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GERSON NOGUEIRA

Quando a razão fala mais alto

A torcida, com a alma empapuçada de emoção, costuma ver futebol com olhos que ignoram lógica e razão. Sob esse ponto de vista, a demissão do técnico Joao Brigatti e do auxiliar-técnico Alfredo Montesso anunciada domingo à noite pelo presidente do Papão fo

A torcida, com a alma empapuçada de emoção, costuma ver futebol com olhos que ignoram lógica e razão. Sob esse ponto de vista, a demissão do técnico Joao Brigatti e do auxiliar-técnico Alfredo Montesso anunciada domingo à noite pelo presidente do Papão foi recebida com espanto e preocupação. É compreensível. Afinal, torcedor costuma se preocupar com questões imediatas, como o clássico do próximo domingo, preferindo não observar situações de médio ou longo prazo.

Como os dirigentes precisam ter os olhos postos na razão, é necessário reconhecer que a diretoria do clube agiu acertadamente ao dispensar os trabalhos de Brigatti e seu auxiliar. Na entrevista concedida na manhã de ontem, o presidente Ricardo Gluck Paul foi didático nas justificativas do ato que à primeira vista pareceu uma decisão intempestiva.

Desmentiu categoricamente os boatos acerca de problemas de relacionamento e indisciplina no elenco ou de desavenças entre o técnico e o gerente de futebol. Foi claro e convincente na explicação sobre a decisão: os resultados obtidos por Brigatti no Campeonato Estadual não foram suficientes para esconder o desempenho errático e abaixo da expectativa. Ou em linguagem boleira: o time ganhava, mas não convencia.

Líder na classificação geral da competição, invicto há oito partidas contabilizando cinco vitórias, vencedor do Re-Pa pelo placar improvável de 3 a 0, o Papão de Brigatti parecia singrar águas tranquilas rumo ao título estadual da temporada. No entanto, a performance não foi suficiente para contestar as planilhas de desempenho que servem de balizamento para avaliação no clube.

O sistema, inédito no futebol paraense e raro no país, foi adotado no começo da gestão de Ricardo Gluck Paul. Consiste no acompanhamento de todos os jogos do PSC por um comitê de avaliação do trabalho, que se preocupa sempre em comparar planejamento e execução. A equipe de avaliação tem como membros o auxiliar Leandro Nieheus, o analista de desempenho Henrique Bittencourt, o técnico e o auxiliar técnico.

A análise de desempenho mapeia todas as fases de um jogo, incluindo organização (defensiva e ofensiva) e transição. A partida contra o Castanhal resultou no terceiro empate contra times emergentes e fez acender todas as luzes de alerta quanto às respostas que o time não dava em relação ao planejamento técnico.

O presidente detalhou as etapas do processo de avaliação, revelando que equívocos de natureza tática vinham sendo anotados e cobrados regularmente, principalmente nas partidas de pior desempenho. Observa que o torcedor não percebe certos detalhes, mas os profissionais especializados identificam os problemas – aliás, estão ali para isso mesmo. Desde que os erros passaram a se repetir, a diretoria decidiu não se contentar com resultados de início de temporada.

É inteiramente novo e surpreendente para boa parte da própria crônica esportiva local ver um dirigente de clube falando com profundidade e conhecimento sobre o funcionamento de um time de futebol. Só o envolvimento direto com o trabalho permite a coragem necessária para romper com um projeto que tinha sido iniciado em dezembro, logo depois do rebaixamento na Série B.

Na verdade, Ricardo avisou ao assumir o cargo que iria comandar de perto o futebol, adotando princípios baseados em planejamento e metas, de forma inteiramente profissional. A contratação de Felipe Albuquerque para gerenciar o futebol foi o primeiro passo nesse sentido e é inegável sua influência nas decisões que envolvem o futebol do PSC.

A questão do tempo também teve papel importante na ruptura envolvendo o trabalho da comissão técnica. Após o Parazão restará somente uma semana até o começo do Brasileiro da Série C, competição vista como prioritária. Portanto, qualquer mudança não poderia mais ser protelada.

As deficiências notadas na gestão de Brigatti começam a ser enfrentadas já nos treinos deste início de semana, sob o comando do auxiliar permanente Leandro Nieheus. As diretrizes serão repassadas ao novo técnico, que terá perfil de organização tática e capacidade de encontrar o padrão desejado para as competições da temporada.

Pelas características esboçadas na fala de Ricardo, o próximo treinador dificilmente será alguém da velha guarda ou um daqueles que recentemente passou pelo clube. Arrisco dizer que Junior Rocha e Léo Condé são os mais próximos do perfil delineado. A conferir.

As inacreditáveis mistificações do futebol paulistano

Poucas vezes se viu a mídia paulistana tão encantada com um jogador recém-chegado como com Junior Urso, volante temporão de 30 anos que zanzou pela Série B até o ano passado e agora está no Corinthians. Bastou assinalar um gol e distribuir uns três passes certos contra o Ceará, anteontem, para se tornar a nova maravilha do futebol nacional, segundo a ótica pachequista dos deslumbrados conterrâneos dos Demônios da Garoa.

É como se o simples fato de jogar por um dos grandes clubes de São Paulo fosse suficiente para entronizá-lo no panteão dos maiorais, mesmo tendo passado mais de dez anos rodando o mundo sem maior destaque. Vestir a camisa mosqueteira operou o milagre do reconhecimento tardio.

Nem bem baixou a empolgação com Urso, eis que surge novo alarido. Agora em torno de Danilo Avelar, jovem lateral-esquerdo repatriado pelo Timão e já alçado à condição de semi-craque (sim, isso existe na Paulicéia) pelos afoitos setoristas de Parque São Jorge.

Golzinho marcado domingo foi pintado como heroísmo e garantiu generosos espaços nos programas matinais que povoam a grade dos canais esportivos, com direito a repetições ao longo das edições do dia.

Alguém já disse lá atrás, com atilada sabedoria, que a imprensa – quando quer – tem o poder de evidenciar nulidades e obscurecer sumidades. A máxima se aplica perfeitamente a estes casos.

(Gerson Nogueira/Diário do Pará)

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