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Exposição em São Caetano de Odivelas celebra os 20 anos do boi de máscaras

O figurino colorido e singular dos personagens, a orquestra, os passos da dança e a interação do povo mostram toda a memória e a identidade da manifestação cultural que é o boi de máscaras de São Caetano de Odivelas. Entre os muitos bois que se apresentam

O figurino colorido e singular dos personagens, a orquestra, os passos da dança e a interação do povo mostram toda a memória e a identidade da manifestação cultural que é o boi de máscaras de São Caetano de Odivelas. Entre os muitos bois que se apresentam e realizam esta festa no município está o Boi Faceiro, com seus 81 anos de fundação e 20 de resgate, quando voltou a se apresentar, data celebrada em junho e agora homenageada por meio da exposição “Boi Faceiro e o seu Admirável Imagético Popular”. Com fotografias do paraense Bruno Carachesti e do carioca Ratão Diniz, a mostra ocorre a céu aberto, até o próximo dia 5, nas paredes das casas dos moradores odivelenses.

“O Faceiro tem essa história peculiar. Criado em 1937, desapareceu algumas décadas depois quando o seu capitalista (pessoa que custeava a saída do Boi) se mudou para Belém. Ele desapareceu das ruas, mas continuou no imaginário das pessoas”, explica Rondi Palha, coordenador do Faceiro e organizador da exposição. O resgate, há 20 anos, ocorreu por iniciativa do mestre Bené ao mobilizar um grupo de moradores e músicos. Para marcar a data tão importante, uma série ações, rodas de conversas, oficinas e a atual exposição.

Em São Caetano de Odivelas, existem vários bois, sendo o mais antigo o Boi Tinga, porém, assim como esse, o Faceiro tornou-se uma referência para os mais jovens. “Esse é considerado um dos principais ícones da cultura popular do Pará. Por conta disso, estudiosos, acadêmicos, fotógrafos vêm acompanhar todos os anos”, destaca Rondi, que assim teve a ideia de chamar os dois fotógrafos para realizar a exposição. “Como não tem galeria, usamos as casas”, explica.

Os moradores acabam também participando, pois são eles os responsáveis por expor as fotografias na fachada de suas respectivas residências, no período de 8h às 18h, e depois retirar e recolocá-las no dia seguinte. “Isso acabou se tornando um projeto piloto, que esperamos expandir com novas exposições até mesmo em outras cidades”, comenta o organizador.

CURADORIA

Em 35 imagens, Ratão registrou o enigmático universo junino do grupo durante as apresentações na “safra” junina, enquanto Carachesti mostra a manifestação durante o exótico carnaval odivelense - as duas épocas do ano em que os bois fazem a festa. A curadoria foi realizada pelos artistas do Boi Faceiro, brincantes e os moradores, que puderam escolher o que gostariam de exibir em suas casas. Rondi conta que eles foram se identificando com as fotos, se vendo em algumas, se interessando pelo olhar de cada fotógrafo.

“A curadoria acabou sendo algo bem orgânico”, classifica. O que não é surpresa, pois o próprio boi de máscara tem essa peculiaridade. “É uma manifestação em que a população dita a dinâmica, o tempo, ao entrar para brincar, dançar ou só para acompanhar”, explica.

Casas viram galeria a céu aberto

Moradores de São Caetano escolheram as imagens que queriam mostrar em suas casas e são os responsáveis por colocar e retirar as fotos todos os dias. (Foto: Bruno Carachesti)

Os fotógrafos reunidos em “Boi Faceiro e o seu Admirável Imagético Popular” se mostram satisfeitos com a forma como a exposição foi concebida e como estão expostas a céu aberto, desde a última sexta-feira, 27. “Eu fotografo desde sempre para as pessoas e para mim. É um meio de proporcionar essa vivência a mim e para que os fotografados tenham essa memória. Me sinto bem honrado e orgulhoso de ver um trabalho tão recente nas paredes da cidade”, comemora Ratão Diniz. “De certa forma, democratiza a arte, leva a fotografia para rua, de onde ela veio, por onde o boi anda”, completa Bruno Carachesti.

O Faceiro foi pioneiro no Carnaval de São Caetano de Odivelas. Com o boi de máscaras sendo, originalmente, uma manifestação ligada à quadra junina, a escolha de seus organizadores buscava dar singularidade ao carnaval do município. “Antes estava muito homogêneo, com carro de som, carretinha, e hoje é visto como um dos carnavais mais bonitos e autênticos do Estado”, comenta Rondi.

Foi essa autenticidade que atraiu o olhar do fotojornalista Bruno Carachesti. “Eu entrei em contato por um acaso, quando um amigo, o fotógrafo Jaime Souzza, que tinha casa em Odivelas, me mostrou fotos dele”, conta. “O que primeiro me encantou foi a cidade e a cultura, por ter um carnaval que integra as famílias, que carrega uma identidade cultural muito forte e que preza por esse resgate e resistência”, destaca Carachesti.

