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Lançado pela Netflix, 'Roma' divide maior número de indicações com 'A Favorita'

A próxima cerimônia do Oscar, marcada para 24 de fevereiro, terá sabor de desfecho. Para usar uma metáfora cinematográfica, será como se ela fosse o último filme de uma franquia e que tivesse como objetivo amarrar os fios soltos de uma trama. No caso, os

A próxima cerimônia do Oscar, marcada para 24 de fevereiro, terá sabor de desfecho. Para usar uma metáfora cinematográfica, será como se ela fosse o último filme de uma franquia e que tivesse como objetivo amarrar os fios soltos de uma trama.

No caso, os fiapos são os fenômenos que marcaram o horizonte do cinema nesta década. Da onipresença dos super-heróis à ascensão do streaming, passando pela pressão dos movimentos indenitários, tudo de alguma forma deu as caras com o anúncio dos indicados, na manhã de ontem.

O mais contundente dos feitos, claro, é o triunfo da Netflix, que conseguiu sua primeira indicação ao Oscar de melhor filme. “Roma”, de Alfonso Cuarón, concorre em dez categorias.
Esse status era o que faltava para a gigante do streaming criar estofo e fazer frente aos velhos estúdios de Hollywood.

Não é coincidência que a empresa de internet esteja em "negociações avançadas", segundo o site Politico, para integrar a Motion Picture Association of America. Fundado há 97 anos, esse grupo de lobby reúne o "dinheiro velho" do setor: Disney, Warner, Fox etc.

As redes americanas AMC e Regal, que todo ano exibem as produções indicadas, informaram que "Roma" está vetado de seus complexos de salas. O próprio Cuarón, em entrevista ao jornal "Folha de São Paulo", minimizou o fato de que seu longa, tão bem lapidado, não fosse seguir o circuito nos cinemas. "Um filme mexicano, em preto e branco e falado em espanhol jamais teria a distribuição que ele tem agora", disse.

O preto e branco solene da obra dá cor a uma Academia que, três anos atrás, foi fustigada por ser "branca demais". Nesta edição, os estrangeiros saem com enorme vantagem.

"A Favorita", que empata com "Roma" em dez indicações, tem um diretor grego, Yorgos Lanthimos. E na categoria de direção só dois dos indicados são americanos: Spike Lee ("Infiltrado na Klan") e Adam McKay (“Vice). É um sinal, demagógico ou não, de que a Academia realmente quer ser vista como global.

Ainda assim, diretoras mulheres não foram contempladas nos prêmios principais, e só dois atores negros disputam as categorias possíveis; Mahershala Ali e Regina King.

A grita só não deve ser grande no último caso pelo fato de que três dos oito indicados à maior estatueta tratam de temas raciais, dois deles dirigidos por cineastas negros. Além de Spike Lee, há Ryan Coogler, de "Pantera Negra".

Este último, aliás, é a primeira história de super-herói indicada a melhor filme. Por um lado, é um reconhecimento ao gênero mais rentável dos últimos dez anos. Por outro, tem a ver com a maestria com que Coogler revirou uma fórmula pasteurizada embutindo questões que ressoam a condição da população negra nos Estados Unidos.

Outro feito inédito, e que diz respeito ao cenário do cinema na década, se deve às campanhas de difamação que se desenrolam nos bastidores. Praticamente todos os favoritos ao prêmio foram escaldados no tribunal das redes sociais por membros da própria indústria hollywoodiana.

O diretor e o roteirista de "Green Book" viram atitudes escusas de seus passados borbulharem. "Roma" foi chamado de "burguês". Spike Lee foi tachado de "policialesco". "Bohemian Rhapsody" foi chamado de "afronta" ao #MeToo devido às denúncias de assédio contra o diretor Bryan Singer.

Concorrente cercado por polêmicas

Viggo Mortensen e Mahershala Ali estão em "Green Book", indicado em cinco categorias. O longa deve ter diretor e roteirista implicados em denúncias de assédio e de preconceito aos mulçumanos, foi tachadi pela família do pianista Don Shirley como "uma sinfonia de mentiras" e criticado por muitos porque trataria a questão racial nos EUA de forma rasa e romantizada. Foto: Divulgação.


