As letras coloridas dos pintores tradicionais da Amazônia, seja nos barcos ou muros ou faixas, constituem uma importante referência da nossa estética popular. Essa tradição está sendo mapeada pelas designers e pesquisadoras Sâmia Batista e Fernanda Martins por meio do projeto “Letras Q Flutuam”, do escritório Mapinguari Design. Esta semana, a equipe está na Ilha do Marajó para filmar o documentário da segunda etapa do projeto.
Após realizar o mapeamento em Belém e região, numa primeira etapa, agora Sâmia e Fernanda seguem para Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras, São Sebastião da Boa Vista e Curralinho para gravar entrevistas com os mestres abridores de letras, como são chamados os pintores que desenham as letras. Contemplado no Programa Amazônia Cultural e Rumos Itaú Cultural, o projeto desta vez leva os artistas de Belém para realizar um intercâmbio com os marajoaras. Em julho, o documentário que está sendo gravado será exibido à comunidade.
Fernanda Martins e Sâmia Batista com seu Castro, um dos abridores de letras de Soure, que participará como personagem do documentário (Foto: Desiree Giusti)
“A gente percebe que aqui [no Marajó] eles mantêm o estilo tradicional da letra, mais do que em Belém. Em alguns municípios, o grafite já está mais presente, com o crescente uso da pistola, e aquela forma detalhada e delicada dos letreiros começa a ser substituída pelo computador e grafite. Mas aqui a economia ainda é muito incipiente, a pintura manual é muito forte”, observa Sâmia Batista.
Ela revela ainda que há, no geral, um desinteresse por parte dos jovens e que a atividade do abridor de letras continua sendo realizada por homens mais idosos, mas que há por parte destes o desejo de repassar as técnicas da pintura manual. E essa diferença geracional também causa uma diversidade na visualidade das letras, já que agora há mais influências das marcas e das práticas gráficas realizadas por meio de computador.
“Os jovens querem ir para o computador e uma mensagem importante que queremos deixar é que esse jovem também está construindo uma nova linguagem, ao misturar tradição com influências que vêm de fora. Também perguntamos o que é o futuro e como essas novas ferramentas vão se manifestar no senso e tradição estética dessa geração?”, questiona a designer, enfatizando que as letras são patrimônio da cultura ribeirinha.
O projeto deve passar ainda por Santarém e pela região do Salgado paraense.
(Dominik Giusti/Diário do Pará)
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