Visualmente, o atraiu o colorido e o movimento das roupas, além da luz natural aproveitada em seu melhor momento, do fim da tarde para a noite. “A luz é maravilhosa, aquela que todo fotógrafo ama. Tem um colorido maior por conta da luz”, observa.

O carioca Ratão Diniz também conheceu a tradição dos bois de máscaras por meio do trabalho de outros fotógrafos, entre eles o próprio Carachesti. “Eu vi de cara uma conexão com o que eu já vinha fazendo”, conta.

Há cerca de sete anos, Ratão tem trabalhado no uso de máscara dentro das festas populares, não só fotografando como acompanhando-as por todo o Brasil. “Eu não queria deixar o boi de fora disso, até pelo nome que ele tem, que é ‘o boi de máscaras’, uma festa muito particular”, diz ele.

Para acompanhar o período junino de saídas do boi, ele veio ao Pará com a intenção de ficar duas semanas e acabou passando 20 dias. “É importante essa imersão, entendi boa parte do processo e como a comunidade se dedica a essa festa, o quanto a cidade a assume para si, não é para turista ver. Ainda tem a mesma essência de brincadeira tão importante deste tipo de manifestação”, observa.

Cheio de cor do Carnaval a junho

E há alguma diferença entre as apresentação no Carnaval e na quadra junina? Enquanto no primeiro as saídas são em formato de arrastão cultural, Ratão explica que em junho os bois passam de casa em casa. “Se você quer que o boi visite sua casa é só fazer uma doação, o valor vai de cada pessoa. Ele brinca na frente da casa e depois vai para a seguinte - chamam de ‘carteado’. Esse dinheiro contribui para pagar cada músico da orquestra. Eles passam por 40 a 50 casas, depende do fôlego dos brincantes”, explica.

Nesse sentido, o fotógrafo saiu bastante impressionado com a espontaneidade com que ocorre a brincadeira. “Só precisa o boi sair com a orquestra e meia dúzia de pierrôs. Depois de meia hora já tem uma multidão nas ruas brincando. É muito espontâneo, coisa única que vi na minha vida acompanhando festas pelo Brasil”, afirma.

Em seu trabalho, Ratão considera fundamental entender o processo, sentar para conversar com as pessoas e só então fotografar. Mesmo desprovido de grandes expectativas em relação a sair de São Caetano de Odivelas com boas fotografias, surpreendeu-se com todo o recurso estético, visual e humano a ser abordado por suas lentes.

“Quando cheguei me deparei com um universo muito maior. Não eram só dois ou três bois, e ainda peguei um mototáxi e conheci vários bois pelo interior, me embrenhei pelas comunidades”, conta.

Sem costumar usar luz artificial em seu trabalho, como o flash, no início Ratão se sentiu inquieto pelo fato de os bois fazerem saídas noturnas em junho. Com quatro lentes na mala, usou praticamente apenas uma - 35mm, de 2.0 de claridade. “Acabou sendo muito bom para mim, porque me fez pensar mais a fotografia e, ao invés de fotografar de forma mais explosiva, pude parar, ver, sentir a energia e fazer com que uma lente apenas resolvesse aquilo tecnicamente para mim. Gostei muito do resultado, porque deu uma linguagem de cores e luz para a minha fotografia”, avalia.

COMPARTILHAR

Ratão já espera voltar em 2019, desta vez por mais de um mês, trazendo consigo um ou dois amigos, a companheira e a filha. “Achei a experiência tão incrível que queria compartilhar - a fotografia tem disso. Quero chegar antes da festa, fotografar as produções dos artesãos e ir até a ‘fugida dos bois’. Isso é interessante: na manifestação, o boi não morre, ele foge para a próxima casa, de onde vai sair no ano seguinte. Não consegui acompanhar essa etapa”, lamenta.

Além do Carnaval e quadra junina, o grupo é convidado ao longo do ano a se apresentar em cidades vizinhas e também em outros estados, faz a manutenção de fantasias e alegorias, promove oficinas e parceria com as escolas. Até o final deste ano, eles ainda promovem apresentações especiais, como a do Dia do Folclore e a do aniversário da cidade, mais uma exposição na praça do município e duas oficinas comemorativas dos 20 anos de resgate do Faceiro: uma de produção textual e outra de desenhos e grafismos para crianças, em parceria com o Núcleo Universitário, durante a 2º quinzena de agosto e de setembro.

Visite

Exposição “Boi Faceiro e o seu Admirável Imagético Popular”
Quando: Até 5 de agosto, das 8h às 18h
Onde: Travessa Antônio Baltazar Monteiro, em São Caetano de Odivelas
Quanto: Aberto ao público

(Lais Azevedo/Diário do Pará)

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