plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 28°
cotação atual R$


home
_

Espetáculo teatral tem palafita como metáfora

A casa sobre sobre as águas, comum na paisagem ribeirinha da região amazônica, é metáfora do espetáculo teatral “Palafita”, do grupo Fuzuê, do Ceará: suspensa em meio líquido, desafia a estabilidade e denuncia a precaridade da moradia. Da mesma forma, a m

A casa sobre sobre as águas, comum na paisagem ribeirinha da região amazônica, é metáfora do espetáculo teatral “Palafita”, do grupo Fuzuê, do Ceará: suspensa em meio líquido, desafia a estabilidade e denuncia a precaridade da moradia. Da mesma forma, a montagem tem como mote principal esse equilíbrio entre pés e mãos, num contínuo de movimento corporal. Selecionado para o projeto “Palco Giratório 2017”, a peça abre a temporada deste ano em Castanhal hoje, com entrada gratuita. Belém recebe o espetáculo na sexta-feira, 28.

Edmar Cândido, diretor teatral e intérprete, explica que a abordagem se deu a partir da observação da própria vida das pessoas nesses ambientes flutuantes. “O principal desafio foi elaborar uma linguagem própria com o corpo e que remetesse ao assunto que queríamos abordar. Optamos por uma estética crua que se aproximasse de alguma forma a dois ribeirinhos. Não é que criamos estes personagens, mas essa ‘representação’ ocorre como se estivéssemos contando uma história sobre corpos e com os corpos. Há uma fisicalidade que, apesar de simples, é essencial para tecermos esta dramaturgia”, diz.

Para a cenografia, e para condizer com a proposta conceitual da peça, os atores trabalham com poucos recursos de luz e adereços, para que o corpo do artista se sobreassaia. Cândido acredita que o recurso funciona como uma espécie de transgressão à narrativa linear clássica das peças teatrai, e pensa o próprio corpo como instrumento e objeto - um dispositivo que não sinaliza início ou fim do que está sendo apresentado.

“Estas ordenações temporais são relacionais e dependem muito do olhar e da narrativa que se forma em cada indivíduo que assiste à obra. Trazer o corpo como dispositivo, muitas vezes é permitir que o outro crie suas próprias conexões com a proposição. Por mais que o trabalho tenha um argumento lógico para o intérprete, teremos que admitir com os nossos corpos que os símbolos chegarão de maneira particular em cada corpo que compartilha o espaço da apresentação. As pequenas narrativas neste espaço dizem muito”, explica, levando em consideração que apresentar o espetáculo em uma cidade ribeirinha como Belém, cercada de ilhas, será uma experiência diferente. “O Pará, o Norte em especial, está sendo bastante aguardado. As imagens das palafitas no espetáculo chegarão a este público de uma maneira totalmente diferente dos outros lugares e acreditamos que esta relação habitual com este tipo de moradia nos fará acessar experiencias muito especiais”, festeja.

A ideia de utilizar a palafita como elemento significador dessa proposta surgiu a partir de estudos técnicos com o próprio corpo, no fazer teatral, além de que a imagem da casa ilustra bem este desejo conceitual. “Acreditamos que toda imagem é dotada de algum discurso, e muitas vezes elas falam por si só. É como se buscássemos o assunto do qual queremos tratar na própria forma. No caso da palafita, surgiu a imagem da casa suspensa, então o próximo passo era atribuir à forma o conceito pessoal desta moradia, surgindo uma metáfora que atribui à imagem proteção e resistência pela busca de alguma estabilidade, equilíbrio”, explica.

E se observarmos a cidade em que a peça foi criada, isso sinaliza ainda a falta de rios perenes na região nordestina: como inspiração, veio a região de dunas chamada Sabiaguaba e a palafita da peça, ao invés dos rios, surge nas areias das dunas, que se movimentam e se deslocam constantemente, ao sabor do vento.

“Palafita” é um dos 31 espetáculos desta edição do “Palco Giratório” (Foto: Davi Pinheiro/Divulgação)

Projeto de circulação teatral completa 20 anos

A proposta do espetáculo “Palafita” sinaliza de uma forma micro a própria essência do projeto “Palco Giratório”, que este ano completa 20 edições ininterruptas como um dos maiores projetos de artes cênicas do país, envolvendo ainda arte circense, dança e outras linguagens correlatas, para o pensamento sobre o fazer artístico e reflexões sobre as práticas de diferentes regiões do país, num verdadeiro intercâmbio cultural. A primeira edição ocorreu em 1998 e expandiu-se para um projeto maior, e hoje já soma mais de nove mil apresentações.

“O fato de ter essa continuidade durante essas quase duas décadas é fundamental para que o projeto tenha um diferencial em artes cênicas, já que vemos outros projetos bons, mas que acabam por questões políticas, como a mudança de governantes, ou de patrocínio. Essa continuidade permitiu a formação de um público e nos fortaleceu”, avalia Raphael Vianna, técnico do Sesc no Rio de Janeiro, informando que, este ano, o “Palco Giratório” ocorre em todos os estados, com 20 grupos e 31 espetáculos.

Ele destaca ainda que o caráter de formação de novos espectadores é uma das missões do projeto, bem como a formação dos próprios grupos artísticos, que, com a itinerância por outros estados, realizam cursos, palestras e workshops, proporcionando uma abordagem de pensamento cênico. Para participar não há edital, e o Sesc mantém um grupo de 32 curadores, inclusive em Belém, que são responsáveis por observar o movimento e a produção local.

“Buscamos pessoas que desenvolvam um pensar sobre as manifestações culturais, não só de mercado. Também estamos em contato com grupos de pesquisa, grupos que têm história de longa data em alguma localidade, ou que nem sejam tão antigos, mas tenha potencial. Não é só um circuito de difusão de espetáculos, mas de ideias e de pensamentos. É isso que a gente pretende com o ‘Palco’: criar essa política de descentralização das produções culturais, para fora do eixo Rio-São Paulo”, conclui.

VEJA

“Palco Giratório” apresenta o espetáculo “Palafita”, do Grupo Fuzuê (CE)
Quando: Hoje, às 19h
Onde: Sesc em Castanhal (Av. Barão do Rio Branco, 10 – Nova Olinda)
Quanto: Gratuito
Quando: Sexta, às 19h
Onde: Sesc Boulevard (Boulevard Castilhos França, 522/523)
Quanto: Gratuito, com ingressos distribuídos a partir das 18h

Oficina “Corpo, Imagem e Sobre o Peso”
Quando: Sábado, 29, das 14h às 20h
Conteúdo: A partir das técnica da acrobacia combinada e do contato de improvisação, serão propostos jogos e procedimentos para a investigação corporal, explorando o peso do outro como estudo de composição das cenas
Onde: Centro Cultural Sesc Boulevard (Boulevard Castilho França, 522/523)
Classificação: a partir de 15 anos
Inscrições: Gratuitas, até amanhã, no local

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em _

Leia mais notícias de _. Clique aqui!

Últimas Notícias