Camapu abre ateliê para público

Proposta é que pessoas possam colaborar no processo de criação de espetáculo com bonecos no projeto dos artistas Sam Rodrigues e Nina Brito (Foto: Alexandre Yuri/Divulgação)

A arquiteta e cenógrafa Nina Brito passou sete anos atuando na construção de espetáculos teatrais. Para além de planejar o ambiente onde as peças se passavam, começou a ter curiosidade sobre a criação cênica. Foi assim que, ao lado do artista Sam Rodrigues, desenvolveu o projeto “Camapu”, para experimentar técnicas e pensar processos criativos nas
artes cênicas.

Com três anos de empreitada, os parceiros começaram a fazer marionetes, mas ainda assim não se consideram com tempo suficiente de aprendizado e querem compartilhar conhecimentos. Por isso, para montar o espetáculo de marionetes e stop-motion “O Conto das Duas Ilhas”, premiado no Edital Funarte de Teatro Myriam Muniz 2015, eles abrem as portas do seu ateliê, onde funciona também o teatro Roc Roc, no conjunto Jardim Sideral, no bairro do Coqueiro, em Belém, para demais artistas e também para interessados em conhecer o local.

Para os artistas, a conexão com o público visitante será fundamental para imprimir um tom mais personalista à produção. “Eu e o Sam não somos professores ou instrutores, não temos esse hábito, então trabalhamos e estudamos no ateliê fazendo mesmo, com muita experimentação, errando e refazendo, nesse processo. A ideia de chamar as pessoas é fazer um ateliê aberto, acompanhar, perguntar, lixar, vivenciar com quem estiver interessado em acompanhar a feitura dos materiais e também convidar os artistas da cidade para verem de perto a construção desse espetáculo. Queremos que o público possa olhar para uma pincelada, por exemplo, e dizer ‘eu fiz aquela parte’”, explica Nina.

Questões metafísicas em enredo delicado

“O Conto das Duas Ilhas” é baseado em um texto de Sam Rodrigues e conta a história dos bonecos Horácio e Marília. O enredo é sobre a vida e questões existenciais, metaforizadas na figura do boneco – na peça, eles se questionam sobre a sua forma de ter “vida”. É para falar sobre relações humanas, o que temos para oferecer ao outro.

“A partir disso criamos um universo imaginário onde as marionetes não sabem quem conduz os fios. O que faz eles viverem, o que os anima? Existe uma ilha chamada horizonte, e um dos moradores é o Horácio, que tem esses questionamentos dentro dele, quis saber de onde surgiu, quem o fez. Ele constrói veleiros e lança-se ao mar para saber. E tem a Marília, que eu manipulo, que envia uma semente para o Horácio, para que ele encontre as respostas que ele estava procurando”, adianta.

A metalinguagem também foi a maneira encontrada pelo grupo para referenciar o trabalho com pesquisa teórica. Nina revela que na literatura da área são escassos livros que abordem especificamente marionetes. Após a produção do espetáculo, o duo pretende publicar um caderno de anotações dos procedimentos já realizados.

“Isso foi uma percepção nossa enquanto a gente fazia cenografia também. Compramos muito material fora, então, vimos que podemos aprender com o outro e queremos passar o que já sabemos, por isso optamos pela prática da vivência. Você tem sua semente que vai me dar e eu quero dar a nossa semente”, idealiza Nina.

Visite

Para conhecer e acompanhar as atividades do projeto Camapu na montagem do espetáculo “O Conto das Duas Ilhas”, basta agendar uma visita pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone 98114-7149.

O atelier funciona no conjunto Jardim Sideral, no bairro do Coqueiro em Belém. O espaço fica aberto à visitação todos os sábados até 18 de fevereiro, das 10h às 17h

(Dominik Giusti/Diário do Pará)