícia essa invasão maravilhosa de empoderamento feminino para o mundo sertanejo. Poder realizar esse trabalho foi um momento abençoado. A minha personalidade continua. O que muda hoje são só os arranjos e a música que ficou mais moderna”, diz.

(Dominik Giusti)