'Verparacuri' em cena hoje

A atriz Vandileia Foro cresceu em Icoaraci, distrito de Belém. Em suas memórias, o artesanato em barro trazem de volta a mãe. Para revisitar esse cenário da paisagem e do afeto, ela começou a pensar numa maneira de juntar sua profissão às peças que são a marca da Vila Sorriso. Assim surgiu o espetáculo “Verparacuri”, em que atua junto às peças confeccionadas a partir de cerâmicas. Contemplada com o Prêmio de Pesquisa e Experimentação Artística/Edital Seiva 2017, a peça será apresentada hoje e no próximo dia 25, no Casarão do Boneco, no bairro da Cidade Velha.

“São duas coisas que estão muito imbricadas na minha vida. Sou desse lugar, de Icoaraci, e durante a minha infância até a fase adulta essas cerâmicas fizeram parte da casa da minha mãe. Tinha um primo que as levava para casa. De um tempo para cá comecei a ter vontade de voltar para lá, isso vinha me perseguindo. E também porque comecei teatro no Liceu de Artes do Paracuri. A pesquisa do prêmio é essa possibilidade do retorno e de imaginar de que forma eu poderia dar vida a essa peça, que é rígida, mas tem cores e histórias”, comenta a atriz.

A ideia de ressignificar a cerâmica do Paracuri - bairro de Icoaraci conhecido como polo de produção das peças de barro - através do teatro de formas animadas fez com que a atriz-pesquisadora buscasse cenas do cotidiano nas olarias, nas vidas dos artesãos, das próprias peças e da iconografia das cerâmicas. Isso a fez ver que a própria dinâmica de produção desta cerâmica é hoje dispersa e não há uma retratação fiel do que se fazia antigamente, mas sim um diálogo. “A cerâmica do Paracuri trabalha com arte rupestre, marajoara, tapajônica. E esses foram os motivos que me levaram a fazer um trabalho cênico. É um elemento que mistura várias artes com muita criatividade”, explica.

Na peça, ela usa esses elementos para interagir com o público e com os próprios objetos, ora enrolada em vasos ou outros elementos que, seja pela cor ou pelo formato, remetem às suas memórias de criança. “É uma forma de trazer o ator à cena. Contemporaneamente, o teatro de formas animadas está para além dos bonecos e manipular objetos e dar sentimento a eles. Enquanto artista e atriz, pude ir para a cena e utilizar as ferramentas para desenvolver esse trabalho, dialogando com a performance, teatro biomecânico, mímesis, brincando com o nosso fazer”, explica.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)