Se a quantidade de polêmicas servir de termômetro para o Oscar, "Green Book: O Guia", que estreia no Brasil nesta quinta, 24, acelera na corrida pela estatueta.

O longa de Peter Farrelly, mais conhecido pelas comédias debochadas "Debi & Loide" (1994) e "Quem Vai Ficar com Mary?" (1998), não somente recebeu cinco indicações ao prêmio, incluindo melhor filme, mas coleciona controvérsia atrás de controvérsia.

A primeira surgiu entre a família de Don Shirley, pianista negro falecido em 2013, interpretado por Mahershala Ali ("Moonlight"). Os parentes alegam que a história da viagem de Shirley ao sul dos Estados Unidos com o motorista branco Tony Lip (Viggo Mortensen), em 1962, é "uma sinfonia de mentiras".

Na jornada, em uma região racista amparada por leis de segregação, a dupla debate os próprios preconceitos usando o "livro verde" - guia criado em 1936 para ajudar viajantes negros a saber onde comer, dormir ou abastecer o carro.

"Guardei essa história por 25 anos, desde que comecei a ouvir a versão do meu pai", conta o roteirista Nick Vallelonga, filho de Tony, que retrata um pianista escondendo sua homossexualidade proibida. "Shirley me confirmou tudo, mas me pediu para não escrever antes da sua morte. Era um homem muito reservado".

Como o filme estacionou em uma bilheteria modesta, em torno dos US$ 40 milhões (cerca de RS 150 milhões), o caso não foi levado adiante. Em seguida, o ator Viggo Mortensen proferiu o termo "nigger" em um debate, considerado ofensivo à comunidade afro. A intenção era explicar como a palavra não é mais aceita hoje, mas incomodou.

"Embora minha intenção tenha sido falar de maneira forte contra o racismo, não tenho o direito de sequer imaginar a dor que a palavra causa", desculpou-se Viggo, ironicamente um dos atores mais conscientes de Hollywood.

O próprio Viggo relutou em viver o papel de um ítalo-americano por não "querer desrespeitar a comunidade com estereótipos" - segundo Vallelonga, o ator James Gandolfini ("Sopranos") estava ligado ao papel até a morte, em 2013.

Já Mahershala Ali não conhecia Don Shirley e precisou ver documentários para capturar seus modos elegantes e maneira de tocar. "Tenho um físico diferente e um tom mais baixo de voz, mas procurei incorporar seus gestos", afirma.

A química entre a dupla é visível e superou até mesmo outra revelação: o diretor, Peter Farrelly, costumava exibir sua genitália como forma de "brincadeira" nos sets das suas comédias anteriores. "Eu era um idiota", resumiu o cineasta, que muitos não levam a sério.

"Se 'Green Book' tivesse Woody Allen ou Steven Spielberg no pôster, todos estariam falando que é uma obra-prima", questiona Viggo Mortensen sobre esse "Conduzindo Miss Daisy" (1989) às avessas.

Nick Villalonga também não ajudou quando um tuíte seu de 2015 ressurgiu, concordando com a afirmação falsa de Donald Trump sobre ter visto muçulmanos em Nova Jersey festejando a queda das Torres Gêmeas, após o ataque de 2011.

Villalonga apagou a conta e pediu desculpas, possivelmente direcionando-se a Mahershala Ali, que é muçulmano.

Mesmo assim, “Green Book” está desviando dos críticos e levou o prêmio do Sindicato dos Produtores, um dos maiores termômetros do Oscar. Mas detratores seguem dizendo que o assunto não deveria fazer parte de uma comédia.

"Comediantes como Chris Rock e Dave Chappelle não falam sobre assuntos fáceis", rebate Ali. "O racismo foi tratado de várias maneiras no cinema. Temos Barry Jenkins, que rasga a alma, e Spike Lee, com um equilíbrio entre drama e comédia. Peter não é negro, mas a história tem uma forte presença negra. Se pessoas vão ao cinema para rir, talvez saiam com algo para pensar".


(Folhapress)

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