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Autoras paraenses levam suas produções à Feira Literária de Paraty

A Festa Literária de Paraty - Flip 2018 encerra neste domingo. Em sua programação (desde o ano passado marcada pelo aumento no número de autoras mulheres, da maior participação de escritoras e escritores negros e de editoras de pequeno porte), conta com a

A Festa Literária de Paraty - Flip 2018 encerra neste domingo. Em sua programação (desde o ano passado marcada pelo aumento no número de autoras mulheres, da maior participação de escritoras e escritores negros e de editoras de pequeno porte), conta com a participação de três paraenses. Entre elas, Suelen Carvalho, que realizou na última sexta, 27, o relançamento de seu livro “O Passado é Lugar Estrangeiro”, e hoje, às 16h, participa de uma mesa sobre os desafios da primeira publicação.

Lançado por uma editora independente, a Patuá, naturalmente o livro acabou seguindo um caminho diferente comparado ao que ocorre com os das grandes editoras, com uma maior estrutura de marketing e distribuição. “Ele teve uma recepção muito positiva. Apesar de não ser encontrado em todas as livrarias de Belém, apenas na Fox, a primeira tiragem esgotou. Ele recebeu duas resenhas de críticos reconhecidos, que se dedicam à literatura brasileira contemporânea, despertou interesse de clubes de leitura e vai fazendo esse caminho um pouco mais lento”, pontua a autora.

Entre os desafios que acompanham a primeira publicação de um escritor, Suelen destaca a busca por alguém disposto a ler originais e de apresentar seu trabalho de forma que desperte interesse. “Às vezes, a gente não tem o material pronto - eu falo por experiência própria - e já quer mostrar para as pessoas. É muito importante que a gente trabalhe, reescreva. Quando a gente tem um trabalho ainda pela metade e fala com um editor, queima uma oportunidade de apresentá-lo da melhor forma possível”, orienta.

Levando seu trabalho até a feira literária mais conhecida do país, a escritora tem expectativas muito positivas. “Fazemos vários encontros com leitores, outros escritores e isso gera grande interesse sobre o livro. Minha expectativa é essa: que o livro faça bons encontros na feira”, diz. O mesmo vive Gabriela Sobral, com seu livro de poemas “Caranguejo”, lançado em 2017, também pela Patuá. A editora paulista montou uma programação junto a outras editoras independentes em um espaço chamado “Casa do Desejo: Literatura que Desejamos”, reunindo vários autores.

“Acho importante ter essa diversidade dentro de uma feira literária como a Flip. Não só os grandes autores, consagrados”, comenta Gabriela. A terceira autora a colaborar com essa diversidade que representa a literatura paraense na Flip é Paloma Franca Amorim, atuando na programação da chamada “Casa Libre e Nuvem de Livros”, da Liga Independente Brasileira de Editores. Na última sexta, inclusive, ela participou de uma mesa sobre a democratização e inclusão nos festivais literários.

“Nessa mesa eu falei sobre a ‘Feira Pan-Amazônica do Livro’, que foi uma questão levantada por mim há alguns meses, sobre a ausência de paridade entre autores amazônidas e os de fora, ausência de mulheres, ausência de autorias indígenas e negras, ausência ou baixa proporcionalidade”, conta Paloma.

Suelen Carvalho relançou seu romance de estreia na sexta-feira, e hoje participa de uma mesa sobre os desafios da primeira publicação (Foto: Walda Marques)

Gabriela Sobral, com seu “Caranguejo”, de poesias, participa de um espaço que reúne diversos autores de editoras independentes (Foto: Divulgação)

Relação com a escrita e o papel de uma escritora

A Flip homenageou, nesta sua 16ª edição, a escritora Hilda Hilst, brasileira que fez sua literatura em torno de temas como o amor, a morte, Deus, a finitude e a transcendência. Ao ser questionada sobre sua relação com a escrita, Suelen Carvalho destacou que, tendo em mente tal referência para a literatura feita por mulheres, a melhor forma de responder a essa pergunta é dizer que sua minha escrita está muito ligada ao desejo de contar histórias, de narrar, de um ponto de vista de quem nasceu em Castanhal, no Pará, na Amazônia. “Quem escreve, escreve a partir de um olhar. É esse desejo que realizo na escrita, de contar um olhar”, diz ela.

Gabriela Sobral, que tem uma relação com a escrita desde a infância, conta que não se imaginava como uma escritora, retomando-a como ofício há quatro anos. “Acho que é uma relação de existência mesmo, do que eu quero comunicar para o mundo”, define. Além disso, ela destaca que o cenário atual tem tornado sempre difícil desvincular o ofício de questões político-sociais, entre elas, mais espaços para que mulheres escritoras mostrem seu trabalho e sejam mais lidas.

