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Cinco projetos paraenses estão na seleção do Itaú Cultural

Em meio ao período caótico que a economia do país vive, uma boa notícia no meio das artes. Foi anunciada na manhã de ontem, em São Paulo, a relação dos 109 projetos selecionados pelo programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018, que vem a cada edição se consoli

Em meio ao período caótico que a economia do país vive, uma boa notícia no meio das artes. Foi anunciada na manhã de ontem, em São Paulo, a relação dos 109 projetos selecionados pelo programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018, que vem a cada edição se consolidando como a maior plataforma de patrocínio a projetos culturais do país e irá investir o cabalístico número de R$ 15.555 milhões nos projetos. Ao todo, foram 12,6 mil inscrições, das quais 264 foram de projetos oriundos do Pará. Deles, cinco foram aprovados. Ainda há outros cinco projetos com proponentes de outros estados que têm o Pará como local de impacto de suas ações.

Entre os paraenses, uma das boas notícias é que Mestre Vieira ganhará um amplo inventário de salvaguarda e difusão de sua obra, com pesquisa, documentação e um songbook, e o Trio Manari, que este ano completa 18 anos, fará seu primeiro DVD.

A Usina Contemporânea de Teatro comemora 30 anos de palco com a circulação de quatro espetáculos teatrais de temática amazônica ao longo de um trajeto de mil quilômetros entre Belém e Santarém, visitando um total de 12 cidades às margens do Rio Amazonas. Além da apresentação dos espetáculos em si, a “Mambembarca” do Usina também prevê atividades pedagógicas chamadas de “Para Pensar um Teatro da Floresta”.

Da área da fotografia, Luiz Braga, com seu “Paisagem Ribeirinha de Belém – Uma Paisagem de Resistência”, e Guy Veloso, com “Penitentes – Dos Ritos de Fé e Sangue do Brasil Profundo”, estão entre os selecionados. Com o “Rumos”, Guy fará a edição do livro que reúne imagens de seus 15 anos de pesquisa e documentação de manifestações religiosas. Já Luiz Braga retornará, 30 anos depois, ao universo ribeirinho que se conecta ao início de sua carreira.

Entre os projetos selecionados de outros estados que têm o Pará como um dos focos, está “A Linha Imaginária que Percorre o Coração do Brasil”, projeto de Anderson Astor Schiwingell, do Rio Grande do Sul, que prevê uma viagem de bicicleta dele próprio e de Túlio Pinto, ambos artistas visuais, de Belém a Laguna, em Santa Catarina, por cerca de 90 dias, em um período de imersão em diferentes realidades, tendo a fotografia como ferramenta documental dessa viagem.

O Grupo Ninho de Teatro, de Crato, no Ceará, completa 10 anos com uma proposta de circulação do espetáculo “Poeira” e intercâmbio com mestres da cultura popular de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Belém. Intercâmbio também é a proposta de “Hip Hop Caboclo”, de Wagner de Oliveira, de São Paulo, que colocará um estúdio móvel para circular em expedição pelo Norte – incluindo o Pará - e Nordeste, “registrando sonoridades oriundas das manifestações tradicionais afro-brasileiras” que são a matriz das métricas e poética do rap, e o resultado será apresentado em um minidocumentário e um CD. Outro projeto que vai passar por aqui é “Palhaço Surddy”, circulação do espetáculo solo de clown do ator surdo Igor Rocha com tradução para libras. Do Rio de Janeiro vem ainda “Travestis Itinerantes”, que se propõe a ser um “percurso festivo, poético e artístico” prevendo apresentações e contato com artistas locais e trazendo o tema da cultura trans para o foco.

Mapeamento espelha cultura do país

Eduardo Saron, do Itaú Cultural, durante o anúncio dos selecionados deste ano: cada vez mais propostas que mesclam diferentes linguagens artísticas (Foto: Ophelia/Divulgação)

Entre os projetos aprovados pelo Rumos, percebe-se que a derrubada de barreiras delimitadas por linguagem artística é uma das realidades da produção contemporânea que já virou uma marca do projeto de algumas edições para cá. Há, só para ficar nos projetos paraenses ou que circularão pelo Pará, projeto de música que prevê documentário; teatro, que prevê atividades pedagógicas; fotografia, que prevê livro, entre outros.

“Termos rompido há três edições esse modelo rígido da maioria dos editais, de que artes visuais só dialoga com artes visuais e assim por diante, fez com que a gente tivesse uma eclosão com essa diversidade e, ao mesmo tempo, estivéssemos abertos a ir além a que cada expressão considera natural”, comemora Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, que anuncia que agora, passada três temporadas neste novo formato de projetos híbridos e com diversas ramificações, o grupo se debruçará em traçar uma série histórica, que se propõe a entender essa cena cultural contemporânea brasileira.

