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Escurinho, do rock à embolada sem escala

Pernambucano de Serra Talhada, o compositor, cantor e percussionista Escurinho teve sua formação musical a partir da convivência com a cultura de rua e as manifestações populares do interior do Nordeste. Em Catolé do Rocha (PB), para onde emigrou na décad

Pernambucano de Serra Talhada, o compositor, cantor e percussionista Escurinho teve sua formação musical a partir da convivência com a cultura de rua e as manifestações populares do interior do Nordeste. Em Catolé do Rocha (PB), para onde emigrou na década de 1970 – em plena ditadura militar –, fundou com alguns amigos, entre eles o cantor Chico César, o grupo Ferradura. Com este, circulou por festivais do sertão paraibano.

Décadas depois, já com dois discos lançados e seu primeiro DVD, em 2006, realizou shows na Espanha, Bélgica, Suíça e Itália acompanhando o amigo paraibano, parceiro até os dias atuais, como ele conta ao Você, em entrevista concedida durante sua passagem por Belém para uma oficina de percussão e dois shows.


P - Falam que sua formação musical vem da infância, quando acompanhava seu pai, que se apresentava cantando em festas e na convivência com as manifestações populares do interior do Nordeste. É isso?

R Meu pai não era profissional de música, mas como o cara boêmio que era, gostava de música. E assim a música entrou na minha vida através dele. Foi tudo naturalmente. Além da minha família gostar, tinha uma coisa do movimento estudantil, na década de 1970, no Brasil inteiro se via uma mobilização pela luta dos estudantes, camponeses, todo mundo queria mudar, reorganizar o país. No interior da Paraíba isso era muito forte. Foi um período em que festivais de música fervilhavam em todo o país. Minha entrada na música foi pelos festivais, com o Ferradura. Ali eu tocava percussão.

P - Como nasceu o Ferradura?

R - A gente já tinha cada um seu envolvimento com a música, inclusive o Chico César, apesar de ser bem novinho. A própria movimentação cultural levou a gente a se reunir, a querer fazer música. A gente nunca compôs pensando em festival, mas como tinham muitos, a gente começou a ir participando e tendo grande representatividade neles. Durante o tempo que o grupo durou, a gente tocava mais em festivais que em bares ou casas de show.

P - Você falou sobre essa efervescência jovem, dos festivais em tempos de ditadura. Você sente falta dessa movimentação que existia? Das músicas contestadoras?

R - Hoje a gente está voltando a viver uma coisa parecida. A sociedade voltou a ficar insegura. Vejo muitos artistas vestindo a camisa forte que é a internet. Por um lado é bom, permite reunir pessoas do mundo todo em torno de um questionamento, mas ao mesmo tempo torna tudo muito individual, as pessoas se fecham muito ali e não estão mais se reunindo na rua. Na década de 1970 até começo de 1980, as coisas eram difíceis por causa da ditadura, mas as pessoas costumavam se reunir mais, discutir juntas. Grupos formados na rede funcionam, mas se não tem discussão, não tem reação na prática, o país fica entregue, afundando.

P - As músicas que eram do Ferradura, daquele período, ainda costumam permear o seus shows?

R - Agora recente, depois de 30 anos, o Chico César reuniu o Ferradura em Pernambuco e retomou o repertório. Era um show que ele queria fazer pra ajudar uma instituição beneficente. Quando nós levamos ao palco aquelas canções 30 anos depois, foi incrível, parecia coisa atual. As músicas ainda fazem sentido hoje. No meu repertório, não toco, mas tenho vontade, o público gostou muito. Até surgiu a proposta de, quem sabe, circular pelo país. Não sei, quem sabe ele revolve fazer algo assim algum dia...

P - Como percussionista você também colaborou com o projeto de vários artistas em estúdio. Tem algum que você considere especial?

R - Eu adoro estúdio, apesar de que estive por ali mais no intuito de participar de discos de colegas, amigos de quem sempre fiz questão de estar perto do processo de produção. Acho que estúdio é a igreja do músico. Tem um disco muito importante em que trabalhei na produção, o “Alumiação” (1996), da Cia. Carroça de Mamulengos, uma família que faz teatro pelas ruas e praças do país. Outro foi o disco de Chico César em que eu participo da música “Sumaré” – me deu uma “gastura” grande. E o “Respeite Meus Cabelos Brancos”, também do Chico. Além disso, tem muitos artistas pela Paraíba, com uma menina, a Maria Juliana, hoje fazendo turnê pela Europa, que gravou música minha.

P - Você é um pesquisador de ritmos brasileiros, esse encontro com outros artistas ajuda nisso também?

R - Quando chamam a gente para participar de um projeto, o artista tem uma investigação dele também e que acaba somando com meu trabalho. São experiências a mais. Além disso, quando a pessoa chama é porque ela confia em você, a gente na música só trabalha com quem a gente gosta.

P - Você costuma agregar ritmos como o forró de baião, o maracatu e o coco de embolada ao rock e outras experimentações. Como nasceu essa vontade de misturar tantas coisas?

R - Isso revela o cotidiano da gente. A gente cresceu tendo que ouvir rock, música que foi imposta, vinda lá de fora, e que acabou funcionando. A juventude do mundo todo cultua como forma de se expressar, de rebeldia, de fazer diferente. Como naturalmente a gente também convive com as raízes, quando as músicas são realizadas, vêm com essa resposta. Candomblé, maracatu, forró, rock estão juntos. Nossa vida é isso. A gente gosta de Beatles, Bob Marley, Emerson, Lake & Palmer, Led Zeppelin, mas também de Luiz Gonzaga. É a nossa vivência. Eu podia até negar isso e fazer só rock ou só tradição, mas o que eu proponho é essa diversidade, fazer tudo sem forçar a barra. Guitarra com o coco de embolada é natural na minha música.

P - Com uma oficina de percussão e dois shows em Belém na última semana, como você se sentiu tocando aqui? A receptividade foi boa?

R - Fiquei tão surpreso com a receptividade, a compreensão as pessoas com a minha música! Na oficina foi impressionante como todo mundo absorveu o trabalho. Os dois shows foram muito bons. Se eu tiver a oportunidade, quero voltar com banda. O show que fiz em Belém, o “Música Nua”, é sem muito instrumento, só percussão e violão. Gostei muito. Se der para voltar, sem banda mesmo, eu volto (risos).

(Lais Azevedo)

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