“Não é que você busque uma essência feminina na escrita, mas é importante ocupar esses lugares. O meu papel como escritora vejo muito como esse, de participar dessa movimentação, para que mais mulheres tenham representatividade nesse campo do conhecimento”, destaca Gabriela. Diante dos impactos causados no sentido das discussões sociais, culturais, de inclusão, analfabetismo, Paloma observa que vem gastando mais de seu tempo criativo produzindo discursos que ficção. “Eu quero mudar muito em breve esse panorama… Mas tem um paradoxo aí: eu não consigo produzir se o mundo estiver uma porcaria, então, é como se eu não tivesse tempo, espaço e corpo suficiente para ser criadora e ativista, mas espero conseguir isso”, diz ela.

Feiras literárias devem ser cada vez mais democráticas e diversificadas

A proposta curatorial de Joselia Aguiar para a Flip 2018 - a segunda sob sua organização -tinha como meta uma “pesquisa ampla em busca de novas vozes, modos de ver e construir narrativas, combinar linguagens e inventar sentidos”, como declarou na abertura da festa literária. Como novidade, a intenção também de contribuir para a formação de plateias para feiras literárias, a formação de leitores capazes de compreender linguagens e sentidos.

As paraenses que acompanharam tudo de perto, concordam com esse movimento de mudança e atualização desses eventos.

“A feiras literárias têm um papel importante de várias maneiras. O primeiro é a aproximação das pessoas com os livros, incentivar a leitura. E quanto mais um país tem leitores e escritores, mais ele é democrático. E quando eu falo ‘mais’, não é só quantidade, eu falo de diversidade, de ter representatividade, mais mulheres, diferentes regiões, classes sociais, homens e mulheres negras”, afirma Suelen.

Com relação a isso, nos últimos dois anos, ela considera que a Flip deu um passo muito grande, com mais representatividade. “Por isso acho muito importante destacar que não é só uma escritora paraense na Flip, tem a Paloma e a Gabriela, e estamos aqui tornando a feira literária mais diversa”, completa, feliz.

Para Gabriela não é preciso descartar o papel das feiras literárias como grandes vitrines, mas o aspecto do encontro também fundamental. “Você olhar um autor que admira, que ainda não conhece, trocar com essas pessoas, ver o que é essencial para fortalecer sua atividade, vê-la como possível... Também criar diálogos sobre a literatura, no Brasil, que é um país de pouquíssimos leitores. Eu me sinto esperançosa de olhar para a plateia e ver uma diversidade em relação a esses lugares antes ocupados por pessoas que já são consagradas”, comemora.

Paloma não descarta também que as feiras são um espaço para vender livro, para as editoras pequenas, para revelar novos autores, com a perspectiva da remuneração do trabalho desses escritores. “O autor tem que vender livro para pagar suas contas, escrever é um trabalho como qualquer outro”, ressalta. E, por último, ela lembra que ainda são poucas as paraenses na Flip.

“E nós estamos dispersas, pois não existe uma mesa dedicada à literatura amazônica, porque parece que literatura amazônica não existe no restante do Brasil. Nem na própria Amazônia parece existir. Muito legal eu estar aqui, mas existe uma solidão ainda. Encontro minhas parceiras, mas não estamos dialogando do ponto de vista político, literário, ético, estético, não existe um espaço para isso ainda. Tem outros autores paraenses aqui, uns cinco ou seis, o que é muito pouco na verdade”, finaliza.

OBRAS

“O Passado é Lugar Estrangeiro” - Suelen Carvalho
Diana, a protagonista do romance de estreia da jornalista paraense Suelen Carvalho, é castigada pela descoberta de um segredo perturbador no computador do marido e de um passado que acredita poder formatar.

“Caranguejo” - Gabriela Sobral
“É dolorido criar defesas, andar para trás, recolher garras, e somar tudo isso ao estômago”. Memórias, idas e retornos estão presentes nas 38 poesias que compõem o primeiro livro da paraense Gabriela Sobral.

“Eu Preferia Ter Perdido um Olho” - Paloma Franca Amorim
O livro reúne 52 textos que Paloma publicou em colunas semanal em Belém. É intensa a abordagem analítica que ela faz sobre variados temas: inocência, crueldade, descobertas, maturidade, incidentes da vida, Deus, morte e amor.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)

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