“Ao olharmos os 40 mil inscritos ao longo desses anos, vamos olhar a partir dessas especificidades. Afinal, quais as questões que continuam sendo complexas no fazer cultural? Talvez não tenhamos o mapeamento exclusivo por linguagem, como fazíamos na época do ‘Rumos Artes Visuais’, ‘Rumos Dança’, etc., mas vamos nos debruçar em analisar aspectos mais técnicos dessas reais condições. Por exemplo, o chamado ‘custo amazônico’ desse fazer cultural deve aparecer de forma intensa. Vamos fazer algumas publicações, mas os temas vão depender da dinâmica. Certamente no ano que vem teremos não só a presença dos 109 projetos apresentando seus resultados, mas todo esse backstage sendo revelado por meio dessa publicação ou dessas publicações”, antecipa Saron.

Um dos aspectos que deverá estar neste amplo mapeamento é o perfil dos proponentes. Só nesta edição, por exemplo, muitos projetos nasceram de municípios do interior brasileiro (21 dos 109 aprovados), 51% têm proponentes mulheres e há diversos com forte protagonismo de negros e indígenas.

“Por muitos anos o paradigma maior do fazer cultural de uma política pública era a democratização do acesso. É claro que isso continua sendo importante, precisa estar presente, mas esse não pode ser o principal paradigma, meta, atual. Para nós, o principal é a participação. Não estou inventando moda ou história, isso já está dito em alguns documentos internacionais sobre direitos culturais. Mas ao olhar índios propondo seus próprios projetos, mulheres falando de suas próprias questões, negros trazendo projetos e sendo acolhidos de forma cuidadosa, quando você vê o objeto do trabalho sendo sujeito da proposição, isso é a mais nova referência da ação artística, que é a participação”, comemora Saron. “O ‘Rumos’ não é edital de patrocínio, para dar dinheiro ao artista e apresentar o resultado. É um edital de parceira e muda totalmente a lógica do fazer cultural, quando este projeto é quase encubado dentro do Itaú Cultural e há uma relação permanente de parceria”, diz. “Por isso essa necessidade de analisar esses quase 40 mil inscritos. Certamente temos a responsabilidade de analisar a maior amostragem do desejo da produção cultural brasileira dos últimos tempos. Oferecer reflexões sobre isso também é algo importante para nós”, justifica.

Propostas consistentes deram trabalho aos selecionadores

A salvaguarda da obra de Mestre Vieira foi um dos projetos contemplados (Çuciana Medeiros)

Pelo atual formato do “Rumos”, os projetos inscritos passam por uma pré-seleção e, depois, pela análise mais profunda de uma comissão mista feita por profissionais de diversas áreas artísticas e regiões do país. Sem segmentação por linguagem, o desafio da escolha é ainda maior e tira os especialistas de suas próprias zonas de conforto. “A dificuldade de julgar projetos tão diversos, especialmente nesse formato que você tem um guarda-chuva imenso, é que a tarefa, ao fim, ao fundo e ao cabo, é comparar o incomparável. Você pega um projeto de pesquisa em música para comparar com outro de circulação em teatro. Você pega um projeto de circulação de teatro no Norte e compara com outro de circulação pelo Sul e Sudeste, que têm realidades completamente diferentes. Aí, em cada campo precisa ver o que emerge de mais singular, o que tem mais importância do ponto de vista estético e político, e vai resgatando desse grande guarda-chuva”, analisa o paraense Kil Abreu, jornalista, crítico e pesquisador de teatro, que reside há mais de 20 anos em São Paulo, e que fez parte da comissão de seleção.

“Na área de música, por exemplo, você tem o inventário do Mestre Vieira, artista importantíssimo que nos deixou há pouco tempo, sendo contemplado ao lado da dramaturgia de pesquisa regional do grupo Usina de Teatro, que vem com uma argumentação muito fundamentada e, quando fala de regionalismo, se apropria do ponto de vista científico, da teoria teatral, para se propor a devolver o imaginário da dramaturgia de Dalcídio Jurandir pelo interior do Pará”, analisa. “Você tem, entre os aprovados, Luiz Braga se voltando ao princípio de sua vida profissional, e Guy Veloso propondo algo que é fruto da pesquisa de uma vida toda, de prospecção estética de um ponto de vista fotográfico de manifestações religiosas. Esses projetos são todos muito representativos e foram aprovados por
mérito”, pontua.

(Esperança Bessa, Editora do Você)

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